Jovem de El Salvador foi enganada e, por quase um ano, se
escondeu em São Paulo.
A história de Camila Sousa* foi contada com exclusividade à
reportagem do O SÃO PAULO nas escadarias da igreja Nossa Senhora da Paz, em São
Paulo, um dia antes que ela viajasse de volta para El Salvador, seu país de
origem. O drama vivido pela jovem de 26 anos foi relatado com emoção e voz
baixa, porque, quando se vive uma situação como a dela, qualquer lugar ou
pessoa passam a ser temidos.
Camila conheceu Carlos José*, boliviano, pela internet. Eles
começaram um relacionamento online, e, depois de mais de um ano, ele a convidou
para um encontro em São Paulo. "Ele pagou tudo, as passagens, gastos da
viagem. Disse-me que eu não precisava me preocupar com hospedagem e
alimentação, porque ele estava bem estabelecido em São Paulo.”
A jovem, que tem uma filhinha de 3 anos, tirou o passaporte
e teve autorização para ficar um mês no Brasil. "No início foi tudo muito
bom! A gente passeava, ele era muito gentil comigo. Depois, foi ficando cada
vez mais difícil, ele não queria que eu levantasse a cabeça quando saíamos
juntos, pois tinha ciúmes e dizia que eu estava olhando para outros homens, por
isso, precisava andar de cabeça baixa ao seu lado.”
Com a passagem já comprada, Camila queria voltar logo para
casa, mas tinha que esperar. Quando faltavam poucos dias para a viagem, Carlos
tomou das mãos dela os documentos e os rasgou em pedacinhos. Emocionada, a
jovem mostrava o passaporte que ela colou com fita adesiva.
Então, o homem começou a tê-la como prisioneira na oficina
de costura que tinha e a fazer ameaças. "Ele dizia que, se eu fugisse, ia
me dar mal, porque não conhecia nada da cidade e não sabia falar bem o
português. Um dia, chegou a me agredir e dizer que, se eu fugisse, ele iria
atrás de mim, pois já tinha acabado com a vida de uma mulher.”
"Depois daquele dia, eu fiquei com muito medo, e não
conseguia falar com ninguém, nem com os funcionários da oficina de costura.
Cheguei a tomar um monte de remédios, porque estava desesperada e queria tirar
minha vida, mas o máximo que eles me fizeram foi ter muito sono e uma diarreia
forte.”
Um dia, porém, Camila decidiu fugir. Sem saber onde estava,
saiu à rua procurando pelo bairro do Brás, pois era a único lugar que tinha
ouvido falar. "Não levei nada, só meus documentos. Peguei a chave
escondida e saí correndo.” De ônibus, ela foi para o Brás e, chegando lá, disse
que era estrangeira e precisava de ajuda.
"Indicaram a Casa do Migrante”, disse. A Casa fica na
rua do Glicério e hospeda migrantes do Brasil e do exterior, além de
auxiliá-los com documentação e busca de trabalho. "Isso aconteceu em
janeiro [de 2013]. Desde então, nunca mais tive coragem de sair da casa. Tinha
medo de que ele me encontrasse na rua.”
Camila entrou em contato com a família e soube que Carlos
tinha feito a mesma coisa. No dia 7 de setembro de 2013, quando conversou com a
reportagem, já estava de passagem marcada e muito ansiosa para voltar.
"Ele me explorou, me usou e não sei se vou conseguir
superar isso.” Ao ser perguntada se denunciaria Carlos, Camila disse que não.
"Não quero mais pronunciar o nome dele. Quero apenas que este pesadelo
acabe. Quero ver minha filha, cuidar dela e viver em paz.”
*Nomes fictícios
Fonte: (Por Nayá Fernandes) Jornal O São Paulo
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