Profissionais alertam que
diagnóstico precoce da Aids é fundamental para evitar mortes.
Para especialista, imprudência e
excesso de confiança explicam elevação do número de infectados.
A preocupação dos estudantes após o boato
sobre a aluna com HIV na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) revela que a
carapuça serviu para muitos dos jovens, que se expuseram a situações de risco
ao transarem sem camisinha. Essa é uma realidade que não está restrita a Ouro
Preto e que pode explicar o fato de que as contaminações por HIV no grupo de
pessoas entre 20 e 34 anos não param de crescer em Minas e representam 42% do
total de casos registrados no Estado. Para especialistas, esse comportamento é
preocupante uma vez que os universitários estão na fase da vida em que contam
com maior frequência sexual. Eles alertam também para o consumo excessivo de
bebida alcoólica, que aumenta as chances de uma relação sem prevenção.
Os dados da Secretaria de Estado
de Saúde mostram que as contaminações por HIV estão em alta desde 2010 em
Minas. Naquele ano, foram 2.256 casos notificados. Em 2014, esse número passou
para 3.241, uma elevação de 43%. Se os números gerais já preocupam, a situação
fica pior quando é feito o recorte por faixa etária. Em 2010, foram 912
contaminações por HIV em pessoas entre 20 e 34 anos, contra 1.449 no ano
passado, uma elevação de 58%. Já quando analisados os adolescentes de 14 a 19
anos, o crescimento é de 170%, passando de 44 casos para 119.
Para o médico infectologista e
professor da Faculdade de Medicina da UFMG Dirceu Greco, o aumento da
disseminação do HIV entre os jovens ocorre por uma combinação de motivos que
vão de uma maior confiança de que as pessoas com que se relacionam não estão
contaminadas até a maior frequência da atividade sexual na atual geração.
“Todos os jovens sabem quais são os métodos de prevenção, mas eles se sentem
seguros porque não acreditam que, dentro daquele pessoal da turma em que se
relacionam, pode ter alguém com o HIV. Por outro lado, é nessa idade que as
pessoas transam mais, e o sexo tem ficado cada vez mais fácil. Quanto maior o
número de relações, maiores as chances de contaminação. Mas o que esses jovens
precisam entender é que não existe grupo de risco ou comportamento de risco. Se
você transou sem camisinha, você pode estar com HIV”.
Greco também destaca o papel que
o abuso da bebida alcoólica pode ter como fator que contribua para a
contaminação. “Uma vez que as pessoas estão bêbadas, é muito mais fácil se
esquecer da prevenção”, diz.
O infectologista ainda analisa
que, se por um lado o pânico gerado pelo boato não pode ser considerado
positivo, por outro o alerta que foi dado aos estudantes pela preocupação de
estar contaminado pode servir para mudar os hábitos dos jovens, que passam a se
prevenir e fazer exames com maior frequência.
“Há um pensamento de purificação
do parceiro. Você começa a namorar e, três meses depois, para de usar
camisinha, sem fazer nenhum exame. Esse alerta também é importante para que as
pessoas façam exames com uma frequência maior. Se der positivo, já é possível
iniciar o tratamento e levar uma vida normal. A mortalidade por Aids ainda
ocorre porque muitas pessoas descobrem tardiamente a doença”, conclui Dirceu
Greco.
Números
Casos. Até setembro deste ano, o
número de jovens entre 20 e 34 anos contaminados com HIV em Minas era de 885.
Já entre adolescentes de 14 a 19 anos, foram registrados 49 casos.
Universidade precisa discutir DSTs
Para o médico infectologista e
professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) Dirceu Greco, há uma negligência das instituições de ensino na prevenção
das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs).
“Você pode perguntar para
qualquer estudante universitário de qualquer instituição, e todos vão te dizer
que nunca tiveram aula sobre educação sexual durante o seu curso. É preciso
avançar muito nesse caráter educacional para conscientizar os jovens da
prevenção”.
Segundo Greco, o único método
eficaz de prevenção às DSTs é a camisinha. Ele alerta que, apenas uma vez em
que não se usa o preservativo, a pessoa já corre o risco de contaminação pelo
vírus causador da Aids. “Diferentemente da tuberculose, da gripe e de outras
doenças transmissíveis, ninguém pega o vírus HIV sem consentimento. Retirando
obviamente os casos de estupro e acidentes, só pega Aids quem fez a escolha por
transar sem camisinha. Se a pessoa sempre fizer a escolha pela prevenção, ela
nunca será contaminada”, ressaltou o infectologista.
Fonte: O Tempo
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