sábado, 14 de setembro de 2013

O outro filho- sobre a parábola do filho pródigo-

O “filho mais velho” é uma provocação para aqueles que vivem com ele. O que estamos fazendo nós que não abandonamos a Igreja? Garantir nossa sobrevivência religiosa observando “o recomendável”, ou testemunhar o grande amor de Deus a todos os seus filhos e suas filhas?


Por José Antonio Pagola

Sem dúvida, a parábola mais cativante de Jesus é a do “pai bondoso, erradamente designada, “parábola do filho pródigo”. Precisamente este “filho mais novo” sempre atraiu a atenção dos comentadores e pregadores. O seu regresso a casa e o acolhimento incrível do pai sensibilizaram todas as gerações cristãs.


Mas também fala a parábola do “filho mais velho”, um homem que permanece com seu pai, sem imitar a vida desordenada de seu irmão fora de casa. Quando o informam da festa organizada por seu pai para acolher o filho perdido, fica irritado. O regresso do irmão não o faz feliz, como seu pai, mas sente raiva “indignou-se e negava-se a participar” na festa. Ele nunca tinha abandonado a casa, mas agora se sente como um estranho entre os seus.

O pai saiu para convidá-lo com o mesmo carinho com que acolheu o seu irmão. Não grita nem dá ordens. Com amor humilde “tenta convence-lo” a entrar na festa de recepção. Então o filho explode revelando todo o seu ressentimento. Ele passou toda a vida a seguir as ordens do pai, mas não aprendeu a amar como ele ama. Agora só sabe exigir os seus direitos e denegrir o seu irmão.


Esta é a tragédia do “filho mais velho”. Ele nunca saiu de casa, mas seu coração sempre esteve muito longe. Sabe cumprir mandamentos, mas não sabe amar. Não entendo o amor de seu pai por aquele filho perdido. Ele não aceita nem perdoa, não quer ter nada a ver com seu irmão. Jesus conclui a parábola sem satisfazer a nossa curiosidade: participou na festa ou ficou de fora?

Envolvidos na crise religiosa da sociedade moderna acostumamos-nos a falar de crentes e não crentes, de praticantes e de afastados, de casamentos abençoados pela Igreja e de casais em situação irregular… Embora continuemos a classificar os seus filhos, Deus ainda está à espera de todos, não é de propriedade dos “bons” ou dos “praticantes”. É Pai de todos.

O “filho mais velho” é uma provocação para aqueles que vivem com ele. O que estamos fazendo nós que não abandonamos a Igreja? Garantir nossa sobrevivência religiosa observando “o recomendável”, ou testemunhar o grande amor de Deus a todos os seus filhos e suas filhas? Estamos construindo comunidades abertas que sabem compreender, acolher e acompanhar aqueles que buscam a Deus entre as dúvidas e questionamentos? Nós levantamos barreiras ou fazemos pontes? Nós oferecemos a amizade ou os olhamos com preconceito?”


Fonte: Religion Digital

Nenhum comentário: