Precisamos vencer o medo e denunciar práticas que desrespeitam e maltratam a vida. Anunciar a sacralidade da vida é uma tarefa teológica, pois a vida é presente, é graça de Deus. Ela é também tarefa pedagógica, precisamos dialogar em nossas escolas, centros de formação sobre as formas de tráfico humano em nosso contexto local, mas também de alcance global.
Por Claudete Beise Ulrich, Doris Kieslich e Silvia Cunto Barbosa
Há poucos dias, Adidas retirou do mercado camisetas da Copa
com forte apelo sexual. As camisetas uma de cor verde mostrava a frase "Eu
amo o Brasil", cujo coração tinha o formato de um bumbum de biquíni. A
outra camiseta, amarela, trazia o slogan: "lookin' to score", que
pode ser traduzido como "buscando gols", mas que também pode fazer
uma alusão a "pegar garotas".
A retirada das camisetas do mercado só foi possível, pois um
grande grupo de pessoas se manifestou publicamente via diferentes meios da
mídia contra a venda das camisetas. Além disso, a ação imediata da presidente
da República, Dilma Roussef, que usou a sua conta no Twitter para expressar o
seu descontentamento com a mensagem de cunho sexual feita pela Adidas foi de
fundamental importância.
Também a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência
publicou nota de repúdio à "confecção de camisetas com ilustrações de
cunho sexual associado às cores e aos símbolos do Brasil, deixando claro que
qualquer estímulo nesse sentido significa associar-se a criminosa prática do
turismo sexual, que se constitui em uma grave violação de Direitos Humanos
combatida permanentemente pelo país". (Veja: Do UOL, em São Paulo,
25/02/2014)
Somente ações conjuntas, como o exemplo citado, podem
combater de forma definitiva o turismo sexual e o tráfico humano, que inclui
mulheres, crianças, jovens, trabalhadores no Brasil e no mundo todo. As maiores
vitimas do tráfico humano são as pessoas pobres. É muito triste constatar que o
tráfico humano, atualmente, é uma atividade ilegal muito rentável em nosso
mundo, perdendo somente para o tráfico de drogas.
Uma notícia, por exemplo, relatada na Deutsche Welle em 2013
por Mariana Santos relata que cresceu o número vitimas de tráfico humano na
União Europeia . Que são as vítimas do tráfico?
São as pessoas submetidas à prostituição, trabalho forçado,
mendicância, retirada de órgãos, adoção ilegal. É um crime muito bem organizado
que lucra muito dinheiro. "É difícil de imaginar que, em nossos livres e
democráticos países da União Europeia, dezenas de milhares de pessoas tenham
sua liberdade roubada, que sejam negociadas como mercadorias", criticou a
Comissária para os Assuntos Internos na Comissão Europa, Cecilia Malmström ao
jornal alemão. "Mas essa é a triste verdade: o tráfico humano está por
toda parte, à nossa volta, e mais perto do que pensamos."
Somos gratas que este ano a Campanha da Fraternidade da
Igreja Católica tem como tema "Fraternidade e Tráfico Humano", com o
lema "É para a liberdade que Cristo nos Libertou.” Que este chamado ético
profético possa ser um desafio para toda sociedade, igrejas e religiões. A vida
de qualquer ser humano é sagrada. Ela não é mercadoria. Não pode ser vendida e
nem comprada.O nosso corpo é templo e morada do Espírito Santo (1 Co 6.19).
Portanto, qualquer ato contra a vida humana deve ser denunciado. A verdadeira
liberdade necessita ser vivida com responsabilidade e com respeito a vida. A
vivência da liberdade com responsabilidade nos torna pessoas livres, sensíveis
e felizes.
Quando se aproxima o Dia Internacional da Mulher, bem como a
realização da COPA do Mundo no Brasil, necessitamos refletir sobre esta triste
realidade do tráfico humano em nosso país. Precisamos vencer o medo e denunciar
práticas que desrespeitam e maltratam a vida. Anunciar a sacralidade da vida é
uma tarefa teológica, pois a vida é presente, é graça de Deus. Ela é também
tarefa pedagógica, precisamos dialogar em nossas escolas, centros de formação sobre
as formas de tráfico humano em nosso contexto local, mas também de alcance
global. Sem dúvida, é um tema complexo, e muitas vezes, invisibilizado, que
necessita ser trazido para a discussão nos diferentes processos educativos.
Nós cremos no Deus da vida, que não compactua com a
escravidão, com o tráfico, assim como nos conta o livro do Êxodo, especialmente
os primeiros capítulos. As parteiras foram fieis e defenderam a vida de meninos
e meninas. Deus viu, escutou o clamor, desceu e se colocou a caminho com o seu
povo, afirmando que não queria o seu povo escravo. Os profetas também são bem
claros, Deus ama a justiça, não compactua com a corrupção, nem com a venda dos
pobres por um par de sandálias, conforme o Profeta Amós. A pergunta ética sobre
o que significa liberdade é tarefa constante de todas as pessoas cristãs, que
estão em busca de um mundo com paz e justiça. A vivência da liberdade liberta e
não escraviza, o apostolo Paulo deixa isto bem claro na carta aos Gálatas.
Nosso compromisso é viver com responsabilidade a liberdade, denunciando todo
tipo de escravidão. Jesus afirma: "Eu vim para que todas as pessoas tenham
vida e a tenham em abundância” (Jo 10.10). Nós cremos que um outro mundo é
possível. Sejamos profetas éticas/os, denunciando o pecado do tráfico humano em
todas as suas formas, vivendo e anunciando a liberdade com responsabilidade e
compromisso com a Vida de todos os seres humanos. Para continuar a reflexão uma
poesia escrita pela Silvia e Doris de Fortaleza:
CLAMOR POR DIGNIDADE
Que violência é essa,
Que rouba dignidade,
Quando se trafica pessoas,
E mulheres violentadas?
São tantas marcas no corpo,
mas o pior é o da alma,
subtraindo cidadania,
de pessoas fragilizadas.
Há muito interesse implícito,
Rentável para os opressores,
Muita desigualdade,
pobreza e vulnerabilidade.
Crianças,jovens e mulheres,
São vítimas de organizações,
Vão-se fechando as portas,
Na mais pura escuridão.
Há muita brutalidade,
Exploração sexual,
Há remoção de órgãos,
Por uma máfia internacional.
Clamamos por vida e liberdade!
Claudete Beise Ulrich . Coordenadora de estudos – Academia
de Missão junto a Universidade de Hamburgo, teóloga e pedagoga.
Doris Kieslich Cavalcante professora catequista voluntária
na Ceclfor (Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Fortaleza),socióloga
.
Silvia Cunto Barbosa,professora licenciada em língua
portuguesa.
Fonte: adital
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