Brasileira que ficou famosa a
contar as suas experiências como acompanhante de luxo num blogue - deu três
livros, um filme e uma série de TV - descobriu-se como médium na religião
afro-brasileira. Pelo meio, participou em reality shows e tornou-se DJ.
Seria um diário comum, como o de
tantas outras adolescentes, não fosse, no meio dos relatos típicos na vida de
todas as jovens, incluir aventuras no mundo da prostituição de luxo, da
indústria pornográfica, do consumo de drogas e da loucura das noites paulistana
e carioca. E seria secreto, como o de tantas outras adolescentes, não tivesse
sido publicado num blogue na internet com milhares de visualizações diárias.
Estávamos em 2005. Raquel Pacheco, a jovem do blogue, hoje com 31 anos,
tornou-se famosa no Brasil e mais tarde fora do país, sob o pseudónimo Bruna
Surfistinha.
A história dela rendeu três
livros autobiográficos, edições em Portugal, Espanha e América Latina, um filme
interpretado pela atriz Deborah Secco, artigos no jornal americano The New York
Times, entrevista no Programa do Jô, na TV Globo, e participação em reality
shows com outras subcelebridades, como o A Fazenda, da TV Record. Raquel - ou
Bruna Surfistinha - tornou-se conhecida quase do dia para a noite. Ou da noite
para o dia.
Encerrada a carreira na
prostituição e no mundo das drogas, para onde entrou, segundo a sua
autobiografia, depois de ter descoberto com 17 anos que fora adotada pelos
pais, uma família abastada de Sorocaba, a cerca de 90 quilómetros de São Paulo,
Bruna Surfistinha passou a ganhar a vida como DJ. E afastou-se progressivamente
dos holofotes. Até ser notícia na última semana quando decidiu revelar ao
jornal Folha de S. Paulo que se descobriu médium e praticante de umbanda,
religião afro-brasileira.
Num sonho, sentiu que o pai - com
quem rompera na fase da prostituição - havia morrido. Contou o episódio a uma
amiga que frequentava a Casa de São Lázaro, em São Paulo, um terreiro de
umbanda, e lá, entre orixás, as divindades africanas, pais e mães-de-santo, os
líderes dos terreiros, e médiuns, pessoas que comunicam com espíritos,
confirmou a morte do pai. Devastada, voltou dias depois e recebeu um abraço de
uma mãe-de-santo. "Um abraço que me colocou de volta no meu lugar e
mostrou o amor que eu podia encontrar ali."
Mais tarde incorporou num
espírito pela primeira vez. "Estava numa roda quando caí no chão, o meu
coração acelerou, pensei que fosse morrer mas os guias ajudaram-me, foi uma
experiência deliciosa", conta. Pouco depois teve autorização do líder
pai-de-santo para vestir-se de branco pela primeira vez. "É uma
experiência de paz, sou filha de Oxum [orixá que reina sobre o amor e a beleza]
e fui batizada em 2013, foi um recomeço, havia uma Raquel antes e outra depois
da umbanda, estou mais tranquila, feliz e em paz."
Mesmo considerada
"irrelevante" por alguns leitores do jornal Folha de S. Paulo, a
história da recém-convertida à umbanda Bruna Surfistinha liderou a lista de
partilhas online do site da publicação, à frente dos últimos escândalos de Lula
da Silva ou dos jogos da Taça dos Libertadores da América, em futebol, sinal do
apelo que a personagem ainda mantém. E o canal Fox já acabou de anunciar que
vai produzir uma série de TV sobre ela em 2016.
Fonte: www.dn.pt
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