sexta-feira, 19 de junho de 2015

Extração de órgãos de crianças e jovens migrantes, novo negócio dos narcos mexicanos

Migrantes centro-americanos somem e nunca chegam ao destino final, os Estados Unidos.
A ONU informa que, durante as suas investigações, constatou que, em mercados clandestinos americanos, alemães, suíços e italianos, se pagam 102 mil euros por um rim, 150 mil euros por um fígado, 150 mil euros por um pulmão, 87 mil euros por uma córnea, 165 mil euros pela medula óssea, 150 mil euros pelo coração, 144 mil euros por um pâncreas e 10 mil euros por veias e artérias.


Emma Martínez

"Se por cada criança, jovem ou pessoa menor de 40 anos que conseguiu cruzar a fronteira, dois não chegaram ao seu destino, se poderia estar falando de um aproximado de 80 mil ou 85 mil pessoas que saíram em busca do "sonho americano’, mas não conseguiram, nem sequer chegaram aos limites entre México e Estados Unidos, e ficaram em nosso território, a pergunta é: para onde foram?, Porque também desapareceram os corpos”, comenta o advogado criminalista Luis Felipe Rivas.

"Ainda que pareça que a permissão, em certas regiões dos Estados Unidos, de uma quantidade por pessoa de substâncias para ‘o lazer’ e de forma medicinal, não afete o narcotráfico, o tem convertido em um negócio que não tem perdido suas rendas milionárias, mas, sim, tem causado impactos, principalmente nos cartéis que exportam droga para os EUA; por outro lado, também se encontram com as novas tecnologias, que lhes fazem ‘competição’, já que com estas qualquer consumidor pode produzir droga artificial no banheiro de sua casa, com instruções de como fazer, em sua busca por novas formas de obter ganhos (ilícitos), descobriram uma ‘mina de ouro’, cujo principal cliente também são os EUA”, sentencia Rivas.

Complementa que, "o novo negócio tem maior rentabilidade do que as drogas, e os ganhos são estratosféricos, qual seja que mantém outro atrativo que é – com autoridades desinteressadas e desumanizadas, que não se deterão a investigar – sem dúvida, o tráfico de órgãos. Sendo o Cartel dos Templários o primeiro a capturar vítimas para dar sequência ao negócio”.

Rivas menciona que Enrique Plancarte Solís, chefe do cartel dos Templários e seu sobrinho Manuel Plancarte Gaspar, pouco antes de serem capturados, haviam iniciado o ‘experimento’ da extração de órgãos em crianças e jovens migrantes, que têm as melhores condições de saúde. Outro dos grupos delitivos – ou como diz o advogado – que se dedica a isso são os Zetas, ambos primeiros a incursionarem na extração em migrantes.

Segundo a ONU [Organização das Nações Unidas], a escassez de órgãos para transplante se converteu em um problema em nível mundial, sendo os Estados Unidos, China, Brasil e México os que maiores problemas têm no momento para encontrar um órgão, obtendo somente 10% dos órgãos que os pacientes esperam; no caso dos EUA, morrem mais de 10 mil pessoas por ano à espera de um doador.

Mesmo com dezenas de denúncias sobre a problemática do tráfico de órgãos, por parte de associações nacionais e internacionais, em seu momento, o ex-procurador geral da República, Jesús Murillo Karam, afirmou: "o tráfico de órgãos não é tão grave no México, já que não há muitas denúncias”.

"Mas, certamente, que não há denúncias, o doador está morto, não será feita, se é migrante como saberá a família, a lógica do absurdo das nossas autoridades também é um dos maiores problemas, porque, em outro lugar, tampouco será investigado de onde provém tal órgão, menos ante a esperança de una família que se inteira que chegou a possibilidade de salvar a vida de seu ente querido”, comenta Rivas.

A ONU informa que, durante as suas investigações, constatou que, em mercados clandestinos americanos, alemães, suíços e italianos, se pagam 102 mil euros por um rim, 150 mil euros por um fígado, 150 mil euros por um pulmão, 87 mil euros por uma córnea, 165 mil euros pela medula óssea, 150 mil euros pelo coração, 144 mil euros por um pâncreas e 10 mil euros por veias e artérias.

Ao mesmo tempo, se sabe que pacientes provenientes dos Estados Unidos, Alemanha, Itália e Egito, principalmente, viajam para ‘hospitais’ sofisticados, mas underground mexicanos, e realizam cirurgias de transplantes com equipes de alta complexidade, onde não se questiona de onde provém o órgão.

Segundo a organização Save The Children, "em muitos países desenvolvidos, um elevado número de pessoas salvam suas vidas graças ao tráfico de órgãos de menores sem documentos, o pedido por órgãos está aumentando consideravelmente nos países ocidentais, enquanto que o número de doadores tem baixado”.

Na zona norte do México, os grupos delitivos deixaram de lado o sequestro de migrantes para dedicarem-se ao tráfico de órgãos, situação que, nos últimos dois anos e meio, se incrementou significativamente, dado que as autoridades se encontram em cumplicidade com os policiais fronteiriços, assegura em um documento a presidenta da Comissão Especial para a Luta contra o Tráfico de Pessoas, Leticia López Landeros.

"Neste país, os narcotraficantes e outros grupos delinquentes GANHAM MAIS DINHEIRO extraindo órgãos do corpo dos migrantes do que somente sequestrando-os. O modus operandi se baseia em enganar as famílias dizendo-lhes que vão ajudá-los a cruzarem para os Estados Unidos, às vezes, são mães com crianças, outras, homens com menores, os levam a alguma casa ou bodega, já capturados os separam, e é assim como procedem matando um a um, com uma injeção letal, sem que sejam danificados os órgãos, para, posteriormente, extraí-los e vendê-los ao mercado negro dos Estados Unidos”, afirma o sacerdote Alejandro Solalinde ao Revolución TRESPUNTOCERO.

Também comenta que os órgãos que são transportados para os Estados Unidos são "aparentes doações, o que é mentira, porque se trata de um negócio que tem sido de muitíssimo maior proveito para eles do que qualquer outro, este poderá ser o mais triste e difícil dos problemas dos migrantes”.

Segundo cifras da Comissão, no México, 32 mil crianças e adolescentes são explorados sexualmente, e os casos de aproximadamente 20 mil desaparecem no lapso de um ano, situação que se liga à venda dos seus órgãos, já que, no mercado negro, alguns podem alcançar o custo de até meio milhão de pesos, mantendo ganhos que oscilam entre os 10 bilhões e 11 bilhões de dólares anuais.

A Comissão assegura que é difícil especificar o número de vítimas devido à falta de arquivos estatísticos, no entanto, a maneira como são contabilizados é por meio dos cadáveres encontrados em estado incompleto. O primeiro descobrimento de fossas clandestinas foi em 2013, quando foi localizada uma quantidade "escandalosa” de corpos de migrantes sem órgãos.

Solalinde explica que essa situação se dá em um contexto de abandono por parte das principais nações, que permitem a saída dos seus cidadãos por causa da pobreza, insegurança e escassez de oportunidades, e cita o exemplo de El Salvador, que assegura, tem vivido comodamente de suas remessas, sem oferecer melhores formas de vida ao seu povo, afirmando que uma das principais problemáticas jamais solucionadas é a proliferação da gangue Mara Salvatruchas que, no caso de Honduras, o levou a converter-se em um Estado falido e território usado como negócio das transnacionais, incluindo o narcotráfico e as bases militares dos Estados Unidos que lá se posicionam.

E acrescenta que a esses países se une a Guatemala, que também atua como administrador da riqueza explorada pelos Estados Unidos, por tudo isso os governos não têm se preocupado com as melhores condições de vida de suas populações e se convertem em exportadores de humanos, que correm distintos perigos, sem que as autoridades se inteirem de tais tragédias.

"O FBI realizou uma ampla investigação sobre como, na fronteira norte do país, atuam os traficantes de órgãos, assim, capturaram um grupo que aceitou serem testemunhas protegidas, dessa maneira, mostraram a forma como operavam, isto já tem quatro anos, eles realizaram uma demonstração em uma universidade dos Estados Unidos, com cadáver, do qual depois de uma injeção procederam a extrair-lhe os órgãos, com a finalidade de ensinar o fazia uma pessoa que não tem a profissão de médico e que ainda assim não levou mais do que alguns poucos minutos no procedimento”, sentencia Solalinde.

Ao mesmo tempo, assinala a falta de compromisso do México para a intervenção em tal problemática, afirmando que o FBI tem toda a documentação sobre a situação, mas a pronta solução encontra dois obstáculos: primeiro, que o país do norte é o beneficiado imediato, porque existe uma grande demanda de órgãos; e, segundo, que o governo estadunidense sabe, perfeitamente, que "Peña Nieto [presidente Enrique Peña Nieto] está à frente de um governo corrupto, portanto, fará pouco caso das provas, como em todas as ocasiões anteriores, quando denunciam governadores e pessoas de primeiro escalão, no entanto, se omitem e preferem não entregá-la”.
Crianças e jovens migrantes são os alvos principais das quadrilhas de traficantes de órgãos humanos.

"E se o governo mexicano não faz nada pelos migrantes é porque perde o negócio do qual também se beneficia; é um dos melhores que já teve o narco, porque, com o sequestro, podiam obter, se ocorria tudo bem, 7 mil dólares, ainda que na maioria das vezes fosse menos, mas por um órgão do mercado negro a soma sobe para milhões de dólares. Tais ganhos são gerados em aliança com corporações de todo o tipo, já que sempre existe gente infiltrada no Exército e Marinha, e gente do governo no narcotráfico, bem como, em seu momento, as forças armadas e alguns políticos pertenceram ao cartel dos Zetas, porque não existe uma só dependência onde não haja funcionários que não estejam infiltrados no narco e em torno”, sentencia Solalinde.

Por sua vez, assegura que, "lamentavelmente, para este problema, não há solução, não somente por toda a corrupção que existe no governo, se não pelo compromisso que há com os Estados Unidos, e é que, por um lado, prende os migrantes para que não pisem na América do Norte e, ao mesmo tempo, aproveita o contexto para roubar os órgãos dos migrantes, já que assim o governo também obtém ganhos ilícitos, ademais o exército tampouco pode fazer algo porque quem controla o país é o narcotráfico”.

"O primeiro problema e aterradoramente entendível é o desespero por seguir vivendo, que, na realidade, é a que o que sustenta o negócio do tráfico clandestino de órgãos humanos no mundo, quando se está ante a possibilidade de manter-se em pé, não se pensa nas consequências, é assim como dar passagem a uma ação criminosa organizada, em que os ricos obtém órgãos por meio do roubo de uma parte do corpo de pessoas pobres”, sentencia Rivas.

Fonte: Adital

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