Patricia, Zahreen, Jamille, Maria, Jamila e Marcela são
mulheres Cariocas que adotaram o islamismo como religião e passaram a usar o
Hijab, tradicional véu que cobre os cabelos das mulheres muçulmanas. O filme
dialoga com essas mulheres e mostra a conseqüências dessa opção religiosa na
relação com suas famílias, na escola no trabalho, num momento em que o
preconceito contra os muçulmanos e crescente.
Um exercício: pensar durante 30 segundos em mulheres
muçulmanas que usam véu e aquela roupa toda que cobre o corpo, dos pés a
cabeça.
Outro exercício: pensar durante 30 segundos em mulheres
brasileiras, muçulmanas, que usam véu e aquela roupa toda que cobre o corpo,
dos pés a cabeça, aqui no Rio de Janeiro, cidade em que o culto ao corpo é, na
verdade, a religião oficial.
Após assistir “Hijab – Mulheres de véu”, filme do cineasta
brasileiro Paulo Halm, em cartaz no Rio a partir de sexta-feira (6), jogue no
lixo tudo o que você pensou nos últimos 60 segundos.
O documentário acompanha o cotidiano de seis mulheres
muçulmanas que frequentam a discreta sociedade muçulmana do Rio de Janeiro.
Marcela é professora; Jamile, socióloga; Patrícia,
historiadora; Zahreen, agricultora; Jamila, advogada e Maria, engenheira. Com
exceção de Jamila, cuja família é de origem palestina, todas são convertidas
(ou revertidas) por identificação com o Alcorão, o modo de vida e a cultura de
países muçulmanos.
E são todas belas. De uma beleza que se revela aos poucos.
Por causa do véu, quase nunca vemos seus cabelos, seus seios, suas cadeiras,
suas pernas. Somos forçados a concentrar em seus olhos, suas bocas, seus
narizes, o jeito de falar, o jeito de sorrir, suas ideias, seus humores, os
olhos.
Mas o que leva uma mulher brasileira a decidir se cobrir com
um véu?
“As pessoas acreditam que o véu existe para reprimir a
mulher. Pelo contrário. Não foi um preceito do Profeta Maomé. Judeus e cristãos
já tiveram que usar véus, como se vê em imagens de santas e da própria Virgem
Maria. A diferença é que ainda usamos. É uma proteção”, conta Jamila, a
advogada.
Hijab – o termo que descreve o véu islâmico – é uma palavra
árabe que significa cobertura, proteção.
Que mulher não gostaria de, ao invés de ser escrava de
barrigas negativas, pernas finas, bundas sem celulite, seios com próteses e ter
o menor número de ideias possível, conquistar alguém por seus pensamentos, seu
jeito de falar e seu olhar?
Paulo Halm, roteirista consagrado pelo já clássico “Pequeno
Dicionário Amoroso”, deixa a palavra com as mulheres. É do encantador dom delas
com as palavras que cada pré-conceito convicto à respeito do mundo muçulmano é
doce, bem humorado e muito claramente desmentido.
As últimas vezes, por exemplo, que no Rio de Janeiro viu-se
a bandeira da Palestina, foram nas passeatas partidárias dos últimos meses e
nas arquibancadas, dentro das principais torcidas organizadas de Vasco e
Flamengo. Mas a verdadeira relação da Palestina ou de sua causa com os Cariocas
é o filme que nos dá.
A explicação dada pelas mulheres do filme à respeito da
poligamia – permitida pelo Islã e vista como o fim da picada machista pelos
ocidentais - faz um sentido
desconcertante. Nosso tapete mágico, onde flutuamos acima de nossas
hipocrisias, nos achando as mais corretas criaturas sobre a terra, é puxado na
hora.
Nos dez primeiros minutos de filme, você sequer imagina
estar no Rio de Janeiro. A direção de arte trabalha obsessivamente com tons de
terra, e a cor azul, tão cara para um povo que foi criado onde água é ouro,
aparece apenas uma vez, em um contexto praticamente filólogo.
“Hijab” já valeria só para descobrir um Rio de Janeiro que
parece, o tempo inteiro, a cidade do Cairo, ou um Líbano improvável.
Também descobrimos no filme, por exemplo, que a maioria das
cariocas muçulmanas são tijucanas.
Como ser tijucano não fosse também uma vocação religiosa.
Embora o maior mérito do filme seja revelar o cotidiano da
mulher do Islã sem procurar compará-lo e afirmá-lo sobre o de outras religiões,
é impossível não parar e repensar convicções.
E que cineasta não gostaria de fazer um filme que fizesse o
espectador repensar convicções?
E que espectador não gostaria de ver um filme que,
finalmente, o fizesse repensar convicções?
No obrigatório “Léxico Português de Origem Árabe – subsídios
para estudos de filologia” (Editora Amáldema), escrito pelo professor João Baptista
Vargens, vemos que a palavra “tarefa” (tar˜iha(t)) é, como tantas de nosso
idioma, de origem árabe. Hijab também.
A partir desta sexta, nos cinemas, há uma tarefa obrigatória
para o fim de semana.
Fonte: www.amaivos.uol.com.br
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