Professora teve um vale de R$ 700
reais negado em um shopping do RJ. Aos seus alunos, afirmou a importância de
saber argumentar.
Após ser vítima de um episódio de
racismo em um shopping da Zona Sul do Rio de Janeiro, a professora Magna
Domingues, de 28 anos, levou para a sala de aula a discussão sobre direitos
sociais e raciais.
“Não por acaso, passei por essa
situação ao mesmo tempo em que os adolescentes do Rio de Janeiro são revistados
para frequentar as praias da Zona Sul”, afirma a carioca que leciona em Duque
de Caxias.
Em setembro Domingues ganhou um
vale-compra no valor de R$ 700 e foi à loja para escolher o que compraria. A
atendente, no entanto, alegou que não havia mais a promoção e que não
devolveria o vale.
“A gerente supôs que eu não
poderia ter um vale daqueles que foi dado a poucas pessoas e inventou isso. Se
apropriaram de algo que me pertence, dizendo pertencer à empresa”, afirma a
professora.
Domingues prestou queixa em uma
delegacia e fez um relato nas redes sociais, que teve cerca de 3.500
compartilhamentos. “É um racismo muito velado, ninguém me deu uma palavra
ofensiva, mas eu entendi muito bem o que aconteceu comigo.”
Em nota, a loja Ágatha lamentou o
episódio. “Oficialmente pedimos desculpas pela falta de informação da equipe
que não reconheceu os vales apresentados. Assumimos também o erro diante da
equivocada atitude de retê-los”, diz a publicação.
Poder da palavra
Para Domingues, toda a situação
só reafirma a necessidade de debater o racismo diariamente. “É comum tratar
essas questões nos meses de maio e novembro. Mas isso é um problema real que
acontece todos os dias. Deve ser um eixo norteador. Nós temos que empoderar e
mostrar o pertencimento aos jovens, principalmente os que estão nas escolas
públicas. Esses jovens têm que criar identidade de grupo.”
Ao falar para os alunos sobre sua
experiência no shopping, ela ouviu que devia ter feito um escândalo. “Eles
ficaram muito indignados, mas eu mostrei que o poder da palavra é mais eficaz
do que quebrar tudo. Eu quis mostrar que não se trata do valor do vale e sim da
questão que está por trás de tudo isso”, explicou.
Segundo a professora, os jovens
das escolas públicas começam a passar por situações de racismo quando saem do
universo escolar que frequentam.
“O racismo começa quando eles
frequentam o mundo lá fora e são segregados. Quando pensam que para ir à Zona
Sul, não devem usar boné ou determinada roupa para não serem confundidos com
bandidos; quando não vão à praia com medo de apanhar.”
“Minha missão, enquanto
professora, é mostrar que eles devem ocupar os espaços. Porque em um dia você
perde espaço na praia, no outro no shopping – como foi o meu caso –, depois na universidade…
Se você abaixa a cabeça para isso, só perde espaços e fica cada um no seu
canto. E eu quero mostrar que não é assim.”
Com a repercussão do caso, Magna
recebeu muitos relatos de pessoas que passaram por situações parecidas. “Eu
percebi o quão comum são casos como esses. As pessoas passam por isso o tempo
todo. E é fundamental que entendam que tudo isso passa pela educação e isso
atravessa a nossa realidade.”
Nova geração
Dividir o episódio que passou com
seus alunos fez com que Domingues reforçasse a esperança na nova geração de
jovens. “Eu espero que eles saibam exigir seus direitos de forma lúcida e
consciente, através do poder da palavra. A escola tem o papel de administrar e
mediar essas questões. Eu espero que saibam ocupar os espaços.”
“Se eu não acreditar nisso eu não
tenho motivos para dar aulas. Quando você trabalha com educação você tem que
acreditar em transformação. É isso que te faz enfrentar descaso do governo,
escola muitas vezes sem água, com problemas estruturais, sem material escolar.
Se você não acredita em algo bom, você não é feliz.”
Fonte: Geledes
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