Uma postagem de uma aluna no
Facebook expôs que o preconceito em suas mais diversas formas, como machismo,
homofobia e racismo, seguem vivos na Escola Superior de Agricultura Luiz de
Queiroz (Esalq). O mais recente capítulo triste envolve um ‘ranking sexual’ das
estudantes da instituição, localizada em Piracicaba e vinculada à Universidade
de São Paulo (USP).
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· 28 de maio às 06:14 · Editado ·
Antes de ontem estava no C.V. e alguém, que não me recordo, me chamou
pra ver uma coisa em um dos murais. Quando vi, percebi que o nível de machismo,
lgbtfobia e racismo da ESALQ não param de piorar.
Há boatos de que
esse cartaz foi feito em duas repúblicas masculinas, e que todos os bixos que
vão lá pegar ração na hora do almoço/janta escrevem o nome de alguma menina nas
colunas. Pensei que a CPI de Violação de Direitos Humanos das Universidades
Estaduais Paulistas tivesse a...
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De acordo com a estudante Élice
Botelho, de 22 anos, integrante do Diretório Central dos Estudantes, o cartaz
estava exposto no Centro de Vivência da universidade, um pátio de encontro dos
alunos. Lá, três colunas expunham estudantes da Esalq em três categorias
vexatórias: ‘buceta fedida, teta preta ou sociedade do anel’. Ali cada aluna e
alguns alunos eram ‘pontuados’ por outros.
“Há boatos de que esse cartaz foi
feito em duas repúblicas masculinas, e que todos os bixos que vão lá pegar
ração na hora do almoço/janta escrevem o nome de alguma menina nas colunas.
Pensei que a CPI de Violação de Direitos Humanos das Universidades Estaduais
Paulistas tivesse alertado as pessoas, mas a prova mostra que na verdade tem
gente que ta no caminho oposto”, escreveu Élice.
A CPI à qual ela se refere,
também conhecida como CPI dos Trotes, foi realizada entre dezembro e março
deste ano na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Durante os trabalhos,
a Esalq foi citada em mais de uma oportunidade, sendo apontada como uma das
mais violentas do Estado, ao lado da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e a
PUC de Campinas (Puccamp).
Um dos casos mais absurdos foi
registrado na Esalq em 2002, quando uma estudante acusou oito colegas de a
terem estuprado em uma república. A vítima depôs na CPI. “Falavam que eu havia
transado com oito meninos. As meninas com quem eu morava fizeram uma reunião e
pediram para eu sair da casa, sob a alegação de que me chamavam de vagabunda.
Na Esalq, comentava-se o caso, inclusive os professores. As pessoas olhavam,
davam risadinhas. Um e-mail passou a circular, contando detalhes”, contou.
Um exemplo de que práticas
misóginas seguem vivas no ambiente universitário é que o ‘ranking sexual’
denunciado expunha os apelidos de cada estudante, uma tradição mantida desde a
entrada do calouro (chamado de ‘bixo’), e esse codinome será aquele que ele
carregará pelo resto da sua vida acadêmica.
“O cartaz tem caráter de assédio
e conteúdo difamatório intencional. Foi a primeira vez que colocaram em local
público. Isso dá margem para que as pessoas, reconhecidas por seus codinomes,
sejam discriminadas”, disse ao G1 o pesquisador e sociólogo Antonio Ribeiro
Almeida Jr., docente da Esalq. Na CPI dos Trotes, ele já havia denunciado a
violência na instituição.
“O trote leve funciona como uma
cortina de fumaça para os mais violentos”, comentou aos deputados estaduais. Em
uma nota divulgada por uma das muitas repúblicas de alunos da Esalq, Almeida
Jr. foi chamado de “mentiroso” pelas suas palavras. “Aquele seu livro de anos
atrás é um compilado de mentiras, nada mais. E pelo que consta nas reportagens,
todo o resto da sua produção é apenas mais do mesmo, com ‘causos’ requentados”,
diz a nota, que vai além.
“É extremamente preocupante o
risco real de que jovens inocentes, exalando a energia típica da idade, acabem
se transformando em bodes expiatórios para que um professor atinja os objetivos
de sua agenda promocional. Ou que políticos sem propostas, e acuados pela
fortíssima pressão da opinião pública, desviem o foco buscando se capitalizar
eleitoralmente ao abraçar uma causa nobre queimando algumas bruxas
imaginárias”.
Ao G1, a direção da Esalq
informou que “encaminhará o material para apreciação de uma comissão
sindicante, cumprindo trâmite regular”. Neste ano, a instituição disse ter
distribuído um ‘manual de calouras’ e firmou um acordo com o Ministério Público
(MP-SP) se comprometendo a combater os trotes e outras violações aos direitos
humanos na Esalq.
Fonte: Brasil Post
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