Trabalhadores do sexo têm
oferecido seus serviços pela internet, sem intermediários
A figura do cafetão está perdendo
força. A prostituição está saindo das ruas para a internet, fazendo com que a negociação
do serviço fique apenas entre o trabalhador sexual e o cliente. "Hoje não
tem mais cafetão, as pessoas procuram as acompanhantes nos sites e os telefones
são diretamente delas", diz Paulo* (nome fictício), fundador e
administrador do Fórum X, um site especializado na avaliação e troca de
informações sobre garotas de programa.
A antropóloga Soraya Silveira
Simões, coordenadora do Observatório da Prostituição, projeto de extensão do
Laboratório de Etnografia Metropolitana do IFCS (Instituto de Filosofia e
Ciências Sociais) da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), diz que,
apesar da crescente oferta de serviços sexuais no meio digital, a velha
prostituição ainda sobrevive.
"Uma geração mais antiga,
que já havia estabelecido sua clientela e suas relações de trabalho com outros
agentes, continua atuando em locais concretos na cidade", declara a
antropóloga
Monique Prada, trabalhadora
sexual de Porto Alegre e autora do blog "A Cortesã Moderna", faz
parte da geração que estabeleceu sua prática por meio da rede. "Prospecto
clientes por meio das redes sociais", conta ela, que não anuncia em sites
nem dispõe de agenciador.
Desmistificando o cafetão
Tanto na mídia quanto no
imaginário popular, o cafetão aparece como um explorador, geralmente violento e
ameaçador. Na prática, pode até ser que existam pessoas com esse perfil, porém
esses indivíduos não são maioria no mercado. A antropóloga Soraya Simões afirma
que é importante desfazer esse mito.
"Essa figura chamada cafetão
não passa, na verdade, do dono ou dona do estabelecimento comercial, que pode
ser tanto uma boate, um bar ou hotel", fala. Para Soraya, esses agentes,
além de favorecerem a atividade, também protegem aqueles que oferecem serviços
sexuais. "As pessoas exploradoras existem, mas isso acontece como em
qualquer mercado de trabalho."
Mesmo escolhendo ser autônoma, Monique
Prada não vê o papel dos intermediários como negativo, pelo contrário, diz que
essa função pode ser útil aos profissionais do sexo. "Em nenhuma outra
atividade se é obrigado a trabalhar sozinho, apenas no trabalho sexual há essa
exigência", afirma.
Monique diz isso porque no
Brasil, apesar da prostituição individual não ser ilegal, lucrar com a
atividade sexual de terceiros é crime, denominado lenocínio, com pena que vai
de dois a cinco anos de reclusão.
Aspectos legais
Para o professor Guilherme de
Souza Nucci, livre-docente em direito penal da PUC (Pontifícia Universidade
Católica) de São Paulo e desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, o
lenocínio, crime em que se enquadra a atividade do cafetão, deveria ser
revisto.
"Quando não houver violência,
ameaça ou fraude, todo tipo de agenciamento deve ser legalizado. O cafetão é um
empresário como outro qualquer", afirma Nucci.
A tecnologia também criou novos
perfis de cafetões ou cafetinas. "Hoje, temos outro tipo de intermediário,
além dos tradicionais, como os sites e fóruns", diz Monique Prada.
Contudo, a intermediação na
internet não é penalizada pela legislação. "Se as autoridades não ligam
para o agenciamento na web, não deveriam ligar também para o que é feito
pessoalmente", declara Guilherme Nucci.
De acordo com o professor da PUC,
quanto mais se atirar a prostituição na esfera da ilegalidade, mais essas
pessoas ficarão entregues nas mãos de verdadeiros exploradores violentos,
traficantes e outros. "Pois as prostitutas não têm nem para quem
reclamar", diz, apoiando a descriminalização do lenocínio não violento.
Fonte: Uol Noticias
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