Os espaços destinados as mulheres
podem ser estranhos para quem não está familiarizado, mas o cenário é mais
simples do que parece: mulheres sentadas em círculo, compartilhando dúvidas,
conhecimentos e experiências.
Por Paula Calçade e Naiara
Albuquerque, do HuffPost Brasil
Os lugares para mulheres existem
por uma razão: os espaços de fala e de poder, ao longo da história, foram
ocupados por homens.
Na escola, provavelmente, uma
professora ou um professor deve ter explicado que os gregos eram democráticos,
e que a “Ágora”, praças públicas aonde cidadãos se reuniam, simbolizavam essa
democracia.
No entanto, um fato curioso é
omitido dos livros: as mulheres não frequentavam esses espaços, não era
permitido. E, infelizmente, esse não é um acontecimento isolado na história e
continua sendo reafirmado ao longo do tempo.
Na Revolução Francesa e na
conhecida “Declaração do Homem e do Cidadão”, mais uma mulher ficou fora dos
livros: Marie Gouze Olympe de Gouges, tarjada de contra revolucionária, foi
guilhotinada em 1793 e por ser uma mulher “desnaturada”.
Marie Gouze pensou além de seu
tempo e não se contentou com documento, que garantia apenas direitos
masculinos. Por isso, fez uma nova versão: “A Declaração dos direitos da Mulher
e da Cidadã”.
Dentre os artigos descritos por
Gouze, está o número 10: “Ninguém deve ser molestado por suas opiniões, mesmo
de princípio. A mulher tem também o direito de subir ao pódio.” (…) Ou seja, a
luta por espaços de representação que aceitassem mulheres, ainda não existia.
Já no século XX, Virginia Woolf
continuaria a questionar o lugar “concedido” às mulheres.
O termo “Anjo do Lar” é usado
pela autora para designar as atividades domésticas, ou seja, as funções
exercidas pela dona de casa: cozinhar, passar, lavar, esfregar e educar, os
filhos. Esse estigma marcou o século XX e suas consequências são bastante
presentes nos dias atuais.
Essa linha histórica reflete um cenário
que se perpetua.
Por pertencer ao espaço
doméstico, portanto, recluso, todo assunto relacionado ao feminino não era dito
ou problematizado. A tão corriqueira frase “em briga de marido e mulher não se
mete a colher” é prova disso.
Algumas questões pertencentes a
esfera pública, por se tratar não só de um fato isolado, mas como no caso, de
também violência doméstica e também do feminicídio, foram cada vez mais para as
sombras.
Os reflexos práticos dessa
exclusão mostram que, apesar da sociedade brasileira ser composta por uma
população 52% feminina, somos apenas 10% no Senado e 9% na Câmara dos
Deputados, destacando a possibilidade dos espaços destinados a mulheres e de
reafirmação feminina, que acentuam o “empoderamento” da mulher em diversas
áreas.
Bianca Santana é uma das
diretoras de um espaço voltado às mulheres na Casa de Lua, organização
feminista não governamental.
Em entrevista, ela explica:
“Um dos temas das mulheres na
política tem muito a ver com não se sentir confiante e preparada. É muito comum
conversar com mulheres que se sentem inseguras para ocupar lugares de fala
pública. Isso está dentro da gente e é muito forte. A partir da complexidade do
universo da mulher, percebemos que esse olhar também é político.” (…).
Essa talvez seja mais uma forma
de a mulher assumir protagonismo social, cultural, político e econômico, antes
distantes. São casas, salas de universidades, reuniões, frentes feministas e
reuniões entre familiares mulheres que se espalham, ganham força e possibilitam
a união feminina.
São estes espaços que concedem a
chance de fuga do aprisionamento dos corpos e, finalmente, empoderam mulheres
nos espaços de fala, primeiro em círculos menores, para depois, ganharem o
mundo.
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