Como ser uma profissional
bem-sucedida em um mundo onde os afazeres domésticos são vistos como tarefas
exclusivamente femininas?
“Ela é mãe, esposa e profissional
bem-sucedida, uma verdadeira Mulher Maravilha”. Frases como esta costumam ser
ditas em tom de elogio, mas ocultam um problema que afeta milhares de mulheres.
Como ter uma carreira de sucesso em um mundo onde tarefas domésticas ainda são
vistas como uma função exclusivamente feminina.
Um relatório divulgado pelo Banco
Mundial no último mês de setembro revelou que de 173 economias analisadas, 155
tem pelo menos uma lei que dificulta a inserção das mulheres no mercado de
trabalho.
No caso do Brasil, a falta de
creches públicas, a diferença salarial, a baixa representatividade no Congresso
e a cultura machista são os maiores problemas.
O país tem uma população feminina
de 102.721.419. Nos últimos anos, a participação das mulheres no mercado de
trabalho saltou 26,6%, em 1980, para 48,9%, em 2010, segundo o IBGE.
Porém, esse aumento não foi
acompanhado de mudanças sociais, estruturais e culturais. É o que conta ao
Opinião e Notícia, Verônica Ferreira, pesquisadora do SOS Corpo, instituto de
pesquisa e formação política que trabalha para fortalecer o movimento
feminista.
Segundo Verônica, um dos maiores
desafios da mulher brasileira hoje é conciliar carreira e maternidade. “Nossa
entrada no mercado de trabalho não foi acompanhada de uma socialização do
trabalho reprodutivo, nem no interior da família nem com o próprio Estado. Ou
seja, o trabalho de cuidado e os afazeres domésticos permanecem uma carga das
mulheres. A permanência do trabalho reprodutivo como uma atribuição e um
encargo solitário e completamente sem apoio das mulheres faz com que essa nossa
situação no trabalho remunerado se agrave”.
A situação é mais complicada
entre mulheres que não têm como pagar uma babá ou uma creche. Por isso, uma das
causas defendidas pelo SOS Corpo é a criação de creches públicas, asseguradas
pelo Estado, que funcionem em horários alternativos, diferentes do horário
escolar. “Defendemos também que elas sejam perto do local de moradia. Porque,
sobretudo no contexto brasileiro, a questão da mobilidade é terrível. Não dá
para a mulher sair de casa levando uma criança para o local de trabalho.”
Segundo Verônica, investir na
igualdade de gênero no trabalho complementará os avanços obtidos na
escolarização de meninas. Dados do relatório Educação Para Todos No Brasil
2000-2015, publicado pelo MEC em junho do ano passado, mostram que as mulheres
representam 40% a mais do que os homens entre as pessoas acima de 24 anos “que
frequentam o ensino superior ou mestrado/doutorado ou apresentam 15 anos ou
mais de estudo”.
“Houve um avanço na escolarização
das mulheres. Hoje, elas estão mais escolarizadas do que os homens. Mas a maior
escolarização das mulheres não têm se revertido em melhor situação no mercado
de trabalho. Justamente porque outros fatores estruturantes, atuam como limites
e dificuldades para que elas possam ter uma inserção justa.”
Mulheres trabalhando beneficiam a economia
Outro relatório recente, feito
pelo instituto de pesquisa americano McKinsey Global Institute, alertou para a
desigualdade de gênero no mercado de trabalho mundial. Segundo o documento,
investir na igualdade de gênero no ambiente de trabalho pode injetar US$ 12
trilhões na economia global.
O instituto analisou 90 países e
concluiu que 40 deles têm um nível alto ou extremamente alto em pelo menos um
dos indicadores de desigualdade de gênero analisados (igualdade no ambiente de
trabalho, serviços essenciais e facilitadores para a inclusão no mercado de
trabalho, proteção jurídica, voz política, segurança física e autonomia).
No caso do Brasil, a participação
das mulheres na política ainda é muito baixa. Entre os 11 ministros do Superior
Tribunal Federal (STF), há apenas duas mulheres: as ministras Carmen Lúcia
(vice-presidente do órgão) e Rosa Weber. Em toda sua história, o STF teve
apenas três mulheres como membro. Além de Rosa Weber e Maria do Rosário, Ellen
Gracie ocupou, de 2000 a 2011, um assento no mais alto órgão do Poder
Judiciário brasileiro (confira aqui a lista completa de ministros que passaram
pelo STF).
Dos 513 assentos da Câmara dos
Deputados, apenas 51 são ocupados por mulheres. A situação não é diferente no
Senado Federal: dos 81 parlamentares da Casa, apenas 13 são mulheres.
Segundo Verônica, essa baixa
representatividade é um resultado da falta de tempo das mulheres, que acabam
presas entre os afazeres domésticos e seu direito de trabalhar para garantir
sua autonomia. “Por isso há necessidade de investimento em políticas públicas
que permitam liberar o tempo das mulheres para participar da política, criando
políticas que visem a paridade de condições no mercado de trabalho”.
Lei Maria da Penha
Ambos os relatórios, no entanto,
elogiam a Lei Maria da Penha como um exemplo de iniciativa para assegurar a
proteção da mulher. Sancionada pelo ex-presidente Lula em agosto de 2006, a lei
completou nove anos com importantes avanços no combate à violência contra a
mulher.
“A Lei Maria da Penha é uma
conquista histórica, um instrumento fundamental de proteção às mulheres. Ela
coloca a violência contra as mulheres como um crime, incluindo a violência
doméstica, que era muito naturalizada antes dessa lei. Graças à essa lei a
gente avançou muito no debate público sobre a violência contra as mulheres”
explica Verônica.
Fonte: Opinião e Noticia
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