O amor ao inimigo não é um ensinamento secundário de Jesus,
dirigido a pessoas chamadas a uma perfeição heroica. A Sua chamada quer
introduzir na história uma atitude nova ante o inimigo porque quer eliminar do
mundo o ódio e a violência destruidora. Quem se assemelha a Deus não alimentará
o ódio contra ninguém, procurará o bem de todos, inclusive dos seus inimigos.
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de
Jesus Cristo segundo Mateus 5, 38-48 que corresponde ao Sétimo Domingo do Tempo
Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta
o texto.
A chamada ao amor é sempre sedutora. Seguramente, muitos
acolhiam com agrado a chamada de Jesus a amar a Deus e ao próximo. Era a melhor
síntese da Lei. Mas o que não podiam imaginar é que um dia lhes falasse de amar
os inimigos.
No entanto, Jesus o fez. Sem respaldo algum da tradição
bíblica, distanciando-se dos salmos de vingança que alimentavam a oração do Seu
povo, enfrentando-se ao clima geral de ódio que se respirava à Sua volta,
proclamou com clareza absoluta a Sua chamada: “Eu vos digo: Amai os vossos
inimigos, fazei o bem a quem vos incomoda e rezai pelos que vos caluniam”.
A Sua linguagem é escandalosa e surpreendente, mas
totalmente coerente com a Sua experiência de Deus. O Pai não é violento: ama
inclusive os Seus inimigos, não procura a destruição de ninguém. A Sua grandeza
não consiste em vingar-se, mas em amar incondicionalmente a todos. Quem se
sinta filho desse Deus não introduzirá no mundo o ódio nem a destruição de
ninguém.
O amor ao inimigo não é um ensinamento secundário de Jesus,
dirigido a pessoas chamadas a uma perfeição heroica. A Sua chamada quer
introduzir na história uma atitude nova ante o inimigo porque quer eliminar do
mundo o ódio e a violência destruidora. Quem se assemelha a Deus não alimentará
o ódio contra ninguém, procurará o bem de todos, inclusive dos seus inimigos.
Quando Jesus fala do amor ao inimigo, não está nos pedindo
para nutrir sentimentos de afeto, simpatia ou carinho para quem nos faz mal. O
inimigo continua sendo alguém de quem podemos esperar danos, e dificilmente
podem mudar os sentimentos do nosso coração.
Amar o inimigo significa, antes de tudo, não fazer-lhe mal,
não procurar nem desejar fazer-lhe mal. Não temos de estranhar se não sentimos
amor algum para com ele. É natural que nos sintamos feridos ou humilhados.
Temos de nos preocupar quando continuamos a alimentar o ódio e a sede de
vingança.
Mas não se trata só de não fazer-lhe mal. Podemos dar mais
passos até estar inclusive dispostos a fazer-lhe o bem se o encontramos
necessitado. Não temos de esquecer que somos mais humanos quando perdoamos do
que quando nos vingamos alegrando-nos da sua desgraça.
O perdão sincero ao inimigo não é fácil. Em algumas
circunstâncias, à pessoa pode ser naquele momento praticamente impossível
libertar-se da rejeição, do ódio ou da sede de vingança. Não devemos julgar
ninguém. Só Deus nos compreende e perdoa de forma incondicional, inclusive
quando não somos capazes de perdoar.
Fonte: Ihu
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