Uma nova pesquisa sobre sexualidade, feita pela Universidade
Yale, com mil mulheres entre 18 e 40 anos nos Estados Unidos, e divulgada na
semana passada pela agência de notícias AFP, mostra que muitas delas
desconhecem informações básicas sobre sua saúde reprodutiva.
O estudo, publicado na revista Fertility and Sterility, do
mês passado, aponta que, embora 40% das mulheres tenham preocupações sobre sua
capacidade de conceber, 30% delas desconhecem os efeitos que doenças
sexualmente transmissíveis (DSTs), obesidade, ciclos irregulares e idade têm
sobre sua possibilidade de engravidar. Metade das mulheres não conversa com seu
médico sobre o assunto e 30% delas não fazem prevenção anual (Papanicolau). As
mais jovens, de 18 a 24 anos, são as que têm menos informação sobre fertilidade
e ovulação.
Outro estudo de grandes proporções (a terceira pesquisa
nacional de atitudes sexuais e estilos de vida), realizado no Reino Unido a
cada 10 anos e divulgado no fim do ano passado, entrevistou 15 mil adultos de
16 a 74 anos e trouxe conclusões importantes sobre a saúde sexual da população.
Os britânicos começam a fazer sexo mais cedo e mantêm vida
sexual mais longa. A média de parceiras sexuais na vida aumentou para os homens
de 8,6 (em 1990-1991) para 11,7 em (2010-2012). No mesmo período, as mulheres
saltaram de 3,7 para 7,7 parceiros. Elas (e não eles) foram as que sofreram
mudanças mais importantes em seu comportamento sexual.
Mesmo assim, só uma em cada quatro mulheres (24%) que
disseram que problemas de saúde afetam sua vida sexual buscaram ajuda médica no
ano anterior à pesquisa. Entre os homens, esse índice foi ainda menor (18%).
Embora 40% de homens e mulheres tenham enfrentado algum problema recente em sua
vida sexual, apenas 10% se preocupam com sua saúde sexual. Falta de desejo
apareceu como a dificuldade sexual mais frequente na população britânica,
afetando 15% dos homens e 30% das mulheres.
Entre as DSTs, a clamídia e o HPV são os agentes mais
frequentes na população geral. A introdução da vacina contra HPV já parece
diminuir a frequência do vírus na população feminina jovem - bom lembrar que,
por aqui, a vacinação no SUS começa para as meninas de 11 a 13 anos em março.
Outra nova pesquisa de comportamento sexual, realizada por
um fabricante de preservativos, divulgada há duas semanas, consultou 29 mil
adultos, de 18 a 65 anos, em 37 países. No Brasil, foram mil entrevistados. Por
aqui, 51% das pessoas disseram estar insatisfeitas com sua vida sexual. Para
eles, problemas de ereção são a grande preocupação. Para elas, alcançar o
orgasmo. Há uma grande barreira em se admitir uma dificuldade sexual, tanto
para os homens quanto para as mulheres.
Na percepção dos brasileiros, a relação entre qualidade do
sexo, bem-estar e redução do estresse parece estar clara. Apesar disso, o
estudo, realizado anualmente, reforça a tendência da dificuldade de comunicação
do casal quando o assunto é sexo.
Os resultados dos recentes trabalhos apontam para algumas
tendências comuns, que refletem a realidade da vida sexual na maior parte do
mundo ocidental. Embora haja diferenças regionais, a vida sexual hoje é mais
precoce, mais variada (com maior número de parceiros) e mais duradoura. Também
há uma percepção clara do sexo como um dos elementos fundamentais para uma
melhor qualidade de vida.
Mas esse novo "status" da sexualidade ainda não
parece ter se seguido de uma melhor comunicação entre os casais ou de uma busca
mais frequente e menos envergonhada dos serviços de saúde. Para muita gente,
tratar sobre sexo, fazer controles, checar e se informar sobre saúde sexual
seguem como grandes tabus. Mas é justamente nessa "desinibição" em
falar com médicos e parceiros sobre o corpo e o sexo que pode estar a grande
chance para uma vida sexual mais tranquila, mais plena e com menos
dificuldades. Escolas e famílias também prestariam um grande serviço se
pudessem facilitar o acesso às informações e encurtar a distância entre os
jovens e os serviços de saúde.
O Dr. Jairo Bauer é
psiquiatra
Fonte: Estado de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário