Quando os pais se aproximam do Templo com a criança, não
saem ao seu encontro os sumos sacerdotes nem os outros líderes religiosos. Quem
acolhe Jesus e o reconhece como Enviado de Deus são dois anciãos de fé simples
e coração aberto que viveram ao longo da sua vida esperando a salvação de Deus.
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de
Jesus Cristo segundo Lucas 2,22-44 que corresponde a Apresentação do Senhor,
ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o
texto.
Eis o texto
O relato do nascimento de Jesus é desconcertante. Segundo
Lucas, Jesus nasce numa aldeia onde não há lugar para acolhê-lo. Os pastores
tiveram que procurá-lo por toda Belém até que o encontraram num local afastado,
deitado numa manjedoura, sem outras testemunhas além de seus pais.
Ao que parece, Lucas sente necessidade de construir um
segundo relato em que essa criança seja retirada do anonimato para ser
apresentada publicamente. Que lugar mais apropriado que o Templo de Jerusalém
para que Jesus seja acolhido solenemente como o Messias enviado por Deus ao seu
povo?
Mas, de novo, o relato de Lucas vai ser desconcertante.
Quando os pais se aproximam do Templo com a criança, não saem ao seu encontro
os sumos sacerdotes nem os outros líderes religiosos. Dentro de alguns anos,
eles serão aqueles que o entregarão para ser crucificado. Jesus não encontra
acolhimento nessa religião segura de si mesma e esquecida do sofrimento dos
pobres.
Tampouco vêm a recebê-lo os mestres da Lei que pregam as
suas “tradições humanas” nos átrios daquele Templo. Anos mais tarde, rejeitam
Jesus por curar doentes rompendo a lei do sábado. Jesus não encontra
acolhimento nas doutrinas e tradições religiosas que não ajudam a viver uma
vida mais digna e mais sã.
Quem acolhe Jesus e o reconhece como Enviado de Deus são
dois anciãos de fé simples e coração aberto que viveram ao longo da sua vida
esperando a salvação de Deus. Os seus nomes parecem sugerir que são personagens
simbólicos. O ancião chama-se Simão (“O Senhor escutou”), a anciã chama-se Ana
(“Oferenda”). Eles representam tantas pessoas de fé simples que, em todos os
povos de todos os tempos, vivem com a sua confiança posta em Deus.
Os dois pertencem aos ambientes mais sãos de Israel. São
conhecidos como o “Grupo dos Pobres de Javé”. São pessoas que não têm nada, só
a sua fé em Deus. Não pensam na sua fortuna nem no seu bem-estar. Só esperam de
Deus a “consolação” que necessita o seu povo, a “libertação” que seguem
procurando geração após geração, a “luz” que ilumina as trevas em que vivem os
povos da terra. Agora sentem que as suas esperanças se cumprem em Jesus.
Esta fé simples que espera de Deus a salvação definitiva é a
fé da maioria. Uma fé pouco cultivada, que se concretiza quase sempre em
orações lentas e distraídas, que se formula em expressões pouco ortodoxas, que
se desperta sobretudo em momentos difíceis. Uma fé que Deus não tem nenhum
problema em entender e acolher.
Fonte: Ihu
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