segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Histórico de estupros em repúblicas de Ouro Preto


Vítimas teriam ingerido sem saber bebidas alcoólicas “batizadas” com remédios durante festas
Entre os casarões coloniais e as sinuosas montanhas de Ouro Preto paira uma polêmica envolvendo as repúblicas estudantis. Mulheres denunciam ter sido estupradas ou sofrido tentativa de violência sexual em casas de estudantes da cidade e da vizinha Mariana.
Geralmente, o ambiente onde ocorrem os crimes é o mesmo: as festas, com direito a muitas bebidas alcoólicas. Seis entrevistados, com as identidades preservadas, relataram à reportagem de O TEMPO situações de abuso e crime, de 2006 até 2014.

Dos casos relatados à reportagem, cinco deles citam o uso do “batidão bolado” como facilitador do estupro. “É uma mistura de vodca com suco. Quando está ‘bolado’, tem algum remédio. Mas não sei o que é”, diz uma das vítimas. Ela foi abusada em um festa em 2009.

“Um dos meninos falou que ia fazer mais ‘batidão’ e outro voltou com um copo. Tomei metade e apaguei. A ‘sorte’ é que eu era virgem. Acordei no meio da noite, sem roupa, com muita dor, sentindo algo em cima de mim. Era um menino tentando me estuprar”, relatou uma estudante estuprada em 2010, com 17 anos.

Outra garota conta que só percebeu que havia sido abusada quando acordou e viu sangue em suas pernas. “Foi assim que perdi a virgindade”, disse a universitária, vítima recente do crime. “Me gerou desconfiança, baixa autoestima, afetou toda a minha vida sexual”.

Uma outra estudante, então com 21 anos, em 2010, disse ter percebido “uma crosta branca no fundo do galão de ‘batidão’”. “Para não correr risco, tomei cerveja. Mas, no terceiro copo, eu já estava muito alterada. Percebi que serviam uma garrafa para as mulheres e outra para os homens. A partir daí, só me lembro de flashes”, contou.

Questionado sobre a posição da república onde teriam ocorrido alguns dos abusos relatados à reportagem, um morador da casa negou a acusação com ironia. “Claro que repudiamos. Você não?”, retrucou.

Uma das semelhanças entre os relatos é o uso da “pílula do dia seguinte”. “Por incrível que pareça, esses casos são comuns em Ouro Preto, e a primeira providência das meninas é tomar a ‘pílula do dia seguinte’. No Carnaval, teve até farmácia fazendo propaganda dessas pílulas”, conta uma estudante da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), que pediu anonimato.

Internet. A discussão sobre os estupros em repúblicas de Ouro Preto ganhou repercussão na internet nas últimas semanas após um blog publicar um relato de uma mulher sobre tentativa de estupro que ela teria sofrido na cidade histórica. No texto, a garota – que diz ser de São Paulo e ter 26 anos – conta que, ao ficar embriagada, foi coagida por dois moradores de uma das casas, que teriam tentado levá-la a um dos quartos para cometer estupro coletivo. Segundo ela, um casal de amigos notou as intenções dos rapazes e impediu o crime. A reportagem fez contato com os responsáveis pelo blog, que não quiseram identificar a autora do texto.

Em nota, a república citada no blog negou as acusações e disse que não recebeu nenhuma reclamação e que repudia a violência contra a mulher. O texto afirma, ainda, que a notícia é caluniosa e que um advogado foi acionado para tomar as medidas cabíveis contra os responsáveis pelo blog e os que compartilharam a mensagem.

A Ufop afirmou que “repudia qualquer ato de violência ou preconceito” e que, em nenhum momento, foi oficialmente comunicada “para que pudesse tomar medidas preventivas, educativas ou iniciar processo administrativo”. A Associação de Repúblicas Federais de Ouro Preto disse que “cabe às autoridades investigar e punir os responsáveis pelos supostos casos” e que não tem conhecimento de boletim de ocorrência feito contra morador de república federal por violência sexual.

Fonte: O Tempo


Nota de Denúncia e Repúdio à tentativa de estupro coletivo cometida por moradores da República Marragolo, da UFOP


O seguinte relato evidencia a tentativa de integrantes da República Marragolo, da Universidade Federal de Ouro Preto, de estuprar coletivamente uma companheira nossa, aproveitando-se para planejar o estupro diante do seu então estado de vulnerabilidade, e os relatos de amig@s que estavam no local corroboram as intenções e o plano de fazê-lo, que poderia ter se efetivado caso ela não tivesse amparo de amig@s que perceberam a intenção violenta dos moradores.

“Sou uma mulher, tenho 26 anos, sou feminista. Como tal, considero que a mulher é equivalente ao homem, é ser emancipado, é dona de si e do seu corpo, e não deve ser culpabilizada por nenhum ato ou ameaça que atente contra sua integridade física e moral.

“Ela estava pedindo”, “ela mereceu”, “ela não se deu o respeito”: existe uma cultura do estupro na sociedade. Estupro este, que pode ser consolidado ou anteceder a isso, ser legitimado em juízos e rodas de conversas misóginas.  A mulher é culpada do ponto de vista moral em praticamente todas as ocasiões, seja porque faz o que deseja ou porque se considera que ela está incitando outros a quererem.

