Uma das líderes da Leadership Conference of Women Religious
(LCWR), Ir. Pat Farrell, rompe o silêncio em uma entrevista radiofônica à
National Public Radio (NPR). "O problema é que o ensinamento e a interpretação da doutrina não podem permanecer estáticos, enquanto o mundo caminha: é preciso uma reformulação continua, a partir de alguns princípios básicos. Como religiosas, estamos cotidianamente em contato com as mulheres que também vivem às margens da sociedade, e as suas vidas são muito mais complicadas do que se possa imaginar. A nossa missão é a de nos colocarmos ao lado dos mais pobres, mas as suas questões, assim como todas as realidades humanas, são muito menos 'branco no preto' do que certas teorias".
A reportagem é de Maria Teresa Pontara Pederiva, publicada
no sítio Vatican Insider, 19-07-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Para muitos, pareceu mais do que uma coincidência, mas, no
dia seguinte à anunciada mudança de guarda na liderança da Sagrada Congregação
para a Doutrina da Fé – do norte-americano Levada ao alemão Müller – as irmãs
norte-americanas da LWCR, a associação que representa 80% delas e que está
preparando a assembleia nacional para o mês de agosto, rompem o silêncio e
aceitam falar sobre o comissariamento.
E não é por acaso que a primeira a falar tenha sido
justamente a presidente Pat Farrell, número dois da Congregação das Irmãs
Franciscanas de Dubuque, em Iowa: durante uma entrevista à National Public
Radio (NPR), em um dos programas mais ouvidos.
Embora reiterando o que já foi respondido oficialmente pela
associação às acusações feitas pelo Vaticano – "infundadas" e
"potencialmente destrutivas para a continuidade da sua missão" –, a
sua reflexão foi mais longe: "Eu acho que há questões hoje ignoradas pela
Igreja, mas sobre as quais é necessário um autêntico diálogo, mas não parece
haver um clima favorável neste momento".
Para a Ir. Farrell, há uma questão fundamental: é possível
fazer parte da Igreja, mas com uma mentalidade de diálogo e discussão? Porque –
diz ela – "às vezes não há uma diferença tão clara 'branco no preto', mas
as situações são muito mais complexa para destrincar e mudam rapidamente diante
dos nossos olhos".
"A nossa esperança é a de contribuir para criar um
clima de sinceridade e de respeito em que a hierarquia e o restante do povo de
Deus possam levantar questões, discuti-las em um clima de sinceridade e
respeito recíproco, com o objetivo de buscar juntos a verdade e as soluções.
Mas o mandato que alguns bispos norte-americanos receberam da Congregação
vaticana vai em uma direção totalmente diferente e deixa até presumir um
fechamento do diálogo".
Uma das questões sobre a mesa, sobre a qual o machado de
Levada se abateu, é a doutrina acerca da sexualidade, mas também aqui a Ir.
Farrell não se deixa ser posta de lado por quem a rejeita, ao contrário.
"O problema é que o ensinamento e a interpretação da doutrina não podem
permanecer estáticos, enquanto o mundo caminha: é preciso uma reformulação
continua, a partir de alguns princípios básicos. Como religiosas, estamos
cotidianamente em contato com as mulheres que também vivem às margens da
sociedade, e as suas vidas são muito mais complicadas do que se possa imaginar.
A nossa missão é a de nos colocarmos ao lado dos mais pobres, mas as suas
questões, assim como todas as realidades humanas, são muito menos 'branco no
preto' do que certas teorias. A hierarquia não tem a tarefa de passar os seus
dias entre os sem-teto, mas as religiosas, sim".
Mas o discurso não podia não abordar a sua posição com
relação à luta contra o aborto, julgada por Roma como "muito branda":
"Eu acho que todas as religiosas sempre expressaram o seu apoio ao tema da
vida; ou, melhor, toda a nossa existência é pró-vida, mas vida totalmente
inteira. A nossa esperança é que também seja assim em nível de intervenção
política, enquanto parece haver uma questão 'pró-feto', ao invés de 'pró-vida'
global. Porque os direitos do nascituro já são um emblema dos direitos dos 'já
nascidos'. Sustentar a vida, toda a vida, significa se ocupar também daqueles
que estão à margem da sociedade: os desprezados, os doentes mentais crônicos,
os idosos, os presos, aqueles que estão nos braços da morte. Nós levantamos a
voz contra a pena de morte, a guerra, por quem sofre de fome também aqui. A
Igreja fala em favor do feto, mas se cala sobre outras questões igualmente
vitais, e isso é uma distorção".
É preciso notar que, depois de todas as manifestações
espontâneas de apoio às irmãs, até das mais formais, como a plena adesão de
todos os superiores das sete províncias dos Frades Menores dos EUA, as irmãs
também receberam o apoio total em inúmeros comunicados oficiais da Ordem
Agostiniana, dos Missionários do Preciosíssimo Sangue, da Congregação dos Xaverianos
e de toda a Conferência dos Superiores Maiores, a contraparte masculina da
LWCR.
Fonte: Ihu
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