"Muitas vezes as
pessoas acham que a ação de tirar uma criança da exploração resolve tudo, mas
essa criança precisa ser apoiada, precisa ter um apoio terapêutico, precisa ter
um acompanhamento, precisa reorganizar a sua vida, precisa aprender a se
expressar, a gostar de si mesma, ou seja, tem todo um trabalho focado na
subjetividade da criança".
Participante do Seminário "Adolescentes e Jovens
conectad@s por uma Copa sem violência sexual”, que começou hoje (11) em Olinda,
Pernambuco, Mario Volpi, que há 12 anos está à frente de projetos e do Programa
de Cidadania dos Adolescentes do UNICEF Brasil (Fundo das Nações Unidas para a
Infância) conversou com a AgênciaAdital e falou sobre como o organismo da
Organização das Nações Unidas (ONU) atua no enfrentamento da violência sexual
infanto-juvenil.
Ele disse que o Unicef tem apoiado os municípios a
desenvolverem políticas tanto de prevenção quanto de atendimento às crianças e
adolescentes, e citou a importância de trabalhar a proteção das vítimas, a
responsabilização do agressor e o fortalecimento da participação e mobilização
dos jovens na conscientização para sua própria autoproteção.
O Seminário é uma realização da Rede Ecpat Brasil, do Comitê
Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes e
Coletivo Mulher Vida e segue até amanhã (12). Confira a entrevista:
ADITAL – Como o Unicef tem acompanhado esse processo de
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes?
Mario Volpi – O tema do enfrentamento à exploração sexual no
Unicef sempre foi conduzido de forma a trabalhar com três aspectos. O primeiro
é a proteção da criança. Muitas vezes as pessoas acham que a ação de tirar uma
criança da exploração resolve tudo, mas essa criança precisa ser apoiada,
precisa ter um apoio terapêutico, precisa ter um acompanhamento, precisa
reorganizar a sua vida, precisa aprender a se expressar, a gostar de si mesma,
ou seja, tem todo um trabalho focado na subjetividade da criança que é muito
importante que os programas, as políticas públicas, os projetos aperfeiçoem, e
esse é um tema que sempre preocupa muito o Unicef porque tem a ver com o
desenvolvimento integral da criança. Um segundo conjunto de questões é a
responsabilização do agressor, isso também é um tema que envolve todo um
sistema de justiça, a responsabilização do agressor é um passo para enfrentar o
tema da impunidade, ele é um passo importante porque sem a responsabilização
você naturaliza isso, essa questão, e tem até uma certa tendência das pessoas
de dizer que o cara [agressor] é um doente, um animal, querendo excluir da
sociedade humana aquela pessoa como se fosse um caso isolado, como se não fosse
um ser humano e ele é, ele precisa ser responsabilizado, ele precisa responder
juridicamente e socialmente pelo crime que ele cometeu. E um terceiro campo é
de fazer um trabalho de fortalecimento da participação, da presença, de ouvir a
voz dos adolescentes, das crianças no trabalho de prevenção e de conhecimento
do próprio corpo, dos próprios limites pra criança também e para o adolescente
saber se proteger. Então, são três campos de atuação que ajudam a posicionar a
criança no centro deste processo, tanto pra ser apoiada, pra ser assistida,
quanto pra serem sujeitos pra ser aquela que faz a prevenção, que faz os
projetos de educação entre pais e adolescentes, dialogando com adolescentes,
então é nesse universo que a gente situa a atuação do Unicef nesse tema.
ADITAL – Quantos projetos no Brasil vocês apoiam de alguma
forma nessa área?
Mario Volpi – Na verdade a gente não tem apoiado projetos
isoladamente, nós temos apoiado muito os municípios a desenvolverem políticas
tanto de prevenção quanto de atendimento. Eu acho que depois da aprovação do
Estatuto (da Criança e do Adolescente) em 1990, e passados já esses 23 anos, o
Brasil constituiu uma rede de serviços. Hoje nós temos um sistema único da
assistência social, com serviços especializados inclusive para a proteção da
criança, então a ideia é muito mais fortalecer esses serviços para que o Estado
cumpra o seu papel, e o apoio a projetos, alguns projetos que a gente apoia no
país, a perspectiva é a de mostrar que é possível produzir novas abordagens,
novas metodologias, inovar, mas, o mais importante é que esses projetos têm um
caráter mais pedagógico de educar a sociedade de que é possível enfrentar esse
tema e também demonstrar para o governo que existem soluções. Mas a solução
passa mesmo pelos serviços de saúde mental, serviços de assistência social e
para uma grande tarefa educativa que está no sistema de ensino do país que
precisa incorporar esses temas no conjunto de conteúdos e materiais que se
aprende na escola.
ADITAL – Vocês estão apoiando esse Seminário. Vocês
acompanharam ou estão acompanhando a Campanha ANA?
Mario Volpi – Eu acho que esse tema aqui é muito importante,
nós apoiamos e achamos extraordinária essa ideia de os próprios jovens estarem
se mobilizando para criar uma consciência sobre a necessidade de a gente prevenir
processos de exploração sexual antes que eles aconteçam, que é essa ideia de
que todo mundo sabe que em espaço de grande circulação de pessoas, de grandes
obras que o país está desenvolvendo dos grandes eventos. Essa grande
mobilização de pessoas cria um espaço mais propício para a exploração sexual,
para a exploração do trabalho infantil e essa iniciativa da ANA de fazer esse
trabalho de mobilizar os próprios adolescentes, chamar a atenção do governo,
criar os mecanismos de proteção, capacitar os conselhos tutelares para atuarem
de uma forma específica nesse momento, criar um fluxo de procedimentos dentro
do Executivo, do Legislativo, do Judiciário, de todo o sistema de garantias,
acho que essa é uma tarefa muito importante, e esse encontro de hoje aqui vem
sistematizar todo esse trabalho que vem sendo feito. Acho que agora aqui é a
oportunidade de a gente dizer o que já está pronto para esses grandes evento e
o que falta ainda resolver e aqui discutir as soluções para esses temas que
ainda precisam ser abordados.
Fonte: Adital
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