Um documento pelo compromisso social das Igrejas deve
expressar hoje, naturalmente, a consciência dos problemas e das diferenças de
gênero: em todas as reflexões, portanto, deve se questionar até que ponto as
mulheres e os homens são afetados de forma diferente por determinadas situações
problemáticas ou por abordagens específicas de solução – e isso sem repetir
modelos de papéis estereotipados.
Um documento pelo compromisso social, acima
de tudo, deve conter ideias e propostas das mulheres, o que significa que, no
grupo dos autores do documentos, as mulheres devem ser ao menos a metade;
melhor ainda se em maior número.
A reportagem é de Antje Schrupp, publicada no sítio
Publik-forum.de, 27-06-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Não precisamos de mais um documento em que sejam
predominantemente os homens que expressam a sua visão de mundo e as suas
demandas de mudança. De fato, as mulheres não são apenas as mais afetadas pelas
consequências da transformação neoliberal, mas são também as especialistas nos
problemas que dela derivam.
As mais afetadas pela pobreza são as mulheres,
principalmente se tiverem que se ocupar dos filhos. Em sua maioria, as mulheres
desempenham aqueles trabalhos que são tão importantes para o bem-estar da sociedade,
que, no entanto, ainda não está claro como podem ser organizados no futuro de
uma forma mais humana: como mães, filhas ou noras com um trabalho não pago
doméstico ou de cuidados nas famílias, como mulheres migrantes com direito de
permanência precário ligado ao cuidado de idosos ou ao exercício de funções de
serviço nas casas da população ativa alemã, mal pagas e com uma excessiva carga
de trabalho na assistência em hospitais ou em instituições para idosos, ou
ativas como voluntárias em projetos de caridade ou sociais.
Todas estão não só sofrendo de maneira particular por causa
das atuais injustiças sociais e pagando pelas decisões políticas erradas das
últimas décadas, mas também são elas que, além disso, com base nas suas
experiências e na sua práxis cotidiana, dispõem de um saber precioso que é
indispensável quando se buscam saídas.
Além dessas mulheres que vivem a situação na prática
cotidiana, estudiosas e ativistas feministas também deveriam colaborar na
confecção de um documento pelo compromisso social, já que é nesse âmbito que
foram feitas muitas pesquisas e batalhas nos últimos anos, mas que raramente
são conhecidas pela cultura social dominante.
Nesse sentido, é preciso esclarecer que a tarefa dessas
mulheres não pode ser o de falar "em nome das mulheres" ou de
representar uma chamada "perspectiva feminina". Não é que as
mulheres, em razão do sexo, tenham as mesmas ideias e os mesmos interesses: o
pensamento feminino é, por si só, pluralista e também controverso. Mas justamente
aqueles pontos sobre os quais não há unanimidade entre as mulheres são muitas
vezes pontos nodais, com relação aos quais as dificuldades de uma transformação
social ficam claras, inteligíveis.
O modelo de trabalho individual em tempo integral é um
modelo avançado ou precisamos de formas mais fortes de "remodelação da
necessidade de uma atividade remunerada ao longo da vida"? O futuro do
trabalho de assistência está em uma maior profissionalização ou não seria
melhor, ao invés, favorecer formas de compromisso não pagas, por exemplo
mediante uma "renda básica" incondicional? Devemos visar mais à
imigração para suprir a demanda de trabalho de assistência e serviços nas casa
ou, dessa forma, exploramos apenas as precárias condições de vida de outros
países?
Os debates feministas dos últimos anos mostraram que há
muito tempo as mulheres não se contentam mais com a sua "equiparação"
no âmbito de determinadas instituições, mas fazem demandas e propostas de
soluções que superaram a norma masculina como ponto de orientação. Um documento
pelo compromisso social que queira olhar para o futuro deve representar esse
processo.
Fonte: Ihu
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