Sou de São Paulo. Era feriado de Corpus Christi, viajei para Ouro Preto com um grupo de pessoas do cursinho no qual faço parte, e ficamos hospedados em uma famosa República masculina da cidade, a República Marragolo.

Houve uma festa na República, bebi, fiquei visivelmente alterada, passei mal, meus amigos estavam me ajudando. E entre risadinhas por uma roda de homens, foi ouvido: “Deixa que a gente põe ela na nossa cama e a gente cura lá”, segundo o relato de duas pessoas.  A seguir, uma parte do relato deles na íntegra, que foi enviado por email:

“Dois integrantes da república começaram a conversar do meu lado e percebi que eles estavam falando de você. Aí resolvi prestar atenção no que eles falavam, e um deles disse com essas palavras:

- Olha para **, ela está totalmente bêbada, tá muito fácil para a gente levar para cama e nos revezarmos e comer ela, você não acha cara?

- É mesmo, essa noite a gente se dá bem, em.

- Vamos tentar levar ela para o meu quarto para a gente se divertri com ela enquanto ela tá ”facinha”. Distrai os caras e tenta levar ela pra lá.

Nessa hora eu avisei minha namorada sobre o que eles queriam fazer. Aí nos levantamos e ficamos por perto impedindo eles de chegar perto de você enquanto os professores tentavam ajudar você a ir para o quarto dos professores.

Mas só que eles não desistiram e ficavam toda hora querendo ter uma oportunidade para te pegar, mas eu e a *** combinamos de ficar de olho em quem entrava no quarto, até que chegou um deles (integrante da república) e perguntou por que não colocavam você no quarto dele para deitar na cama em vez do colchonete no chão. Nessa hora a *** começou a discutir com ele, falando que eles não tinham caráter, porque queriam se aproveitar de você. Ela começou a xingá-lo e falou que eles não teriam essa ”sorte” que eles falavam que tinham por você estar bêbada.”

Sim, um estupro coletivo estava sendo planejado. Fico pensando quantas vezes isso não ocorreu com mulheres que ficaram bêbadas em festas na República, e se de fato não foi consolidado um estupro com alguma mulher, que talvez por vergonha de ter ficado bêbada, não os denunciaram.

Depois que deitei na cama, as pessoas que estavam comigo no quarto (que não tinha trinca) disseram que por três vezes a porta foi aberta, verificavam que tinha gente lá e fechavam a porta. Ou seja, a probabilidade deles estarem indo lá para consolidar o que estavam confabulando anteriormente.”

Esta nota tem o objetivo de expor esse caso de violência e os homens que o perpetraram, de dar voz à vítima e, assim, dar forças a todas as mulheres que são cotidianamente violentadas, assediadas e agredidas de diversas formas. Expor estupradores e misóginos em geral é um ato político, que demanda consciência, apoio e coragem de todas as mulheres, pois é por sermos mulheres que sofremos esse tipo de violência. Nós, mulheres, somos cotidiana e sistematicamente perseguidas, atacadas, objetificadas e socializadas para que homens tenham acesso aos nossos corpos violentamente, e isso se torna normalizado.

As linhas que configuram uma situação de violência contra a mulher ficam borradas, e as vítimas, silenciadas. Em muitos casos, a própria vítima não sabe que sofreu uma violência e se sente culpada e sem forças para denunciar o que sofreu.

Não há consentimento em situação de vulnerabilidade, e esses homens sabiam disso e fizeram de tudo para forçar o acesso ao corpo de uma mulher, estuprá-la, e se organizaram para isso.

Não podemos permitir que isso ocorra e que estupradores possam continuar a tentar violentar mulheres sem que nenhuma medida seja tomada, sem que sejam expostos e execrados por suas ações,  e vimos por meio desta nota repudiar quaisquer violências, sexual, psicológica ou quaisquer meios que os homens utilizem para coagir e submeter mulheres e deixamos claro que ESTUPRADORES NÃO PASSARÃO!

Contra toda forma de machismo e misoginia nos levantaremos e apoiaremos nossas companheiras!

Assinam a nota:

- Coletiva Feminista Radical Manas Chicas

- GARRa Feminista (Grupa Ação e Resistência Radical Feminista)

- Marcha Mundial das Mulheres – Núcleo USP

- Frente Feminista de São José dos Campos

- Frente Feminista da USP

- Feminismo Sem Demagogia

- Coletivo Feminista Lélia Gonzalez

- Coletivo Feminista Trepadeiras

- Coletivo Trans*a USP

- RUA – Juventude Anticapitalista

- Coletivo Pr’Além dos Muros

- Juntas

- Coletivo Feminista Maria Bonita

- Coletivo Feminista Comuhna


Fonte: http://independentefatecsp.wordpress.com/2014/07/23/cultura-do-estupro-e-misoginia-nas-republicas-estudantis-da-universidade-federal-de-ouro-preto/

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