A comediante Joan Rivers, que
morreu no ano passado, não permitia que as tarefas domésticas atrapalhassem sua
carreira artística. “Detesto esse negócio de ficar arrumando a casa”, caçoava
ela. “Você faz a cama, lava a louça e, seis meses depois, tem de começar tudo
de novo.”
Deixar os serviços maçantes e não
remunerados de lado para se dedicar a uma atividade assalariada parece
perspectiva distante para milhões de mulheres. No Sul da Ásia, por exemplo,
elas são responsáveis por até 90% das tarefas domésticas não remuneradas,
incluindo-se aí afazeres como cozinhar, limpar a casa e cuidar de crianças e
idosos. Na Índia, as mulheres são menos de um quarto da força de trabalho
assalariada, e respondem por apenas 17% do Produto Interno Bruto (PIB), uma
medida do total de bens e serviços produzidos que exclui atividades não
remuneradas. Já na China, as mulheres contribuem com 41% do PIB.
Um novo relatório elaborado pelo
McKinsey Global Institute (MGI) chama a atenção para o fato de que, em termos
de sua distribuição internacional, a desigualdade de gênero no trabalho e na
sociedade é um fenômeno em si mesmo desigual.
Com dados referentes a 90% da
população mundial, os analistas do MGI elaboraram um índice de paridade de
gênero, por meio do qual é possível mensurar o desempenho obtido pelas mulheres
no trabalho e na sociedade em comparação com os homens. Os cálculos indicam que
o Sul da Ásia (excluindo a Índia) é a região mais atrasada do mundo, com um
índice de 0,44 (um índice igual a 1 corresponderia a uma paridade perfeita
entre os dois sexos). As regiões mais ricas se saem muito melhor, mas ainda
estão longe da completa igualdade de gênero. A mais bem colocadas, com índices
de 0,74, são América do Norte e Oceania.
É difícil determinar com precisão
os custos sociais disso, mas o MGI tenta de estimar os prejuízos em termos da
riqueza que deixa de ser produzida. Outros estudos indicam que, se as mulheres
tivessem participação igual à dos homens na força de trabalho, os PIBs
nacionais seriam entre 5% e 20% maiores.
Mas isso não capta toda a riqueza
que deixa de ser produzida. Mesmo nos países desenvolvidos, onde as mulheres
são quase a metade dos assalariados, elas geralmente trabalham menos horas que
os homens e ocupam posições onde a produtividade é mais baixa – isso para não
falar nos salários inferiores, resultantes da discriminação. Se as diferenças
de gênero em termos de participação na força de trabalho, horas trabalhadas e
produtividade fossem todas eliminadas, o mundo seria US$ 28,4 trilhões mais
rico, calcula o MGI. Os ganhos potenciais são proporcionalmente maiores em
lugares onde menos mulheres têm empregos remunerados. A economia da Índia, por
exemplo, seria 60% maior.
Um exercício mais realista é
imaginar que os países consigam eliminar as diferenças de gênero em ritmo
semelhante ao registrado no país de sua região que melhor se sai nesse aspecto.
Até 2025, isso acrescentaria US$ 12 trilhões ao PIB mundial, calculam os
analistas do MGI – imaginando-se que os outros fatores permaneçam inalterados
(coisa que quase com certeza não acontecerá).
As políticas que poderiam reduzir
mais rapidamente as diferenças de gênero no trabalho – tais como manter as
meninas por mais tempo na escola, oferecer melhor proteção jurídica às mulheres
– são da alçada das autoridades governamentais. As mulheres cuja escolaridade
se equipara à dos homens têm mais chances de conseguir empregos com bons
salários em atividades que requerem alguma especialização. Também costumam
dividir mais equilibradamente com os homens a responsabilidade por tarefas não
remuneradas – ou pelo menos podem dizer, como fazia Rivers, que se dedicam aos
afazeres mais maçantes só de seis em seis meses.
Fonte: o Estadão
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