Símbolo no enfrentamento da violência contra mulheres, a
brasileira Maria da Penha foi homenageada pela ONU em sua nova sede em
Brasília.
Durante 20 anos, a biofarmacêutica Maria da Penha Maia
Fernandes tem atuado como protagonista na luta pelos direitos da mulher no
enfrentamento à violência doméstica no Brasil. Ela, que foi vítima de duas tentativas de assassinato
e acabou paraplégica depois da primeira delas, transformou sua tragédia pessoal
numa bandeira contra a impunidade.
Em homenagem a esta trajetória e às conquistas acumuladas
por esta brasileira – incluindo a promulgação da lei brasileira que leva seu
nome –, o PNUD e o Sistema das Nações Unidas no Brasil nomearam de Maria da
Penha uma de suas principais salas de reunião na nova Casa da ONU.
“Fiquei muito emocionada e sensibilizada pela lembrança do
meu nome (...), na esperança de que o enfrentamento da violência doméstica
consiga avançar”, disse Maria da Penha durante sua visita ao prédio do PNUD
Brasil no Complexo Sergio Vieira de Mello – Casa da ONU no Brasil.
As agressões e tentativas de homicídio contra Maria da Penha
aconteceram em 1983 e até 1997 não havia decisão sobre o processo.
Desde os atentados o seu agressor somente cumpriu dois anos de pena em regime fechado.
Até então o Estado brasileiro não punia
adequadamente os casos de violência
doméstica. Em 1998, Maria da Penha
decidiu denunciar o caso à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA,
em conjunto com o Centro pelo Direito e a Justiça Internacional (CEJIL) e o
Comitê da América Latina e o Caribe para a Defesa dos Direitos das Mulheres
(CLADEM).
Entre 1998 e 2001 o caso foi analisado e foram enviados quatro ofícios ao governo
brasileiro, que nunca foram respondidos. A Corte Interamericana decidiu que o
Brasil foi negligente no caso e a partir dessa condenação internacional, a
sociedade civil brasileira teve um instrumento de pressão para mudar os códigos Penal, de Processo Penal e Execução
Penal na punição da violência doméstica e educacional para prevenir a
violência.
A promulgação da Lei
11.340, em 2006, surgiu como resposta às recomendações do Comitê para
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW/ONU) e
da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra
a Mulher. A Lei Maria da Penha altera o Código Penal Brasileiro ao tornar
possível a prisão preventiva e em flagrante dos agressores de mulheres. Ela
também exclui a aplicação de penas alternativas, aumentando o período de detenção
do agressor de um para três anos.
“Precisamos trabalhar em prol da mudança de cultura machista
da sociedade, que está envolvida em todas as camadas sociais, está presente nas
instituições públicas e privadas, está presente, inclusive, nas instituições
que têm por finalidade fazer justiça, mas que esta cultura interfere na justiça
que precisa ser feita”, ressaltou.
Quando questionada sobre o peso de carregar em seu histórico
uma lei com o seu nome, Maria da Penha não hesita: “Não dá para pensar em mim,
eu tenho que pensar na causa, que é muito grande." Em entrevista ao PNUD
Brasil, ela falou sobre a evolução desta
luta desde a criação da lei.
Luta pela igualdade
de gênero no Brasil
O Brasil tem se destacado internacionalmente na formulação
de políticas governamentais de ações afirmativas para as questões de raça e
gênero. Por meio do trabalho conjunto da Secretaria Especial de Políticas para
Mulheres (SPM) com a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial (SEPPIR), o Governo brasileiro tem tido avanços no atendimento das
demandas do movimento da sociedade civil organizada.
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)
coordena os esforços mundiais e nacionais para incluir a igualdade de gênero e
o empoderamento feminino nas ações para redução da pobreza, construção da
governabilidade democrática, prevenção de crises e recuperação e promoção do
desenvolvimento sustentável. Segundo a ONU, 70% das pessoas em todo o mundo, que
vivem abaixo da linha da pobreza, são mulheres.
Apesar de estudarem mais que os homens, em muitos países
elas ainda ocupam postos de trabalho mais precários e mesmo exercendo funções
equivalentes, ainda assim recebem menores salários. De acordo com o Programa
Interagencial de Promoção da Igualdade de Gênero, Raça e Etnia, construído por
meio de cooperação entre a agências da ONU e o governo brasileiro, essa
realidade para a mulher negra é ainda mais desvantajosa , o que significa que a
pobreza tem gênero e cor em países como o Brasil.
Na esfera internacional, a ONU criou em 2011 a ONU Mulheres,
entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das
Mulheres. Os ODM vislumbram o empoderamento e participação das mulheres nos
espaços de decisão, de forma igualitária, plural e multirracial. Em tempo, a
Lei Maria da Penha foi citada em relatório da entidade como exemplo de
legislação pioneira no mundo. A pesquisa “Progresso das Mulheres do Mundo: Em
Busca da Justiça” realizada em 139 países, aponta os avanços de leis de
proteção feminina.
Ainda de acordo com o estudo, apesar de alguns sucessos,
mulheres em todo o planeta ainda são vítimas de violências e desigualdades em
casa e no trabalho. Segundo Maria da Penha, no Brasil, as políticas públicas
precisam chegar também nos pequenos municípios.
Fonte: PNUD
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