A mãe de Jesus, que aparece no início de sua missão, em Caná
(Jo 2,1-11), levando seus discípulos a acreditarem nele, volta de novo à cena.
Dessa vez, não há nenhum sinal extraordinário. Ao contrário, o momento da cruz
desafia a fé. Maria faz parte do pequeno grupo que perseverou, que não fugiu no
momento da perseguição e da crucifixão de Jesus.
Por Afonso Murad
É a corajosa seguidora de Jesus, que permanece no seu amor.
Manter-se de pé significa persistência, constância e adesão. Junto com ela
estão algumas mulheres-discípulas: a irmã de Maria, Maria de Clopas (ou
Cléofas) e Madalena. E somente um homem, o “discípulo amado”, que a tradição
cristã identificou com o jovem apóstolo e evangelista João. Ele representa a
comunidade cristã, o grupo dos que seguem os passos de Jesus, tornando-se mais
do que seus servidores. São seus amigos (Jo 15,15).
Uma característica importante do seguidor de Jesus é a
perseverança, ou seja, o compromisso de vida que se prolonga no tempo, vencendo
as crises. Quando Jesus pede para: “permanecer em mim e eu nele” (Jo 6,56;
15,4) ou “permanecer no meu amor” (Jo 15,9) expressa uma sintonia profunda, uma
comunhão de mente e de coração. Este é o sentido da imagem da videira e dos
ramos (15,1-11). Como também: “Se vocês permanecerem na minha palavra, serão
verdadeiramente meus discípulos. Vocês conhecerão a verdade, e a verdade fará
de vocês pessoas livres” (cf. Jo 8,31s). Jesus promete: “Se vocês permanecerem
em mim e as minhas palavras permanecerem em vocês, peçam o que quiserem, e o
Pai lhes concederá” (Jo 15,7). Na primeira epístola de João também se diz desta
atitude de vida: “Quem pretende permanecer nele, deve também andar no caminho
que Jesus andou” (1 Jo 2,6).
Manter-se junto à cruz expressa a atitude de estar em
sintonia com Jesus, exercitando a fé no momento de crise da morte e de sua
passagem para o Pai. Maria, as mulheres e o discípulo amado são os que
perseveram neste momento crucial. Permanecem com Jesus e em Jesus. É certo que
este momento significou um grande sofrimento para Maria. Mas, parece que
perseverar assume mais importância do que sofrer.
Qual é o sentido do encontro de Maria com o discípulo amado,
ao pé da cruz? Não é resolver um problema de família, ou seja, quem iria tomar
conta da mãe de Jesus depois da morte dele. Nesse momento tão importante da
cruz, João quer nos dizer algo mais. Ele deixa impresso na memória de todos os
cristãos que Maria não é somente a mãe, que concebeu, gestou, deu à luz, nutriu
e educou Jesus. Novamente, ela é chamada de “mulher”, como em Caná (Jo 2,4 e
19,25). Seu lugar está além dos laços de sangue e das relações familiares. Por
vontade de Jesus, Maria é adotada como mãe pela comunidade cristã de todos os
tempos. O discípulo amado, que representa a comunidade, recebe-a como mãe. E
Maria é investida nessa nova missão. Acolhe os membros da comunidade cristã
como seus filhos.
A morte-ressurreição é o momento no qual se constitui a
comunidade-Igreja. Jesus irá “reunir todos os filhos de Deus dispersos” (Jo
11,51s). Este é o sentido simbólico da cena que antecede o encontro na cruz. Os
soldados tomam as roupas de Jesus e as repartem em quatro partes (os quatro
cantos da terra). Mas a túnica permanece inteira (Jo 19,23s). A Igreja, nova
comunidade messiânica, será edificada em sua unidade a partir da cruz do
Senhor.
O discípulo amado representa a comunidade cristã, agraciada
e escolhida por Jesus, para a qual ele dedica seu afeto e atenção. Esta
comunidade recebe Maria como sua mãe. O evangelista diz “a partir daquela hora,
o discípulo a acolheu em sua familiaridade” (Jo 19,27). Isto é, naquilo que lhe
é próprio, que o constitui como pessoa. Ele não usa a palavra grega “oikos”
(casa), mas sim “ídia/ídios” (o que é característico de alguém).
Em que consiste a missão de Maria, como mãe da comunidade?
Provavelmente, a mesma de Caná. A nossa mãe Maria poderá intervir junto ao
Filho, pelos seus filhos. Levará os servidores e amigos de Jesus a fazer o que
ele disser. Possibilitará que novas gerações de cristãos, como os primeiros
discípulos, creiam em Jesus, vejam sua glória, e se reúnam em torno dele.A cena
de Maria junto à cruz reúne, portanto, dois elementos fundamentais. A mãe de
Jesus é a mulher perseverante na fé até o último momento, junto com outros
membros da comunidade dos seguidores e amigos de Jesus. E, por vontade do
próprio Jesus, é adotada como mãe do discípulo amado, imagem e símbolo da
Igreja.
Fonte: www.maenossa.blogspot.com.br
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