Diz o conhecido teólogo francês Joseph Moingt que o
cristianismo começou com um rumor. Jesus
havia morrido na cruz e seus discípulos, escondidos, o choravam. As mulheres, enquanto isso, preparavam-se
para, após o sábado, ir ao túmulo onde estava enterrado e ungir seu corpo com
aromas. O silêncio pesava sobre Jerusalém, grávido de tristeza com a morte do
profeta que amou os pobres e os pequenos e falou de Deus como nunca ninguém o
tinha feito.
Por Maria Clara Bingemer
E de repente o rumor rompeu o silêncio e o mal estar,
falando não de morte mas de vida. “O
túmulo está vazio e aquele que procurávamos não está ali. “ “ A pedra estava rolada e nos foi dito que
ele não estava ali, mas que nos esperava em Jerusalém.” “Aquele que morreu está
vivo. “ “ Ele está vivo, nós vimos.
“ “ Jesus de Nazaré está vivo e nós o
reconhecemos no partir do pão. “ “Eu chorava no jardim sem encontrá-lo e de
repente ouvi meu nome e reconheci que era ele.”
O rumor vai se produzindo na medida em que aqueles e aquelas
que choravam uma dolorosa perda para a qual acreditavam não haver consolo ou
remédio sentem-se cheios de uma alegria que não sabem explicar de onde vem. E
experimentam que essa alegria tem sua raiz no fato de que aquele que morreu não
foi retido pela morte em seu poder. Está
vivo e aparece consolando, animando, dando seu Espírito e enviando em missão.
Rapidamente, o rumor cresce e ganha força e
consistência. Já não são mulheres
assustadas e tristes que afirmam havê-lo visto e ouvido em plenitude de vida.
Apesar de haverem sido as primeiras a viver a impressionante experiência
pascal, souberam transmiti-la aos companheiros que, embora descrentes em um
primeiro momento, logo se sentiram contagiados
por seu testemunho. E dentro em pouco
serão vários os que antes tinham medo e se escondiam, e que agora se mostram e fazem ver, declarando havê-lo visto, ouvido e tocado com
suas mãos.
O grupo disperso torna-se coeso e unido. O medo é banido dos corações e em seu lugar
brota uma força que enfrenta os poderes políticos e religiosos com desassombro
e intrepidez. Uma comunidade se forma em
torno da pessoa daquele que os reuniu e que partiu. Agora
ele os conforta na certeza de que a morte não teve a última palavra
sobre sua vida santa e fecunda. O amor que ele espalhou pelo mundo foi mais
forte e venceu a morte pelo poder de Deus.
Jesus ressuscitou. O profeta assassinado pelo poder das
trevas vive para sempre à direita de seu Abba que sempre o escutou e agora
confirma seu caminho como vida que não morre e não termina. A testemunha fiel que sempre foi o profeta de
Nazaré agora é confirmado como vivente e é o próprio Deus Pai e Senhor da vida
que sobre ele dá testemunho, pronunciando a palavra interpretativa da
ressurreição sobre sua pessoa e seu caminho.
A comunidade cresce na fé e na esperança que a presença do
Ressuscitado suscita em seu meio. Unida, reparte seus bens; é fiel ao
ensinamento dos apóstolos, testemunhas autorizadas do Ressuscitado; reza ;
reparte o pão pelas casas, comungando o corpo daquele que por ela se entregou
até a morte e agora vive e a envia em missão anunciando pelo mundo a Boa
Notícia da vida que não morre.
Se não fosse o testemunho fiel desta comunidade, o rumor que
começou a circular pelas ruas de Jerusalém poderia ter sido abafado e sufocado
pelos poderes que haviam matado a Jesus e a quem não interessava nada sabê-lo
vivo. Poderia também ter se diluído em
meio às agruras e dificuldades da vida cotidiana e breve tornar-se apenas uma
vaga lembrança. Porém a experiência era
forte demais para que isso acontecesse.
E o rumor se tornou testemunho corajoso e destemido que enfrentou todas
as vicissitudes e adversidades, perseguições e tribulações e ganhou mundo e se
multiplicou em meio a todas as tentativas para silenciá-lo.
Na medida em que meditava e interpretava o testemunho de
Jesus a comunidade ia compreendendo que por haver entregado sua vida até o fim
ele vencera. Semeou-se como grão de
trigo na terra fecunda, e dali emergiu florescido, frutificado e vivo para
alimentar os que amava. Confiantes no
Deus que não permitira que o Justo ficasse retido nas garras da morte, a
comunidade dava testemunho incessantemente e por onde passava.
Assim, o que era um rumor se fortaleceu e consolidou. Transformou-se em uma Boa Notícia que dá
sentido à condição humana. Todo homem e
toda mulher que vem a este mundo pode experimentar que não é um “ser para a
morte” como dizem algumas correntes de pensamento. Pode sentir que a vida não é absurda e sem
sentido. Pois existe uma maneira
concreta de ser humano que é o caminho para a comunhão com o verdadeiro Deus e
para a vitória sobre a morte: a pessoa de Jesus de Nazaré que se fez caminho
para que pudéssemos nele caminhar na alegria da convicção em que Deus é amor.
Fonte: Amai-vos
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