terça-feira, 11 de março de 2014

Riachuelo é acusada de racismo em propaganda para o Dia Internacional da Mulher.

Propaganda da Riachuelo para o Dia Internacional da Mulher gera polêmica ao ter uma mulher negra vestindo uma branca.


Uma polêmica tomou conta das redes sociais desde ontem. Tudo isso, depois que a Riachuelo começou a veicular a sua campanha do Dia Internacional da Mulher. Na propaganda, uma mão negra serve uma mulher branca.
O filme de 30 segundos tem como conceito “O dia da mulher brasileira”, mas traz uma modelo branca como principal, seguida das mãos de uma mulher negra colocando acessórios e sapatos da Riachuelo. As mãos não tem rosto, apenas servem.

Como resposta, a Riachuelo teve uma enxurrada de comentários negativos à propaganda. Tanto foi que rapidamente o vídeo foi tirado do Youtube. Horas depois, a Riachuelo não soube responder aos internautas que questionavam o motivo das mulheres negras nunca aparecerem em filmes de propagandas e, o pior, agora apenas mulheres branca sendo servidas por negras.
Mesmo sendo acusada de racismo, a Riachuelo não fez nenhum pedido de desculpas pela propaganda.
Em texto publicado por Zaira Pires no blog Blogueiras Negras, criticou a escolha da Riachuelo em estrelar uma mulher branca na campanha.
“A mulher brasileira padrão, essa do comercial, corresponde exatamente ao padrão médio da brasileira, afinal, somos majoritariamente brancas, loiras, com traços faciais finos e tão magras e altas como sílfides mitológicas. Uai, não somos?”, ironiza.
E continua.

“Afinal, o que a Riachuelo nos diz com esse filme, e o que muitas outras nos dirão nessa semana, é que mulher negra consumidora é paradoxo, e já que ela não existe, porque deveria ser representada numa propaganda? Quem disse que preta tem dinheiro? Quem disse que preta compra alguma coisa? Quem disse que preta entende de publicidade?”, completa.
Enquanto isso, mulheres passam por situações humilhantes e são impedidas de uma vida livre de preconceitos. E você Maria? Se viu representada nessa propaganda?

Fonte: Exame
Veja o texto completo de Zaíra Pires:

Riachuelo homenageia Dia Internacional da Mulher Branca, por Zaíra Pires

  Mais um 8 de março se aproxima e recebemos aquela enxurrada de chorume em nossas existências femininas nos "homenageando" por sermos delicadas, amorosas, resilientes, submissas, mães, esposas, damas na sociedade e amantes ardentes entre quatro paredes.
Todo esse repentino amor tem hora pra começar e acabar, durando o tempo do mês de março, da semana do 8 ou só desse dia mesmo, de acordo com o tanto de baboseira que cada um consegue produzir.
Nesse sentido, as mulheres homenageadas são sempre as mesmas: brancas, jovens, magras, ocidentais, cristãs e cisgêneras.
E para não perder o costume, nós, as pretas neuróticas, recalcadas, mal amadas e que veem racismo em tudo, vamos direcionar nossa crítica destrutiva ao bode expiatório da vez: a Riachuelo e sua campanha pela Semana da Mulher Brasileira 2014 (leiam ironia nas minhas palavras, por favor).
Como podemos ver no vídeo, a mulher brasileira padrão, essa do comercial, corresponde exatamente ao padrão médio da brasileira, afinal, somos majoritariamente brancas, loiras, com traços faciais finos e tão magras e altas como sílfides mitológicas. Uai, não somos?
E então que a presença negra no comercial é de uma mão que serve. Um corpo sem cara, que não consome, não tem vontades, sequer existe, apenas serve. Uma sombra semivivente que só se presta a apoiar a existência da sua senhora.
Sim, porque a mulher que deve ser homenageada na semana da mulher é aquela branca que trabalha fora, independente, bem resolvida, que limpa a casa, cuida dos filhos, serve ao seu marido e sempre está com as unhas feitas e a depilação em dia. Essa é uma super mulher que consegue viver seus rompantes de modernidade sem deixar de lado suas obrigações femininas. Essa merece ser louvada e ganhar um desconto nas compras da semana por cumprir suas funções com tanto esmero.
A preta que sustenta a família com seu salário do subemprego, que enfrenta 5 horas de ônibus sujeita a abuso sexual, que vê seu filho ser morto pela polícia, que morre por complicações aborto inseguro, que está fadada ao serviço doméstico desde sempre como se isso fosse inerente à sua existência, que suporta as investidas sexuais do patrão e do filho do patrão para não perder o sustento dos seus, que é a principal vítima de negligência na saúde pública, que deixa seus filhos sozinhos em casa pra cuidar dos filhos da patroa branca, que é a maioria entre as trabalhadoras do sexo, que não completa os anos básicos de estudo porque precisa sair para trabalhar, que tem que se virar em quinze para viver e ainda manter o sorriso no rosto, essa não merece as homenagens desse dia.
Na verdade essa mulher é a serviçal que deve se alegrar por ter a honra de ver seus braços pretos aparecerem na televisão.
Afinal, o que a Riachuelo nos diz com esse filme, e o que muitas outras nos dirão nessa semana, é que mulher negra consumidora é paradoxo, e já que ela não existe, porque deveria ser representada numa propaganda? Quem disse que preta tem dinheiro? Quem disse que preta compra alguma coisa? Quem disse que preta entende de publicidade?
Pois estamos aqui, consumidoras, pensadoras, cidadãs, formadoras de opinião, dizendo que esse comercial não nos representa. Durmam com esse barulho!

Fonte: Blogueira Negras

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