Com o alto custo de vida da capital francesa, milhares de
estudantes fazem sexo em troca de presentes, dinheiro ou simplesmente um lugar
para morar.
Por Gisela Anauate
Uma amiga, recém-chegada a Paris para fazer um doutorado,
procurava desesperadamente um apartamento. Qualquer estudante (ou trabalhador
que ganhe menos que uma fortuna por mês) que se muda para a capital francesa
vive esse drama ao menos durante algumas semanas. Além dos preços inflados,
proprietários ensandecidos fazem exigências que vão muito além de um dossiê
completo que contenha um contrato de trabalho a tempo indeterminado e um fiador
(que seja francês e milionário, bien sûr).
A conversa com o proprietário é, em geral, muito pior do que
qualquer entrevista de emprego. Em períodos de grande afluência (por exemplo o
mês de setembro, em que começam as aulas nas universidades), os proprietários
marcam visitas coletivas: você fica numa fila gigante com seu dossiê na mão e
tem uns minutinhos para ver o cafofo. Mas não é você que vai escolher o
apartamento, fique claro. É o proprietário que escolhe o inquilino, dada a
grande demanda. Já ouvi mais de uma história de racismo descarado: o
proprietário olha um casal de cima abaixo e, sem nem mesmo deixá-los visitar o
apartamento, diz: “sou contra casais mistos”. Caso de denúncia.
O cenário que pintei acima é totalmente realista, acreditem.
E ele fica bem pior. Essa minha amiga, sem contrato de trabalho a tempo indeterminado
e sem fiador francês milionário, estava realmente desesperada. Ela havia
visitado dezenas de apartamentos, sem sucesso. Também colocou um anúncio num
site de inquilinos e proprietários: “estudante procura estúdio ou quarto em
Paris”
Como não recebeu resposta, por sugestão do site, incrementou
seu perfil: colocou uma foto do rosto e a idade. Sendo jovem e bonita, em
poucas horas, recebeu centenas de respostas: proprietários homens, geralmente
mais velhos, que diziam aceitar hospedá-la por um preço razoável ou mesmo de
graça. Alguns escreveram, na lata, que não era só para dividir o apartamento,
mas a cama. Minha amiga tirou correndo o perfil do site e, alguns dias depois,
felizmente, conseguiu alugar um apartamento em condições normais.
Eu e minha amiga ficamos chocadas com as respostas do site.
Mas logo descobrimos que a prática era muito mais comum do que imaginávamos:
milhares e milhares de estudantes acabam se prostituindo para conseguir um
lugar onde morar e pagar as contas, evitando assim longas horas de trabalho
árduo como caixa de supermercado ou garçonete. Não existem números oficiais,
mas segundo estimativas de uma associação de estudantes, em torno de 40 mil
universitários (a imensa maioria, mulheres) se prostituem. (Leiam aqui a
reportagem do Figaro, em francês).
Além de infestar os sites de aluguel de apartamentos e as
redes sociais, homens abastados em busca de sexo com jovens estudantes contam
com sites de encontros especializados – e legais. Podem contratar prostitutas
sem infringir nenhuma lei. Em uma rápida pesquisa na internet, me deparei com
um site francês, cujo mote é o seguinte para os homens: “Você é um homem que
vive com conforto? Você é ocupado e gosta de jovens atraentes e ambiciosas?” E,
para as mulheres: “Você é uma jovem que quer ser mimada? Você procura um
parceiro maduro e elegante que lhe dê presentes?”. Prostituição.
Para os leitores apressados em atirar pedras, um aviso
óbvio, mas prudente: não se trata aqui de condenar moralmente as relações
amorosas entre pessoas de idades diferentes. E nem estou vitimizando
completamente as meninas que caem nessas roubadas. Acho que muitas têm sim
outras opções para se sustentar (talvez um pouco menos se o que querem é viver
em Paris com luxo). O que assusta é como a sociedade vai encarando com mais e
mais naturalidade esse tipo de relação. E como milhares de moças escolhem, sem
refletir muito – e mesmo tendo tido um alto nível de educação – uma posição
degradante.
Obviamente, não é um fenômeno exclusivo de Paris, mas de
todas as grandes cidades caras do mundo. E nem é novo. Mas ganhou proporções
gigantescas com a internet, que facilita os encontros e que se torna uma
verdadeira tentação para as moças com dificuldades de bancar as contas e
estudar ao mesmo tempo. Rio de Janeiro e São Paulo, no ritmo que andam, não vão
demorar a acusar o mesmo tipo de aberração.
Fonte: Revista Epoca
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