É urgente recuperar na Igreja
atual a importância decisiva que teve nos seus começos a experiência de escutar
no seio das comunidades cristãs o relato de Jesus recolhido nos evangelhos.
Estes quatro escritos constituem para os cristãos uma obra única que não
devemos equiparar ao resto dos livros bíblicos.
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o
Evangelho de Jesus segundo Lucas 9, 28-36 que corresponde ao 2° Domingo de
Quaresma, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola
comenta o texto. Eis o texto
A cena é considerada tradicionalmente como «a
transfiguração de Jesus». Não é possível reconstruir com certeza a experiência
que deu origem a este surpreendente relato, apenas sabemos que os evangelistas
lhe dão uma grande importância, pois, segundo o seu relato, é uma experiência
que deixa entrever algo da verdadeira identidade de Jesus.
Num primeiro momento, o relato
destaca a transformação do Seu rosto e, apesar de estar conversando com Ele
Moisés e Elias, talvez como representantes da lei e dos profetas
respectivamente, apenas o rosto de Jesus permanece transfigurado e
resplandecente no centro da cena.
Ao que parece, os discípulos não
captam o conteúdo profundo do que estão a viver, pois Pedro diz a Jesus: «Mestre,
que bom que se está aqui. Faremos três tendas: uma para ti, outra para Moisés e
outra para Elias». Coloca Jesus no mesmo plano e ao mesmo nível que os dois
grandes personagens bíblicos. Para cada um, sua tenda. Jesus não ocupa,
todavia, um lugar central e absoluto nos seus corações.
A voz de Deus vai corrigi-los,
revelando a verdadeira identidade de Jesus: «Este é o Meu Filho, o escolhido»,
o que tem o rosto transfigurado. Não tem de ser confundido com os de Moisés ou
Elias, que estão apagados. «Escutai-o». A ninguém mais. A Sua Palavra é a única
decisiva. As outras apenas nos levam até Ele.
É urgente recuperar na Igreja
atual a importância decisiva que teve nos seus começos a experiência de escutar
no seio das comunidades cristãs o relato de Jesus recolhido nos evangelhos.
Estes quatro escritos constituem para os cristãos uma obra única que não
devemos equiparar ao resto dos livros bíblicos.
Há algo que só neles podemos
encontrar: o impacto causado por Jesus nos primeiros que se sentiram atraídos
por Ele e o seguiram. Os evangelhos não são livros didáticos que expõem
doutrina acadêmica sobre Jesus. Tampouco biografias escritas para informar com
detalhe sobre Sua trajetória histórica. São «relatos de conversão» que convidam
à mudança, a seguir Jesus e a identificar-se com o Seu projeto.
Por isso pedem para ser escutados
numa atitude de conversão. E nessa atitude têm de ser lidos, pregados,
meditados e guardados no coração de cada crente e de cada comunidade. Uma
comunidade cristã que sabe escutar cada domingo o relato evangélico de Jesus
numa atitude de conversão, começa a transformar-se. Não há na Igreja um
potencial mais vigoroso de renovação que o que se encerra nesses quatro
pequenos livros.
Fonte: Ihu
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