O que o país menos
precisa é que seja incentivada a exploração sexual de suas mulheres. A
diferença de renda ainda é imensa e a prostituição, por mais que desejamos que
seja regulamentada para que suas regras acabem com tráfico de pessoas e
exploração de crianças e adolescentes, ainda é a única saída para mulheres que
não têm escolha.
Por Carol Patrocínio
A Copa nem começou e já não está fácil falar sobre ela.
Quando não é a polícia agredindo manifestantes pacíficos com a desculpa de que
eles poderiam se tornar vândalos – seguindo esse raciocínio, qualquer pessoa
andando na rua, perto de um banco, pode virar assaltante -, se machucando –
houve relatados vários casos de policiais da chamada tropa do braço, que teve
três meses de treino de jiu jitsu, quebrando o próprio braço ao aplicar golpes
de maneira errada – são marcas passando dos limites para lucrar com o evento. A
Adidas foi uma delas.
No site da marca há uma linha de roupas especial para a
Copa. O problema é que duas camisetas tinham um recado bastante estranho... Em
uma delas, a frase “Eu amo o Brasil”, em inglês, era acompanhada por um coração
amarelo, em que também pode ser enxergado no formato de nádegas com um fio
dental verde. A outra, com a frase "Lookin’ to score", que pode ser
traduzida como "em busca dos gols" ou "pegar garotas", de
uma maneira sexual, é acompanhada de uma linda mulher de biquíni. Como se o
país precisasse de mais gente incentivando o turismo sexual...
Em 2001, o Brasil ocupava o primeiro lugar em Exploração
Sexual Infanto-Juvenil na América Latina e o segundo no mundo, segundo
relatório sobre Exploração Infantil produzido pela ONU. De lá para cá as coisas
não mudaram tanto assim, infelizmente. Em 2007, o documento Informe sobre o
Tráfico de Pessoas, divulgado pelo Departamento de Estado Americano, informou
que no Brasil havia 500 mil crianças em estado de exploração sexual comercial.
O que o país menos precisa é que seja incentivada a
exploração sexual de suas mulheres. A diferença de renda ainda é imensa e a
prostituição, por mais que desejamos que seja regulamentada para que suas
regras acabem com tráfico de pessoas e exploração de crianças e adolescentes,
ainda é a única saída para mulheres que não têm escolha.
É claro que vemos muitas mulheres, nas grandes capitais, que
optam pela prostituição, mas nos lugares mais pobres do Brasil, em que o
trabalho é braçal e disputado com unhas e dentes por homens, as mulheres não
podem escolher e só as resta usar o corpo para garantir sua sobrevivência.
A prostituição não é errada, cada pessoa adulta decide o que
fazer com seu corpo, mas impor essa escolha a mulheres e crianças que não tem
para onde ir, é. Isso é exploração e incentivar o turismo sexual é ser
conivente com esse problema. Não adianta tapar os olhos, a única maneira de
mudar esse panorama é levantar-se contra ele em alto e bom som. Coisa que a
Adidas não fez nem em sua nota à imprensa.
Resposta rápida
A Adidas, que é patrocinadora da Copa do Mundo, informou em
nota que suspenderá a venda das camisetas. “A Adidas sempre acompanha de perto
a opinião de seus consumidores e parceiros, e por isso anuncia que os produtos
em questão não serão mais comercializados pela marca. É importante frisar que
trata-se de uma edição limitada que estaria disponível apenas para os Estados
Unidos.”
É ótimo saber que os produtos estarão fora do mercado, mas é
triste ver que uma marca não consegue pedir desculpas e enxergar erros. Eles
dizem, com todas as letras, que retiraram do mercado porque viram que não
agradou, mas tentam se justificar dizendo que a camiseta só seria vendida no
Estados Unidos.
De acordo com o diretor do departamento de estudos e
pesquisas do Ministério do Turismo,
José Francisco Lopes, 41% dos turistas que vem ao Brasil
durante a Copa são dos Estados Unidos. Imagina só se “apenas” eles entrassem de
cabeça na ideia proposta pela Adidas?
O lado bom da moeda
Em contrapartida, as ONGs End Child Prostitution, Child
Pornography and Trafficking of Children for Sexual Purposes (Ecpat France) e
Fondation Selles, com fundos da União Europeia, trabalham desde 2013 a campanha
"Não desvie o olhar", divulgada em dez países da Europa e em quatro
da África, em parceria com redes de hotéis e companhias aéreas.
A ideia é trabalhar contra o turismo sexual e a exploração
de crianças e adolescentes e minimizar os efeitos negativos da invasão
estrangeira ao País durante três eventos: a Copa das Confederações, a Copa do
Mundo, em 2014, e os Jogos Olímpicos, em 2016.
Fonte: Yahoo
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