A violência contra a mulher é um
problema cultural e vem afligindo a humanidade através dos séculos.A grande repressão sexual,
exacerbada a partir do século V até o século XV, reafirmou no inconsciente
coletivo a mulher como coisa, nunca levando em conta os seus próprios desejos.
Por Gabriel Novis Neves
Isso porque, desde a pré-história, e depois passando pelos gregos e romanos, as
sociedades eram predominantemente hedonistas, colocando o prazer como mote
prioritário de vida.
Com a queda do império romano e o
advento do cristianismo, inicia-se um ciclo de ausência absoluta de
individualidade e luta contra as tentações.
Amar, só a Deus. A teoria do
pecado original foi maciçamente difundida.
Gabriel Novis Neves, autor deste artigo
Gabriel Novis Neves, autor deste artigo
A partir do século XII, com o
renascimento, aparece o amor cortês, sempre exaltando os prazeres do espírito
em detrimento aos prazeres da carne. A verdadeira mulher amada deveria ser
inatingível ao toque e apenas venerada como uma deusa. Apenas aí, o amor já se
cogita como recíproco.
Até 1950, a virgindade ainda era
um valor. Apenas entre 1960 e 1980, a verdadeira revolução sexual foi exercida
Os últimos três séculos foram
impregnados por todos esses conceitos arcaicos, que faziam do sexo algo
abominável. Até os dias de hoje, homens e mulheres ainda sofrem muito com seus
medos, culpas e frustrações.
Até 1950, a virgindade ainda era
um valor. Apenas entre 1960 e 1980, a verdadeira revolução sexual foi exercida,
já que a pílula anticoncepcional estava presente e ainda não havia o HIV.
A partir do século XX, com o
aparecimento dos grandes movimentos feministas e as grandes mudanças econômicas
mundiais, a mulher consegue entrar definitivamente no mercado de trabalho em
todos os setores e inicia assim o seu processo de “descoisificação”.
Entretanto, os estigmas de tantos
séculos de opressão, não são assim removidos tão facilmente quanto gostaríamos.
Por outro lado, a mulher,
despreparada para essa nova situação, começou a confundir liberdade com
libertinagem, extrapolando comportamentos agressivos, tidos como masculinos,
nunca antes exercidos e, principalmente, para os quais os homens não estavam
programados.
Paralelamente, o mercado de
consumo, ávido de novos lucros, jogou na sociedade a propaganda de um erotismo
exagerado e a tudo vinculado. Nem as crianças escaparam desse projeto, sendo
desde muito cedo estimuladas por suas mães a se tornarem miniadultas, através
de roupas e comportamentos inadequados para a idade.
Agregado a tudo isso, a
divulgação maciça de músicas com letras e coreografias sempre um forte apelo
sexual.
Seios e bundas siliconadas,
graças a esse grande mercado erótico, são oferecidos abertamente a preços
módicos e suaves prestações mensais, servindo de desejo a mentes mais
desavisadas, principalmente as jovens.
A indústria pornográfica já é a
terceira maior em crescimento no mundo.
A violência familiar, exacerbada
pelas drogas, legais e ilegais, só faz crescer. Campanhas de descriminalização
progressivas e sérias, como as que vêm sendo feitas pelos países mais
desenvolvidos, não conseguem se sobrepor aos interesses de pequenas minorias
que obtém grandes lucros com esse mercado.
Diante de todo esse quadro, no
mínimo propício, não é de se admirar que os instintos animalescos, escamoteados
pelas leis sociais, estejam recrudescendo com tanta intensidade e frequência. A
violência e os casos de estupro, em todas as partes do mundo, têm aumentado, e
muito. Países superdesenvolvidos como, por exemplo, a Inglaterra, já mostram
níveis assustadores desses casos, apesar das altas penas infringidas aos
infratores.
Aprendemos desde muito cedo que
onças não devem ser cutucadas com vara curta e sempre que a sociedade se torna
muito permissiva, a barbárie começa a imperar.
Já vimos isso inúmeras vezes na
história e sabemos os resultados desastrosos que daí advém.
Os conceitos de amor não são
imutáveis e o histórico da humanidade está aí para nos comprovar isso.
A nossa vida sexual afetiva está
sempre condicionada a atuações do inconsciente cultural e social.
GABRIEL NOVIS NEVES é médico em
Cuiabá, foi reitor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Fonte: http://midianews.com.br/
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