O grande obstáculo que nos impede hoje a muitos cristãos de
seguirem de verdade a Jesus é o bem-estar em que vivemos instalados. Dá-nos
medo levar a sério porque sabemos que nos exigiria viver de forma mais generosa
e solidária. Somos escravos do nosso pequeno bem-estar.
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de
Jesus Cristo segundo
Lucas 9, 51-62, que corresponde ao 13º Domingo do Tempo
Ordinário, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola
comenta o texto.
No Brasil, as leituras correspondem à Festa de São Pedro e
São Paulo transferida do dia 29 para o dia 30 de junho.
Eis o texto
Jesus empreende com decisão a sua marcha para Jerusalém.
Sabe o perigo que corre na capital, mas nada o detém. A sua vida só tem um
objetivo: anunciar e promover o projeto do reino de Deus. A marcha começa mal:
os samaritanos rejeitam-no. Está acostumado: o mesmo sucedeu na sua terra em
Nazaré.
Jesus sabe que não é fácil acompanharem-no na sua vida de
profeta itinerante. Não pode oferecer aos seus seguidores a segurança e o
prestígio que podem prometer os letrados da lei aos seus discípulos. Jesus não
engana ninguém. Quem o queira seguir terá que aprender a viver como Ele.
Enquanto estão a caminho, aproxima-se um desconhecido.
Encontra-se entusiasmado: “Seguir-te-ei aonde vás”. Antes de tudo, Jesus
faz-lhe ver que não espere Dele segurança, vantagens nem bem-estar. Ele mesmo
“não tem onde reclinar a sua cabeça”. Não tem casa, come o que lhe oferecem,
dorme onde pode.
Não nos enganemos. O grande obstáculo que nos impede hoje a
muitos cristãos de seguirem de verdade a Jesus é o bem-estar em que vivemos
instalados. Dá-nos medo levar a sério porque sabemos que nos exigiria viver de
forma mais generosa e solidária. Somos escravos do nosso pequeno bem-estar.
Talvez, a crise econômica nos possa fazer mais humanos e mais cristãos.
Outro pede a Jesus que o deixe ir enterrar o seu pai antes
de segui-lo. Jesus responde-lhe com um jogo de palavras provocador e
enigmático: “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos, tu, vai anunciar o
reino de Deus”. Estas palavras desconcertantes questionam o nosso estilo
convencional de viver.
Temos de ampliar o horizonte em que nos movemos. A família
não é tudo. Há algo mais importante. Se nos decidimos a seguir Jesus, temos de
pensar também na família humana: ninguém deveria viver sem lar, sem pátria, sem
papéis, sem direitos. Todos podem fazer alguma coisa por um mundo mais justo e
mais fraterno.
Outro está disposto a segui-lo, mas antes quer despedir-se
da sua família. Jesus surpreende-o com estas palavras: “O que deita a mão ao
arado e continua olhando para trás não serve para o reino de Deus”. Colaborar
no projeto de Jesus exige dedicação total, olhar para frente sem distrações,
caminhar para o futuro sem nos encerrarmos no passado.
Recentemente, o Papa Francisco advertiu-nos de algo que está
acontecendo na Igreja: “Temos medo que Deus nos leve por caminhos novos,
tirando-nos dos nossos horizontes, com frequência limitados, fechados e
egoístas, para nos abrir aos seus.
Fonte: Ihu
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