O ser humano melhor sucedido não
é, como às vezes se pensa, aquele que consegue acumular mais quantidade de
dinheiro, mas quem sabe conviver melhor e de maneira mais fraterna.
A leitura que a Igreja propõe
neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 10,17-30 que
corresponde ao 28º Domingo do Tempo Comum, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo
espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Antes que se coloque a caminho,
um desconhecido aproxima-se de Jesus correndo. Ao que parece, tem pressa em
resolver o seu problema: "Que devo fazer para herdar a vida eterna?".
Não lhe preocupam os problemas desta vida. É rico. Tem tudo já resolvido.
Jesus o coloca diante da Lei de
Moisés. Curiosamente, não lhe recorda os dez mandamentos, mas somente aqueles
que proíbem agir contra o próximo. O jovem é um homem bom, observante fiel da
religião judia: "Tudo isso tenho observado desde a minha juventude".
Jesus fica olhando-o com carinho.
É admirável a vida de uma pessoa que não fez mal a ninguém. Jesus o quer,
agora, para que colabore com ele em seu projeto de fazer um mundo mais humano,
e lhe faz uma proposta surpreendente: “Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o
que tens e dá aos pobres... Depois vem e segue-me!". O rico possui muitas
coisas, porém lhe falta a única coisa que permite seguir Jesus de verdade. É
bom, porém vive apegado ao seu dinheiro. Jesus lhe pede que renuncie à sua
riqueza e a ponha ao serviço dos pobres. Somente compartilhando o que é seu com
os necessitados, poderá seguir Jesus colaborando em seu projeto.
O jovem se sente incapaz.
Necessita de bem-estar. Não tem forças para viver sem sua riqueza. Seu dinheiro
está acima de tudo. Renuncia a seguir Jesus. Tinha vindo correndo entusiasmado
até ele. Agora se distancia triste. Não conhecerá, jamais, a alegria de
colaborar com Jesus.
A crise econômica está convidando
os seguidores de Jesus a dar passos para uma vida mais sóbria, para
compartilhar com os necessitados o que temos e, simplesmente, não precisamos para
viver com dignidade. Temos de fazer-nos perguntas bem concretas se queremos
seguir Jesus nestes momentos.
A primeira coisa é revisar a
nossa relação com o dinheiro: Que fazer com o nosso dinheiro? Por que poupar?
Em que investir? Com quem compartilhar aquilo que não necessitamos? Em seguida,
revisar o nosso consumo para torná-lo mais responsável e menos compulsivo e
supérfluo: O que compramos? Onde compramos? Para que compramos? A quem podemos
ajudar a comprar o que necessita?
São perguntas que devemos fazer
no profundo de nossa consciência e, também, em nossas famílias, comunidades
cristãs e instituições da Igreja. Não faremos gestos heroicos, porém se dermos
pequenos passos nesta direção, conheceremos a alegria de seguir Jesus
contribuindo para tornar a crise de alguns um pouco mais humana e suave. Se não
fizermos assim, nos sentiremos bons cristãos, porém faltará a alegria à nossa
religião.
A MUDANÇA FUNDAMENTAL
A mudança fundamental para a qual
nos chama Jesus é clara. Deixar de sermos uns egoístas que enxergam as demais
pessoas em função de seus próprios interesses para nos atrevermos a iniciar uma
vida mais fraterna e solidária. Por isso, a um homem rico que observa fielmente
todos os preceitos da lei, mas vive fechado em sua própria riqueza, lhe falta
algo essencial para ser discípulo dele: compartilhar o que possui com os
necessitados.
Há algo muito claro no evangelho
de Jesus. A vida não nos foi dada para fazermos dinheiro, para termos êxito ou
para obtermos um bem-estar pessoal, mas para sermos irmãos. Se pudéssemos ver o
projeto de Deus com a transparência com a qual Jesus o vê e compreender, com um
único olhar, a profundidade última da existência, nos daríamos conta de que a
única coisa importante é criar fraternidade. O amor fraterno que nos leva a
compartilhar o que é nosso com os necessitados é "a única força de
crescimento", a única coisa que faz avançar, decisivamente, a humanidade
para sua salvação.
O ser humano melhor sucedido não
é, como às vezes se pensa, aquele que consegue acumular mais quantidade de
dinheiro, mas quem sabe conviver melhor e de maneira mais fraterna. Por isso,
quando alguém renuncia, aos poucos, à fraternidade e vai se fechando em suas
próprias riquezas e interesses, sem resolver o problema do amor, termina
fracassando como ser humano.
Ainda que viva observando
fielmente umas normas de conduta religiosa, ao encontrar-se com o evangelho
descobrirá que em sua vida não há verdadeira alegria, e se distanciará da
mensagem de Jesus com a mesma tristeza daquele homem que "foi embora cheio
de tristeza, porque era muito rico".
Com frequência, nós cristãos nos
instalamos comodamente em nossa religião, sem reagir diante do apelo do
evangelho e sem buscar nenhuma mudança decisiva em nossa vida. Nós
"rebaixamos" o evangelho, acomodando-o a nossos interesses. Porém,
essa religião não pode ser fonte de alegria. Ela nos deixa tristes e sem
consolo verdadeiro.
Diante do evangelho, devemos nos
perguntar sinceramente se nossa maneira de ganhar e gastar o dinheiro é própria
de quem sabe compartilhar ou é aquela de quem busca somente acumular. Se não
sabemos dar do nosso ao necessitado, algo essencial nos falta para vivermos com
alegria cristã.
Tradução do espanhol por: Pe.
Telmo José Amaral de Figueiredo.
Fonte: http://padretelmofigueiredo.blogspot.com.br/
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