quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O documentário “Hijab – Mulheres de véu”

Patricia, Zahreen, Jamille, Maria, Jamila e Marcela são mulheres Cariocas que adotaram o islamismo como religião e passaram a usar o Hijab, tradicional véu que cobre os cabelos das mulheres muçulmanas. O filme dialoga com essas mulheres e mostra a conseqüências dessa opção religiosa na relação com suas famílias, na escola no trabalho, num momento em que o preconceito contra os muçulmanos e crescente.


Um exercício: pensar durante 30 segundos em mulheres muçulmanas que usam véu e aquela roupa toda que cobre o corpo, dos pés a cabeça.
Outro exercício: pensar durante 30 segundos em mulheres brasileiras, muçulmanas, que usam véu e aquela roupa toda que cobre o corpo, dos pés a cabeça, aqui no Rio de Janeiro, cidade em que o culto ao corpo é, na verdade, a religião oficial.

Após assistir “Hijab – Mulheres de véu”, filme do cineasta brasileiro Paulo Halm, em cartaz no Rio a partir de sexta-feira (6), jogue no lixo tudo o que você pensou nos últimos 60 segundos.

O documentário acompanha o cotidiano de seis mulheres muçulmanas que frequentam a discreta sociedade muçulmana do Rio de Janeiro.

Marcela é professora; Jamile, socióloga; Patrícia, historiadora; Zahreen, agricultora; Jamila, advogada e Maria, engenheira. Com exceção de Jamila, cuja família é de origem palestina, todas são convertidas (ou revertidas) por identificação com o Alcorão, o modo de vida e a cultura de países muçulmanos.

E são todas belas. De uma beleza que se revela aos poucos. Por causa do véu, quase nunca vemos seus cabelos, seus seios, suas cadeiras, suas pernas. Somos forçados a concentrar em seus olhos, suas bocas, seus narizes, o jeito de falar, o jeito de sorrir, suas ideias, seus humores, os olhos.

Mas o que leva uma mulher brasileira a decidir se cobrir com um véu?

“As pessoas acreditam que o véu existe para reprimir a mulher. Pelo contrário. Não foi um preceito do Profeta Maomé. Judeus e cristãos já tiveram que usar véus, como se vê em imagens de santas e da própria Virgem Maria. A diferença é que ainda usamos. É uma proteção”, conta Jamila, a advogada.

Hijab – o termo que descreve o véu islâmico – é uma palavra árabe que significa cobertura, proteção.

Que mulher não gostaria de, ao invés de ser escrava de barrigas negativas, pernas finas, bundas sem celulite, seios com próteses e ter o menor número de ideias possível, conquistar alguém por seus pensamentos, seu jeito de falar e seu olhar?

Paulo Halm, roteirista consagrado pelo já clássico “Pequeno Dicionário Amoroso”, deixa a palavra com as mulheres. É do encantador dom delas com as palavras que cada pré-conceito convicto à respeito do mundo muçulmano é doce, bem humorado e muito claramente desmentido.

As últimas vezes, por exemplo, que no Rio de Janeiro viu-se a bandeira da Palestina, foram nas passeatas partidárias dos últimos meses e nas arquibancadas, dentro das principais torcidas organizadas de Vasco e Flamengo. Mas a verdadeira relação da Palestina ou de sua causa com os Cariocas é o filme que nos dá.

A explicação dada pelas mulheres do filme à respeito da poligamia – permitida pelo Islã e vista como o fim da picada machista pelos ocidentais  - faz um sentido desconcertante. Nosso tapete mágico, onde flutuamos acima de nossas hipocrisias, nos achando as mais corretas criaturas sobre a terra, é puxado na hora.

Nos dez primeiros minutos de filme, você sequer imagina estar no Rio de Janeiro. A direção de arte trabalha obsessivamente com tons de terra, e a cor azul, tão cara para um povo que foi criado onde água é ouro, aparece apenas uma vez, em um contexto praticamente filólogo.

“Hijab” já valeria só para descobrir um Rio de Janeiro que parece, o tempo inteiro, a cidade do Cairo, ou um Líbano improvável.

Também descobrimos no filme, por exemplo, que a maioria das cariocas muçulmanas são tijucanas.

Como ser tijucano não fosse também uma vocação religiosa.

Embora o maior mérito do filme seja revelar o cotidiano da mulher do Islã sem procurar compará-lo e afirmá-lo sobre o de outras religiões, é impossível não parar e repensar convicções.

E que cineasta não gostaria de fazer um filme que fizesse o espectador repensar convicções?

E que espectador não gostaria de ver um filme que, finalmente, o fizesse repensar convicções?

No obrigatório “Léxico Português de Origem Árabe – subsídios para estudos de filologia” (Editora Amáldema), escrito pelo professor João Baptista Vargens, vemos que a palavra “tarefa” (tar˜iha(t)) é, como tantas de nosso idioma, de origem árabe. Hijab também.

A partir desta sexta, nos cinemas, há uma tarefa obrigatória para o fim de semana.


Fonte: www.amaivos.uol.com.br

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