Uma cena recorrente que presencio no carnaval é uma sequência de nãos
seguida de um pedido “por favor, me dá um beijo'', normalmente com um sujeito
que vai pegando no corpo da outra pessoa sem autorização.Dignidade? Ninguém
sabe, ninguém viu. Sabe o fundo do poço? Pois bem, lá tem um alçapão onde esse
pessoal consegue ir aonde nenhum homem jamais esteve.
Detesto sentir vergonha alheia.
Aquela vontade de cobrir o rosto
e se esconder ao ver outro ser humano se afundando copiosamente e alegremente
na lama e, impotente, não poder fazer nada para poder ajudá-lo.
Dar um toque talvez? O problema é
que consciência é algo que pode até ser fomentado com informação, mas se
desenvolve só, via reflexão pessoal.
Prefiro eu mesmo passar uma
vergonha do que sentir vergonha alheia por conta do que esse sentimento
patético em loop provoca.
Por exemplo, uma cena recorrente
que presencio no carnaval é uma sequência de nãos seguida de um pedido “por
favor, me dá um beijo'', normalmente com um sujeito que vai pegando no corpo da
outra pessoa sem autorização.
Dignidade? Ninguém sabe, ninguém
viu. Sabe o fundo do poço? Pois bem, lá tem um alçapão onde esse pessoal
consegue ir aonde nenhum homem jamais esteve.
O debate público sobre o machismo
nosso de cada diz esquentou no ano passado. Há mais gente empoderada e disposta
a não deixar barato esse assédio sexual, inclusive chamando a polícia para por
fim ao barato dos cretinos que acham que o corpo alheio é patrimônio público.
O problema é que a vergonha
alheia não tem limites.
“Quem está aqui sozinha é porque
quer isso.''
“A culpa não é minha, olha como
você tá vestida!''
“Se saiu de casa assim, é porque
está pedindo.''
“Me dá um beijo que eu te solto''
“Mas é carnaval, vadia!''
O sujeito aprendeu com amigos e
família, viu na televisão, ouviu do chefe, que este é um momento em que as
regras de convivência estão suspensas e todos querem sexo. Quando rejeitados,
expressam toda a sua perplexidade em bordões.
Rapaz, uma dica: se os seus
amigos te chamarem de “frouxo'' por você não tratar as outras mulheres, cis ou
trans, como carne em açougue, sinta vergonha alheia por eles. “Frouxo'' é quem
precisa da chancela da opinião de outra pessoa para poder ser feliz.
Fonte: Blog de Sakamoto
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