Consolo. Acompanhamento e inclusão. Foi o que o Papa ofereceu para quatro vítimas do tráfico de
pessoas. Reuniu-se com elas por um longo tempo, antes de ir à Casina Pio IV,
sede da Pontifícia Academia para as Ciências Sociais do Vaticano, onde dirigiu
uma mensagem sobre o tema. Com esse gesto, Francisco repetiu o que fez dezenas
de vezes na Argentina, onde salvou a muitos atingidos pelas escravidões
modernas.
No Vaticano, o religioso participou de uma conferência que
reuniu agentes pastorais, representantes de instituições de caridade e chefes
de polícia de 20 países, da Interpol e Europol, os quais prometeram uma maior
cooperação visando evitar o tráfico e encorajar suas vítimas a se apresentarem
à polícia.
O Papa Francisco denunciou o tráfico humano como crime
contra a humanidade na última terça-feira (08-04-2014) depois de se encontrar
com quatro mulheres que foram traficadas e forçadas à prostituição.
O pontífice se encontrou em privado com escravas sexuais
libertas, cada uma vinda da Argentina, do Chile, da Hungria e República Checa.
Três delas discursaram na conferência, que publicou um manifesto
comprometendo-se em desenvolver estratégias para fazer mais no sentido de
prevenir o tráfico, aumentar o cuidado às vítimas e ajudá-las a se reintegrar à
sociedade uma vez libertas. A Santa Sé não quis dar mais detalhes sobre a
reunião, para respeitar a privacidade das mulheres.
“O encontro foi privado, somente eles e ninguém mais. Ao
sair elas estavam muito agradecidas pelo dom de recuperar suas vidas”, revelou
o cardeal Vincent Nichols, arcebispo de Westminster e um dos organizadores da
conferência internacional “Combatendo o tráfico humano: Igreja e forças da
ordem em aliança”.
“Nossa estratégia deve perpassar todas as fronteiras,
idiomas, culturas e crenças religiosas”, disse ao grupo Ronald Noble,
secretário geral da Interpol. “Estes ‘comerciantes’ não se preocupam com tais
diferenças, de fato eles crescem com elas, e assim vêm sendo feito há anos”.
Participando no evento estavam chefes de polícia vindos de
países onde as mulheres são, rotineiramente, traficadas para o sexo, incluindo
Nigéria, Romênia, Polônia e Albânia.
Francisco fez do combate ao tráfico humano e à escravidão
uma prioridade de seu papado. O Vaticano recentemente juntou forças com a
Igreja Anglicana e a Universidade Al-Azhar, o principal centro de ensino
sunita, numa iniciativa antiescravidão.
No entanto, apenas cerca de 1% de todas as vítimas do
tráfico denunciam seus traficantes à polícia e buscam assistência, disse
Bernard Hogan-Howe, o comandante da Polícia Metropolitana de Londres, a qual
firmou parceria com a Arquidiocese de Westminster para dar apoio às vítimas.
Muitas delas temem se apresentar às autoridades, pensando que serão julgadas,
deportadas ou processadas quando, na verdade, a polícia e a Igreja querem
oferecer-lhes um “santuário”, disse.
A conferência, apelidada de “o Grupo Santa Marta” em
decorrência do alojamento em que o Papa Francisco mora e onde os participantes
ficaram, se reúne novamente em Londres no mês de novembro.
Em seus tempos como arcebispo de Buenos Aires, Bergoglio
reservou um tratamento especial para os que padeciam desse sofrimento. Em
silêncio, longe do clamor midiático, ajudou prostitutas ameaçadas por seus
exploradores. Um testemunho desses atos de generosidade é o de seu compatriota
Gustavo Vera, atualmente deputado pela capital argentina e um dos líderes da
organização “La Alameda”.
“Quando alguma vítima do tráfico estava muito desesperada e
precisava de auxílio ou de ser escutada, nós lhe pedíamos uma audiência e ele
era capaz de colocar a gente no centro de sua agenda, fazendo reuniões muito
importantes com políticos ou funcionários para receber as vítimas e lhes dar
todo o tempo que fosse necessário”, contou Vera em entrevista ao Vatican
Insider.
“Chorou junto com elas, lutou e protegeu a muitas também.
Com aquelas que denunciaram e que haviam sido ameaçadas de morte, tirava alguma
foto, mesmo sendo muito ermitão, fazia isso para dirigir uma mensagem de
proteção. Conseguiu lugares em casas de congregações religiosas para alojar
vítimas porque não havia muita confiança em que o Estado dispusesse de lugares
ou porque neles havia o perigo à sua integridade física”, acrescentou.
Na Argentina, o então cardeal de Buenos Aires apreciava o
trabalho das freiras que trabalhavam para salvar as mulheres. Entre outras as
Escravas do Santíssimo Sacramento e da Caridade, conhecidas como “adoradoras”.
Fundada em 1856, na Espanha, as 1.100 consagradas dessa obra trabalham
atualmente em 23 países do mundo, 10 deles na América Latina e o Caribe.
“Era muito sensível a esta realidade e conhecia pessoalmente
as irmãs, teve gestos muito bonitos, que tem sido trabalhado ali. Às vezes,
pessoas lhe ofereciam uma doação e ele a passava para elas e hoje quando o
cumprimentei, disse-me ‘para continuar trabalhando’”, revelou Aurelia Agredano,
vice-superiora geral das “adoradoras”.
Como Papa, Bergoglio manteve sua preocupação. Por isso,
pediu para Academia das Ciências dedicar especial esforços no combate ao
tráfico de pessoas. “O tráfico de seres humanos é uma praga, uma praga na carne
de Cristo. É um crime contra a humanidade”, sustentou, nesta quinta-feira, em
uma mensagem dirigida aos participantes da conferência.
Considerou, além disso, necessário o trabalho coordenado das
forças de polícia em nível internacional com as instituições, em especial da
Igreja, dedicadas à acolhida e ao resgate das vítimas. “O fato de nos
encontrarmos aqui, para unir nossos esforços, significa que queremos que as
estratégias e as competências sejam acompanhadas e reforçadas pela compaixão
evangélica, pela proximidade dos homens e as mulheres que são vítimas deste
crime”, acrescentou.
Fonte: Ihu
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