A condição masculina, assim como a feminina, são condições
de limitação, de incompletude, que podem se tornar espaço de encontro e de
comunhão com a diferença, a ser acolhida e reconhecida, ultrapassando as
relações de poder.
A análise é do teólogo leigo italiano Christian Albini,
coordenador do Centro de Espiritualidade da diocese de Crema, na Itália, e
sócio-fundador da Associação Viandanti.
Se Jesus é masculino, o feminino tem menos importância?
Há toda uma corrente espiritual e teológica que, a partir da
masculinidade de Jesus e dos apóstolos, fundou um pensamento e relações de
subordinação das mulheres em relação aos homens, associando o masculino a Deus.
Ignora-se, assim, descaradamente, a mensagem bíblica do "homem e mulher os
criou" do Gênesis. O risco é cair em um antropomorfismo em que é o homem
que "cria" Deus à sua imagem.
Retiro algumas considerações do livro de Angelo Biscardi, Un
corpo mi hai dato. Per una cristologia sessuata (Cittadella Editrice), em que a
consideração-chave é que "o objeto da revelação não é a masculinidade de
Jesus tomada em si mesma e por si mesma, mas é a plena humanidade que devia
necessariamente se explicitar em um dos modos disponíveis ao ser humano:
masculino ou feminino" (p. 264).
Mas isso não implica nenhuma dignidade superior do
masculino, faz parte do processo de "esvaziamento", de perda de
plenitude, da Encarnação, que o leva a assumir a parcialidade masculina, que se
descobre como incompleta e se abre à relação de comunhão com a diferença.
A masculinidade, tomada isoladamente, não pode ser
absolutizada como símbolo absoluto de Deus (p. 266).
Um dos primeiros atos profundamente humanos que distinguem
cada um de nós e o próprio Jesus é a conscientização de nós mesmos como seres
limitados (p. 299).
Em Jesus, portanto, tornou-se presente um homem que – a
partir do seu próprio limite criatural marcado fundamentalmente também pela
própria masculinidade – rejeitou toda pretensão e fuga em direção ao
egocentrismo e à onipotência pessoal em relação a Deus e aos irmãos (p. 308).
A identidade sexual de Jesus, por isso, não fundamenta uma
perfeição ou superioridade quaisquer do masculino identificado com Deus. A
condição masculina, assim como a feminina, são condições de limitação, de
incompletude, que podem se tornar espaço de encontro e de comunhão com a
diferença, a ser acolhida e reconhecida, ultrapassando as relações de poder.
Isso vale tanto na sociedade quanto na Igreja.
Fonte: Ihu
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