Dados da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos
do Amazonas (Sejus) revelam um crescimento de 106,2% no número de denúncias de
tráfico de pessoas nos últimos três anos no Amazonas.
Somente em 2012, seis casos do tipo foram registrados pelo
Departamento de Direitos Humanos do órgão. As mulheres representaram 66,6% das
vítimas.
Conforme o livro ‘Tráfico de Mulheres na Amazônia’, das
professoras Márcia Oliveira e Iraildes Caldas Torres, a quantidade de
traficadas pode ser bem maior que os registrados oficialmente. As autoras
relatam a situação de 21 manauras na Europa em situação de exploração sexual.
Os dados oficiais da Sejus e a pesquisa das professoras
serão discutidos, nesta quarta-feira (6), em audiência pública na Câmara
Municipal de Manaus (CMM) que debaterá os casos de tráfico de mulheres na
capital.
Segundo a diretora do Departamento de Direitos Humanos da
Sejus, Michelle Custódio, do total de indícios notificados ao órgão no ano
passado, três tinham como finalidade o envio de manauaras para a Suíça e a
Itália. O quarto caso, classificado como tráfico interno por ser interestadual,
enviaria uma vítima do município de Barreirinha para Goiás.
A exploração sexual, com jornadas de 12 horas ininterruptas,
seguida pela exploração da mão de obra nas lavouras e o comércio de órgãos,
despontam como os principais segmentos que alimentam o tráfico de mulheres, de
acordo com a diretora.
“Às vezes é difícil configurar o crime, porque quando a
vítima consegue se libertar, a vergonha a impede de contar”, ressalta.
Ela destaca, porém, que após a abordagem do tema na novela
‘Salve Jorge’, as denúncias ligadas ao crime começaram a partir mais de
familiares e das próprias vítimas.
“Com a visibilidade, muitos parentes de desaparecidos já
chegam até a Sejus convencidos de se tratar de um caso de tráfico humano,
apesar de caber às autoridades policiais classificar”, contou.
Vítimas
No caso das mulheres, o Departamento de Direitos Humanos da
Sejus aponta a existência de dois tipos de vítimas, as de 18 a 25 anos de idade
que viajam para se prostituir sem saber que serão exploradas e as adolescentes
que partem iludidas com a promessa de trabalhar como modelo, cuidadoras de
idosos ou babá.
“O perfil é sempre o mesmo, mulheres de baixa renda, com
pouca escolaridade e que têm o sonho de conhecer outros países”, informou
Michelle Custódio.
Na lista de países que absorvem a mão de obra escrava para
fins sexuais, conforme a Sejus, estão Venezuela, Suíça, Itália, Holanda,
Guiana, Suriname, Espanha e o próprio Brasil, atualmente com o caso de duas
indianas vitimizadas que estão abrigadas sob sigilo em Manaus. Entre os
destinos nacionais despontam São Paulo, Goiás, Fortaleza e Pará.
Além das delegacias, as queixas de tráfico de pessoas podem
ser feitas ao Disque 100, ao Núcleo Estadual de Enfrentamento ao Tráfico de
Pessoas (3215-2736), ao Disque 180 ou aos conselhos tutelares, no caso de
menores de idade.
Com 33 denúncias de tráfico de pessoas, entre 2009 e 2012,
contra apenas 16 entre 2002 e 2009, um incremento de 106,2%, nos últimos três
anos, a diretora explica que o tráfico de mulheres é um fenômeno relativamente
novo na pauta de discussões da sociedade amazonense, mesmo existindo desde a
época da colonização do Brasil. “Essa situação, infelizmente, é vista com muita
naturalidade pela nossa população. Um exemplo são as meninas vindas do interior
do Amazonas para trabalhar em casas de família”, afirmou.
Para ela, a prática vista por muitos pais como uma
oportunidade camufla apenas mais uma modalidade de trabalho escravo, punível
como crime de tráfico para exploração.
Atuando em parceria com mais de 33 órgãos federais,
estaduais e não governamentais, o núcleo estadual de enfrentamento ao tráfico,
além de receber denúncias, tem o poder de resgatar as vítimas em situação de
cárcere e privado.
Atualmente com sete postos avançados para enfrentamento ao
tráfico de seres humanos na capital e no interior, do total de 13 anunciados
pelo governo do Estado ao custo de R$ 14 milhões, a diretora afirma que a meta
é implantar as seis unidades restantes, até o final deste ano.
Livro retrata
exploração sexual
Uma das autoras do livro ‘Tráfico de Mulheres na Amazônia’,
que retrata a situação de exploração sexual vivenciada por 33 brasileiras na
Espanha, entre elas 21 manauaras, a professora Márcia Maria de Oliveira afirma
que somente fortalecendo as ações de conscientização pública e os serviços de
denúncias será possível erradicar o tráfico de mulheres no País.
Responsável por acompanhar ‘in loco’ o dia a dia das
brasileiras com idades até 21 anos e aplicar questionários para conhecer os
motivos da migração, ela ressalta que apenas uma das 33 entrevistadas partiu
sabendo que se prostituiria.
Nutricionistas e enfermeiras cumprem a jornada de até 16h de
trabalho diário, distribuídos entre os programas e a limpeza das casas
noturnas.
Documentos vencidos, o rodízio constante de local de
trabalho, os altos aluguéis por um quarto são apenas alguns dos subterfúgios
empregados pelas quadrilhas para garantir a permanência das traficadas na
Espanha, segundo Oliveira.
Dicas
1 Sempre desconfie de salários muito altos;
2 Se for viajar, nunca entregue seus documentos a ninguém;
3 Se o trabalho limitar sua circulação, você pode estar
sendo vítima de tráfico humano;
4 Sempre deixe seus contatos telefônicos e endereço;
5 Pesquise o endereço do consulado do seu país;
6 Desconfie de casamentos arranjados para garantir a dupla
cidadania;
7 Agências online de relacionamentos podem ocultar uma rede
de prostituição;
8 Desconfie se você não puder revelar que está viajando a
trabalho
Fonte: www.d24am.com
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