Propaganda da Riachuelo para o Dia Internacional da Mulher
gera polêmica ao ter uma mulher negra vestindo uma branca.
Uma polêmica tomou conta das redes sociais desde ontem. Tudo
isso, depois que a Riachuelo começou a veicular a sua campanha do Dia
Internacional da Mulher. Na propaganda, uma mão negra serve uma mulher branca.
O filme de 30 segundos tem como conceito “O dia da mulher
brasileira”, mas traz uma modelo branca como principal, seguida das mãos de uma
mulher negra colocando acessórios e sapatos da Riachuelo. As mãos não tem
rosto, apenas servem.
Como resposta, a Riachuelo teve uma enxurrada de comentários
negativos à propaganda. Tanto foi que rapidamente o vídeo foi tirado do
Youtube. Horas depois, a Riachuelo não soube responder aos internautas que
questionavam o motivo das mulheres negras nunca aparecerem em filmes de
propagandas e, o pior, agora apenas mulheres branca sendo servidas por negras.
Mesmo sendo acusada de racismo, a Riachuelo não fez nenhum
pedido de desculpas pela propaganda.
Em texto publicado por Zaira Pires no blog Blogueiras
Negras, criticou a escolha da Riachuelo em estrelar uma mulher branca na
campanha.
“A mulher brasileira padrão, essa do comercial, corresponde
exatamente ao padrão médio da brasileira, afinal, somos majoritariamente
brancas, loiras, com traços faciais finos e tão magras e altas como sílfides
mitológicas. Uai, não somos?”, ironiza.
E continua.
“Afinal, o que a Riachuelo nos diz com esse filme, e o que
muitas outras nos dirão nessa semana, é que mulher negra consumidora é
paradoxo, e já que ela não existe, porque deveria ser representada numa
propaganda? Quem disse que preta tem dinheiro? Quem disse que preta compra
alguma coisa? Quem disse que preta entende de publicidade?”, completa.
Enquanto isso, mulheres passam por situações humilhantes e
são impedidas de uma vida livre de preconceitos. E você Maria? Se viu representada
nessa propaganda?
Fonte: Exame
Veja o texto completo de Zaíra Pires:
Riachuelo homenageia
Dia Internacional da Mulher Branca, por Zaíra Pires
Mais um 8 de março se aproxima e recebemos
aquela enxurrada de chorume em nossas existências femininas nos
"homenageando" por sermos delicadas, amorosas, resilientes, submissas,
mães, esposas, damas na sociedade e amantes ardentes entre quatro paredes.
Todo esse repentino amor tem hora pra começar e acabar,
durando o tempo do mês de março, da semana do 8 ou só desse dia mesmo, de
acordo com o tanto de baboseira que cada um consegue produzir.
Nesse sentido, as mulheres
homenageadas são sempre as mesmas: brancas, jovens, magras, ocidentais, cristãs
e cisgêneras.
E para não perder o costume, nós, as pretas neuróticas,
recalcadas, mal amadas e que veem racismo em tudo, vamos direcionar nossa
crítica destrutiva ao bode expiatório da vez: a Riachuelo e sua campanha pela
Semana da Mulher Brasileira 2014 (leiam ironia nas minhas palavras, por favor).
Como podemos ver no vídeo, a mulher brasileira padrão, essa
do comercial, corresponde exatamente ao padrão médio da brasileira, afinal,
somos majoritariamente brancas, loiras, com traços faciais finos e tão magras e
altas como sílfides mitológicas. Uai, não somos?
E então que a presença negra no comercial é de uma mão que
serve. Um corpo sem cara, que não consome, não tem vontades, sequer existe,
apenas serve. Uma sombra semivivente que só se presta a apoiar a existência da
sua senhora.
Sim, porque a mulher que deve ser homenageada na semana da
mulher é aquela branca que trabalha fora, independente, bem resolvida, que
limpa a casa, cuida dos filhos, serve ao seu marido e sempre está com as unhas
feitas e a depilação em dia. Essa é uma super mulher que consegue viver seus
rompantes de modernidade sem deixar de lado suas obrigações femininas. Essa
merece ser louvada e ganhar um desconto nas compras da semana por cumprir suas
funções com tanto esmero.
A preta que sustenta a família com seu salário do
subemprego, que enfrenta 5 horas de ônibus sujeita a abuso sexual, que vê seu
filho ser morto pela polícia, que morre por complicações aborto inseguro, que
está fadada ao serviço doméstico desde sempre como se isso fosse inerente à sua
existência, que suporta as investidas sexuais do patrão e do filho do patrão
para não perder o sustento dos seus, que é a principal vítima de negligência na
saúde pública, que deixa seus filhos sozinhos em casa pra cuidar dos filhos da
patroa branca, que é a maioria entre as trabalhadoras do sexo, que não completa
os anos básicos de estudo porque precisa sair para trabalhar, que tem que se
virar em quinze para viver e ainda manter o sorriso no rosto, essa não merece
as homenagens desse dia.
Na verdade essa mulher é a serviçal que deve se alegrar por
ter a honra de ver seus braços pretos aparecerem na televisão.
Afinal, o que a Riachuelo nos diz com esse filme, e o que
muitas outras nos dirão nessa semana, é que mulher negra consumidora é
paradoxo, e já que ela não existe, porque deveria ser representada numa
propaganda? Quem disse que preta tem dinheiro? Quem disse que preta compra
alguma coisa? Quem disse que preta entende de publicidade?
Pois estamos aqui, consumidoras, pensadoras, cidadãs,
formadoras de opinião, dizendo que esse comercial não nos representa. Durmam
com esse barulho!
Fonte: Blogueira Negras
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