segunda-feira, 14 de abril de 2014

Papa Francisco se encontra com 4 mulheres traficadas e denuncia o tráfico humano como crime contra a humanidade

Consolo. Acompanhamento e inclusão. Foi o que o Papa  ofereceu para quatro vítimas do tráfico de pessoas. Reuniu-se com elas por um longo tempo, antes de ir à Casina Pio IV, sede da Pontifícia Academia para as Ciências Sociais do Vaticano, onde dirigiu uma mensagem sobre o tema. Com esse gesto, Francisco repetiu o que fez dezenas de vezes na Argentina, onde salvou a muitos atingidos pelas escravidões modernas.

No Vaticano, o religioso participou de uma conferência que reuniu agentes pastorais, representantes de instituições de caridade e chefes de polícia de 20 países, da Interpol e Europol, os quais prometeram uma maior cooperação visando evitar o tráfico e encorajar suas vítimas a se apresentarem à polícia.

O Papa Francisco denunciou o tráfico humano como crime contra a humanidade na última terça-feira (08-04-2014) depois de se encontrar com quatro mulheres que foram traficadas e forçadas à prostituição.

O pontífice se encontrou em privado com escravas sexuais libertas, cada uma vinda da Argentina, do Chile, da Hungria e República Checa. Três delas discursaram na conferência, que publicou um manifesto comprometendo-se em desenvolver estratégias para fazer mais no sentido de prevenir o tráfico, aumentar o cuidado às vítimas e ajudá-las a se reintegrar à sociedade uma vez libertas. A Santa Sé não quis dar mais detalhes sobre a reunião, para respeitar a privacidade das mulheres.

“O encontro foi privado, somente eles e ninguém mais. Ao sair elas estavam muito agradecidas pelo dom de recuperar suas vidas”, revelou o cardeal Vincent Nichols, arcebispo de Westminster e um dos organizadores da conferência internacional “Combatendo o tráfico humano: Igreja e forças da ordem em aliança”.
“Nossa estratégia deve perpassar todas as fronteiras, idiomas, culturas e crenças religiosas”, disse ao grupo Ronald Noble, secretário geral da Interpol. “Estes ‘comerciantes’ não se preocupam com tais diferenças, de fato eles crescem com elas, e assim vêm sendo feito há anos”.

Participando no evento estavam chefes de polícia vindos de países onde as mulheres são, rotineiramente, traficadas para o sexo, incluindo Nigéria, Romênia, Polônia e Albânia.

Francisco fez do combate ao tráfico humano e à escravidão uma prioridade de seu papado. O Vaticano recentemente juntou forças com a Igreja Anglicana e a Universidade Al-Azhar, o principal centro de ensino sunita, numa iniciativa antiescravidão.
No entanto, apenas cerca de 1% de todas as vítimas do tráfico denunciam seus traficantes à polícia e buscam assistência, disse Bernard Hogan-Howe, o comandante da Polícia Metropolitana de Londres, a qual firmou parceria com a Arquidiocese de Westminster para dar apoio às vítimas. Muitas delas temem se apresentar às autoridades, pensando que serão julgadas, deportadas ou processadas quando, na verdade, a polícia e a Igreja querem oferecer-lhes um “santuário”, disse.


A conferência, apelidada de “o Grupo Santa Marta” em decorrência do alojamento em que o Papa Francisco mora e onde os participantes ficaram, se reúne novamente em Londres no mês de novembro.

Em seus tempos como arcebispo de Buenos Aires, Bergoglio reservou um tratamento especial para os que padeciam desse sofrimento. Em silêncio, longe do clamor midiático, ajudou prostitutas ameaçadas por seus exploradores. Um testemunho desses atos de generosidade é o de seu compatriota Gustavo Vera, atualmente deputado pela capital argentina e um dos líderes da organização “La Alameda”.

“Quando alguma vítima do tráfico estava muito desesperada e precisava de auxílio ou de ser escutada, nós lhe pedíamos uma audiência e ele era capaz de colocar a gente no centro de sua agenda, fazendo reuniões muito importantes com políticos ou funcionários para receber as vítimas e lhes dar todo o tempo que fosse necessário”, contou Vera em entrevista ao Vatican Insider.

“Chorou junto com elas, lutou e protegeu a muitas também. Com aquelas que denunciaram e que haviam sido ameaçadas de morte, tirava alguma foto, mesmo sendo muito ermitão, fazia isso para dirigir uma mensagem de proteção. Conseguiu lugares em casas de congregações religiosas para alojar vítimas porque não havia muita confiança em que o Estado dispusesse de lugares ou porque neles havia o perigo à sua integridade física”, acrescentou.

Na Argentina, o então cardeal de Buenos Aires apreciava o trabalho das freiras que trabalhavam para salvar as mulheres. Entre outras as Escravas do Santíssimo Sacramento e da Caridade, conhecidas como “adoradoras”. Fundada em 1856, na Espanha, as 1.100 consagradas dessa obra trabalham atualmente em 23 países do mundo, 10 deles na América Latina e o Caribe.

“Era muito sensível a esta realidade e conhecia pessoalmente as irmãs, teve gestos muito bonitos, que tem sido trabalhado ali. Às vezes, pessoas lhe ofereciam uma doação e ele a passava para elas e hoje quando o cumprimentei, disse-me ‘para continuar trabalhando’”, revelou Aurelia Agredano, vice-superiora geral das “adoradoras”.

Como Papa, Bergoglio manteve sua preocupação. Por isso, pediu para Academia das Ciências dedicar especial esforços no combate ao tráfico de pessoas. “O tráfico de seres humanos é uma praga, uma praga na carne de Cristo. É um crime contra a humanidade”, sustentou, nesta quinta-feira, em uma mensagem dirigida aos participantes da conferência.

Considerou, além disso, necessário o trabalho coordenado das forças de polícia em nível internacional com as instituições, em especial da Igreja, dedicadas à acolhida e ao resgate das vítimas. “O fato de nos encontrarmos aqui, para unir nossos esforços, significa que queremos que as estratégias e as competências sejam acompanhadas e reforçadas pela compaixão evangélica, pela proximidade dos homens e as mulheres que são vítimas deste crime”, acrescentou.




Fonte: Ihu

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