Em seu discurso, no dia 25-01-2014, a um grupo de mulheres
italianas, o Papa Francisco mais uma vez expressou uma “esperança vívida” de
que as mulheres irão desempenhar um papel “mais capilar e incisivo” na Igreja
Católica, bem como em todos espaços em que “as decisões mais importantes são
adotadas”.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por National
Catholic Reporter, 25-01-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Francisco fez o comentário durante um discurso no Centro
Italiano Femminile, originalmente fundado em 1944 para promover o envolvimento
das mulheres na reconstrução da Itália no pós-Guerra e inspirado pela tradição
cristã.
Embora reafirmando a proibição de sacerdotes do sexo
feminino, em várias ocasiões o papa manifestou o desejo de um papel maior às
mulheres na Igreja, incluindo sua conferência de imprensa, em julho, a bordo de
um avião retornando do Brasil e em sua recente exortação apostólica “Evangelii
Gaudium”.
Francisco não ofereceu nada em específico no tocante a quais
papéis poderiam ser, mas a repetição deste assunto dá a entender, sem dúvida,
que isso seja uma prioridade papal.
“Fico feliz em ver muitas mulheres partilhando certas
responsabilidades pastorais no acompanhamento a indivíduos, famílias e grupos,
e na reflexão teológica”, disse o religioso. “E eu manifestei esperanças de que
espaços para uma presença feminina que seja mais capilar e incisiva na Igreja
serão ampliados”.
A seguir apresentamos texto do discurso do Papa Francisco na
íntegra.
* * *
Agradeço ao Senhor junto de todas vocês por tudo de bom que
o Centro Italiano Femminile vem realizando durante os seus quase 70 anos de
existência, pelo trabalho que é realizado na área da formação e promoção humana
e pelo testemunho que é dado quanto ao papel da mulher na sociedade e na
comunidade eclesial. Na verdade, no arco destas décadas, ao lado de outras
transformações culturais e sociais, a identidade e o papel da mulher, na
família, em sociedade e na Igreja, passou por mutações notáveis e, em geral, a
participação e responsabilidade das mulheres cresceram.
Neste processo, o discernimento do magistério dos papas foi,
e é, importante. De modo especial a carta apostólica do beato João Paulo II
intitulada Mulieres Dignitatem, de 1998, deve ser lembrada quanto à dignidade e
vocação da mulher. É um documento que, em consonância com o ensino do Concílio
Vaticano II, reconheceu a força moral da mulher e sua força espiritual (cf. §
30); e lembremos também a mensagem para o Dia Mundial da Paz, em 1995, sobre o
assunto “A mulher: educadora da paz”.
Eu igualmente recordei o papel indispensável da mulher na
sociedade, em particular com sua sensibilidade e intuição para com o outro, com
os fracos e indefesos; fico feliz em ver muitas mulheres partilhando certas responsabilidades
pastorais no acompanhamento a indivíduos, famílias e grupos, e na reflexão
teológica; manifestei esperanças de que espaços para uma presença feminina que
seja mais capilar e incisiva na Igreja serão ampliados. (Cf. exortação
Evangelii Gaudium, § 103).
Estes novos espaços e responsabilidades que se abriram, e eu
vividamente espero que eles possam ser expandidos ainda mais para a presença e
atividade das mulheres, tanto no âmbito eclesial quanto no da sociedade civil e
nas profissões, não pode nos fazer esquecer o papel insubstituível delas na
família. Os dons da delicadeza, de uma sensibilidade e ternura especiais, que
constituem a riqueza do espírito feminino, representam uma força genuína para a
vida da família, para a irradiação de um clima de serenidade e harmonia, mas
uma realidade sem a qual a vocação humana seria irrealizável.
Se no mundo do trabalho e na esfera pública é importante ter
um papel mais incisivo para o gênio feminino, tal papel também continua
essencial no âmbito da família, que para nós, cristãos, não apenas é um lugar
privado como também a “Igreja doméstica” cuja saúde e prosperidade são
pré-requisitos para a saúde e prosperidade da Igreja e da própria sociedade. A
presença das mulheres no âmbito doméstico mostra-se, portanto, ser mais
necessário do que nunca para a transmissão de princípios morais sólidos às
futuras gerações e para a transmissão da própria fé.
A esta altura é natural perguntar: Como é possível cultivar
a presença efetiva [das mulheres] em tantos âmbitos da vida pública, no mundo
do trabalho e em espaços onde as decisões mais importantes são adotadas, e ao
mesmo tempo manter uma presença e uma atenção preferencial, que é extremamente
especial, na e para a família? Eis uma área em que o discernimento, bem como a
reflexão sobre a realidade da mulher em sociedade, pressupõe oração assídua e
persistente.
É no diálogo com Deus, iluminado pela sua palavra e irrigado
pela graça dos sacramentos, que a mulher cristã sempre busca novamente
responder ao chamado do Senhor, no contexto concreto de sua situação pessoal.
Esta oração é sempre sustentada pela presença maternal de Maria. Ela que cuidou
de seu Filho divino, que ganhou o favor de seu primeiro milagre no casamento em
Cana, que esteve presente no Calvário e no Dia de Pentecostes, mostra o caminho
a ser trilhado a fim de aprofundarmos o significado e o papel da mulher em
sociedade e para sermos totalmente fiéis ao Senhor Jesus Cristo e à sua missão
no mundo.
Fonte: Ihu
Nenhum comentário:
Postar um comentário