Os telefonemas de Francisco nunca são por acaso. Ele liga
para uma pessoa para falar com todas. Neste caso, as mães solteiras. Um
envelope endereçado simplesmente a "Sua Santidade, Francisco, Cidade do
Vaticano". Na terça-feira à tarde, o celular de Anna Romano tocou.
"Eu atendi e fiquei sem palavras: no início, pensei que era trote, mas
depois ouvi a referência à carta sobre a qual só os meus pais sabiam". Do
outro lado da linha, o pontífice.
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no sítio
Vatican Insider, 06-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Vou batizar o seu filho. Nós, cristãos, não devemos
levar a esperança embora", disse o papa por telefone à vendedora romana de
35 anos que tinha se dirigido a ele em um momento de desespero. Tendo ficado
grávida de um homem que a abandonou, no fim de junho, ela escreveu a Francisco
para contar a sua triste história.
"O meu companheiro me deixou, dizendo-me que não tem
nenhuma intenção de cuidar do bebê a caminho, ou, melhor, me aconselhou a
abortar", explica ela. "Por um instante, eu pensei em fazer isso
realmente. Agora, só a ideia me dá calafrios. Naquele período, porém, eu estava
muito sozinha e infeliz".
Ela optou por dar continuidade à gravidez, com o apoio da
família. "O pontífice me telefonou e me disse que eu tinha sido muito
corajosa e forte por ter decidido manter o meu bebê, apesar de o seu pai ter me
deixado", conta a mãe solteira. "Ele me prometeu que vai batizá-lo
pessoalmente: o seu telefonema foi emotivamente muito intenso e mudou a minha
vida".
A mulher descobriu que o ex-companheiro já era casado e
tinha um filho. Há alguns meses, Anna se mudou para Arezzo, onde encontrou
trabalho como vendedora em uma joalheria, depois que a loja onde ela trabalhava
em Roma fechou.
"Os telefonemas entram na esfera das relações pessoais
do papa", observa um colaborador próximo de Bergoglio. "Os conteúdo
dessa conversa expressam um sentimento de proximidade e de pastoralidade".
Anna Romano acrescenta: "Quando eu lhe disse que eu
queria batizar o meu filho, mas que eu tinha medo que não fosse possível porque
sou uma mãe solteira, já divorciada além disso, o papa me disse que, se eu não
tivesse um pai espiritual para o batismo, ele mesmo pensava em dar o sacramento
ao meu pequeno".
Um brilho na escuridão de meses sombrios. "Não sei se o
papa realmente encontrará tempo para batizar o meu filho, que vai nascer no
início de abril e que, se for menino, eu quero chamar de Francisco",
enfatiza Anna. "Ele me deixou feliz, me deu força e eu conto a minha
história porque eu gostaria que servisse de exemplo para muitas mulheres que se
sentem longe da Igreja só porque encontraram o homem errado, estão divorciadas
ou porque encontraram homens que nem sequer são dignos de serem pais".
Um sinal forte também para dentro da Igreja. "Ainda
como arcebispo de Buenos Aires, Bergoglio se confrontava com os sacerdotes que,
em situações como essa, negavam o batismo", comenta o sociólogo Luca
Diotallevi, organizador das Semanas Sociais dos Católicos. "O gesto de
Francisco é um testemunho de fé que encoraja e lembra a todos que o julgamento
sobre o comportamento das pessoas só pode ser dado por Deus".
Na mesma sintonia, o teólogo Gianni Gennari diz:
"Batizando pessoalmente essa criança, o papa afirma o primado da
misericórdia com relação ao julgamento sobre o passado dos pais e da família:
Deus sempre olha para o futuro e esquece qualquer coisa diante de um coração
aberto à esperança".
Além disso, acrescenta Gennnari, Francisco, dessa forma,
"substitui o moralismo pela afirmação dos valores morais" diante de
uma vida nascente: "Assim como o padre Milani, o papa toma diretamente nas
mãos a situação, não delega aos outros e testemunha o Evangelho da
esperança".
Fonte: Ihu
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