sábado, 13 de julho de 2013

A proliferação das “cristotecas” no Brasil

O fervor religioso dos católicos mais devotos não está em desacordo com a diversão. No Brasil, ambos se fundem nas “cristotecas”, festas de música eletrônica realizadas em igrejas onde o “electro house” se mistura com a catequese.

   A reportagem é publicada no sítio Religión Digital, 08-07-2013. A tradução é do Cepat.

As “cristotecas” ou “baladas santas” proliferaram em bairros pobres da periferia das grandes cidades, como Rio de Janeiro e São Paulo, proporcionando um poderoso instrumento para os religiosos levarem a mensagem da Bíblia aos mais jovens, uma vez que estes se divertem longe das tentações do pecado.

“Sabemos que a música tem um poder muito grande de penetrar o coração e quando essa música tem como objetivo anunciar uma boa notícia, que é a Palavra de Deus, não resta dúvida de que será eficaz na vida do jovem”, disse o DJ Vítor Sales antes de participar de uma “cristoteca” itinerante, na noite deste sábado.

No meio da fumaça branca, com uma Bíblia na mão, o DJ fez uma breve oração, benzeu-se e fez a abertura da festa, que aconteceu em um salão anexo à igreja Santa Bárbara e Santa Cecília, uma humilde paróquia no bairro carioca de Vigário Geral.

“A partir de agora, o céu irá se abrir e o inferno irá tremer”, bramou uma voz alterada como prelúdio do ritmo sincopado e envolvente do “electro house”, com louvores ao Espírito Santo, que irrompeu com um volume estrondoso na sala, e que também era ouvido na igreja vizinha, onde algumas mulheres rezavam.

No repertório de canções da “cristoteca” se encontravam temas com nomes tão sugestivos como “Dançando em Cristo”, “Veneramos Maria” e “Invade minha alma”.

O público, uma centena de jovens que em sua maioria não tinha mais do que 15 anos, dançou até meia-noite, numa festa que apenas se diferencia das mundanas porque não se permite o álcool, drogas ou os escarcéus sexuais.

Um pequeno grupo de colaboradores, devidamente uniformizados com uma camiseta azul, mistura-se com o público para advertir os adolescentes, caso ultrapassem alguma linha moral intolerável dentro de um templo católico.

“Algumas meninas se deixam levar pela música e são muito sensuais”, comentou uma voluntária da Igreja empenhada nesta tarefa policial.

Sales recordou que a origem destas festas eletrônicas remonta-se a 2003, por iniciativa de sacerdote conhecido como Padre DJ Zeton, então considerado como “ousado”.

“Eu conheci a “cristoteca” em um retiro espiritual em São Paulo. Fiquei encantado porque ouvi um DJ tocar a música católica e refleti: ‘Caramba! Isto é em minha Igreja! Então, é possível!”, relatou Sales.

A expansão do movimento levou os DJs a se unirem, em novembro de 2011, na Pastoral de Evangelização Noturna, um grupo criado sob a égide do episcopado brasileiro e que conta com 78 DJs inscritos, quase a metade deles no Rio de Janeiro.

Os DJs católicos também contam com um programa semanal na Rádio Catedral, transmissora oficial da Arquidiocese do Rio de Janeiro, que é conduzido por Sales. Muitos dos temas saíram da cabeça do produtor e DJ André Jordão, que explicou que às vezes adapta canções da Igreja, aplicando nelas uma “roupagem eletrônica” do agrado dos jovens, mas a maioria das vezes recorre à inspiração divina.

“A primeira coisa que faço é colocar-me em oração diante do Senhor, e peço-lhe que me dê uma orientação sobre o que deseja falar, a respeito de qual mensagem quer trazer. Nesse momento, sinto a proposta de Deus do que devo fazer”, afirmou Jordão.

O plano mais imediato dos responsáveis da “cristoteca” é usar o alto-falante da Jornada Mundial da Juventude, que será presidida pelo papa Francisco, entre os próximos dias 23 e 28, no Rio de Janeiro, para que a “missão da evangelização noturna chegue aos quatro cantos do mundo”, de acordo com as palavras de Sales.


Fonte: Ihu

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