Profissionais do sexo trocam ruas e boates pela Internet em
busca de mais segurança, privacidade, lucro e até conforto.
O celular toca, são combinados preço e lugar. Mais um
programa está agendado. Pode ser em um motel, em um privê ou na residência do cliente.
E são cerca de seis a oito por dia, dependendo da disponibilidade dela. A cada
atendimento, um cliente diferente, um corpo novo e o pagamento em dinheiro
vivo. A combinação sempre se dá sem o primeiro contato direto. O cliente faz a
escolha pela tela do computador.
É assim que as garotas de programa que trocaram as boates,
casas de prostituição e ruas pelos anúncios na Internet organizaram a prestação
do serviço para se diferenciarem no mercado, conseguirem mais discrição,
segurança e lucros. Embora estejam expostas na rede virtual, elas afirmam que a
contratação do serviço por meio da Internet também permite que elas se resguardem.
"Nunca procurei uma boate para trabalhar porque não gostaria de encontrar
amigos ou de ser identificada por alguém conhecido. Faço programa há dois anos,
mas não conto para ninguém. Nem minha família sabe", explica Luciana*, 20,
anunciante de um site de acompanhantes na capital.
De acordo com a jovem, outro benefício dos sites de garotas
de programa é a independência que adquire. "Posso sair o dia que quero e imponho
as minhas condições, o que topo fazer ou não", diz. Ela relata que o ganho
é bem maior quando se opta por atender via Internet.
"Depois de dois anos de trabalho, tenho minha condição
financeira consolidada. Se quisesse parar de trabalhar hoje, eu poderia",
afirma. A experiência do ganho rápido também é relatada por Lorena*, 23.
Há cerca de dois anos ela faz programas e não trocaria mais
o sucesso de hoje no site pela vida que levava em uma agência de garotas onde
trabalhava. "Atualmente, eu tomo conta do meu próprio negócio. Eu mesma
combino com o cliente e não preciso dividir o dinheiro com o agenciador, como
acontecia antes", garante Lorena. Em alguns casos, não são as mulheres que
fazem os próprios anúncios, mas casas chamadas relax, scoth bar ou de massagem
colocam a propaganda virtual. Em um desses estabelecimentos, no bairro Santo
Agostinho, 18 garotas atendem, recebem o valor do programa e a casa lucra com o
preço do aluguel do quarto e da entrada. De acordo com Grazzi, 18, que trabalha
nesse local, essa forma de publicidade também é segura. "Prefiro assim porque
não fico exposta. A casa já tem clientela, então tenho garantia de trabalho
sempre."
* Nomes fictícios
Site permite escolha
prévia do perfil
Os sites de garotas de programa oferecem facilidades que se
destacam de outras formas de propaganda e traz vantagens tanto para quem acessa
como para as mulheres que oferecem o serviço. Para o cliente, a possibilidade
de escolher a mulher que mais lhe agrada por meio de fotos e do perfil da
garota já adianta a negociação. Do outro lado, a anunciante também se beneficia
em estabelecer o que aceita no momento da transa.
Do próprio computador, o interessado em contratar um serviço
da prostituta já tem as informações que geralmente fariam parte de uma conversa.
Da página principal, as informações são filtradas até que se chegue no tipo
ideal para o programa. É possível escolher entre loiras, morenas, ruivas e
mulatas. Depois dessa pré-classificação outras opções como preço, local de
atendimento, fantasias e características da mulher são apresentados.
Explorar não pode,
mas só isso
No Brasil, a lei não impede que uma pessoa faça sexo em
troca de dinheiro nem que ela faça
publicidade dessa atividade. Jornais e revistas, por exemplo, anunciam os
serviços oferecidos por acompanhantes de todos os sexos de maneira legal.
Para um site que divulga prostituição ser 100% dentro da
legislação, ele precisaria apenas levar essa ideia para o ambiente virtual,
fazendo cobranças somente sobre o espaço de divulgação a ser cedido, não sobre
a atividade sexual de quem anuncia.
Segundo a delegada Ana Cristina Melo, da Delegacia Especial
de Atendimento à Mulher (Deam), as jovens que faziam programa pelo esquema de
Jeany Mary Corner (rede de prostituição de luxo chefiada por J.M. Corner no
final do ano passado) “sabiam mais ou menos” sobre as condições de trabalho.
“Havia um encantamento em relação às funções”, disse, ao apresentar os acusados
na delegacia. A principal preocupação da delegada era o envolvimento de menores
de idade.
Os maiores usuários do serviço da rede de prostituição
ilegal eram políticos, empresários e servidores públicos, segundo apontaram as
investigações, e, pesquisando os valores, não é difícil de imaginar essa
realidade.
Fonte: O Tempo
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