Achar que as mulheres dirigem
mal, mesmo quando os números de acidentes mostram o contrário, acreditar que um
homem que faz as tarefas domésticas está “ajudando” a esposa, pensar que elas
não entendem de futebol e carros. Frequentemente nos esbarramos em situações
machistas, mas muitas acabam passando desapercebidas porque parecem inofensivas
ou se disfarçam de falta de educação ou piada.
Para identificar esses comportamentos
“invisíveis” eles foram batizados, em inglês, como: manterrupting (homens que
interrompem), bropriating (junção de bro – brother – e appropriating –
apropriação), mansplaining (combinação das palavras homem e explicar) e
gaslighting (baseado em um filme homônimo, de 1944) e indicam uma série de
situações machistas.
Um pequeno dicionário com os
termos foi publicado pelo site Think Olga, de uma ONG brasileira dedicada ao
empoderamento feminino, e já foi compartilhado mais de 1.300 vezes pelas redes
sociais. Segundo a manager de conteúdo e comunidade do site, Luíse Bello, os
termos surgiram como gírias, mas “alguns já estão bem estabelecidos”. “É uma
forma de machismo muito sutil em que a mulher acaba tendo menos voz em
determinados ambientes”, afirma.
Um exemplo é a cantora Björk, que
revelou que para ter suas ideias ouvidas, ela dava um jeito de fazer com que
parecesse que tivessem partido de um homem. “Quando a fala da mulher é ignorada
e a do homem não, sendo que a única diferença entre os dois é o sexo, é
machismo”, ressalta Luíse.
Desenvolvedora de software em São
Paulo, Ariani Martins, 24, foi uma das mulheres que compartilharam o texto por
ter se identificado em várias situações, principalmente no ambiente de
trabalho. “Eu tinha acabado de ensinar algo novo a um colega e no mesmo minuto,
ao mostrar para outro, ele tomou aquilo como dele. Percebi que eu não era
culpada quando passei a mudar as minhas atitudes”, conta.
Marcio Strzalkowski, 35, trabalha
com segurança privada, em Porto Alegre, e se define como um “machista à moda
antiga – onde os machos de várias espécies assumem a responsabilidade de cuidar
de suas companheiras e de seus filhotes”, e não concorda com os termos.
“Afirmar que estes pequenos atos de falta de educação definem os homens é tão
injusto quanto eu afirmar que estes mesmos atos definem as mulheres”, pondera.
Cultura enraizada. De Aristóteles
a Woody Allen, as frases misóginas reunidas no livro “Dicionário Machista –
Três mil anos de frases cretinas contras as mulheres”, da professora Salma
Ferraz, mostram como o discurso vem se repetindo sempre carregado de
preconceito, e que ainda há muito a conquistar.
Entenda os novos termos que definem algumas atitudes machistas
Mansplaning. Quando um homem
dedica seu tempo para explicar algo óbvio a uma mulher, como se ela não fosse
capaz de compreender.
Bropriating. Quando, em uma
reunião, um homem sem apropria da ideia de uma mulher e leva o crédito por ela.
Manspreading. Quando no ônibus ou
no metrô o homem se espalha praticamente ocupando dois bancos, se comportando
com uma postura espaçosa que tem a ver com privilégio masculino.
Manterrupting. Quando uma mulher
não consegue concluir sua frase porque é constantemente interrompida pelos
homens ao redor.
Gaslighting*. Violência emocional
por meio de manipulação psicológica, que leva a mulher e todos ao seu redor
acharem que ela enlouqueceu ou que é incapaz.
(*) 1944 foi o ano de lançamento
do filme Gaslight que deu origem ao termo. Nele, o personagem começa a
desenvolver uma série de artimanhas para que a esposa acredite que enlouqueceu.
O dicionário machista
"A mulher pode ser definida
como um homem inferior"
Aristóteles
"Chamar uma mulher de
galinha é uma ofensa. Coitada da galinha, que vive à disposição do galo, na
hora que ele quiser"
Carmen Miranda
"Só o homem deve dizer algo,
e a mulher se dispor a fazê-lo"
Mahatama Gandhi
"O melhor movimento feminino
ainda é o dos quadris"
Millôr Fernandes
"Os homens distinguem-se
pelo que fazem; as mulheres pelo que levam os homens a fazer"
Carlos Drummond de Andrade
Fonte: O Tempo
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