Em média, duas dezenas de brasileiras são assassinadas no
exterior anualmente em consequência da exploração sexual. As nascidas em Goiás
são as maiores vítimas, mas a crise econômica na Europa vem diminuindo os casos
de violência.
Goianas deportadas de
Portugal, no aeroporto de Brasília: terminal é o principal ponto de partida
para aquelas que deixam o país com a intenção de vender o corpo na Europa
Contada na edição de ontem do Correio, a história de Letícia
Peres Mourão é incomum, porque foi um dos raros casos de mulher escravizada na
Europa que teve a coragem denunciar seus agressores. No entanto, muitas
brasileiras tiveram um fim trágico como o dela. Aos 31 anos, Letícia morreu com
um tiro na cabeça, no Guará, em 2008. Tantas outras foram assassinadas sem
sequer conseguir voltar à terra natal. Goianas, como ela, são as maiores
vítimas das máfias da prostituição internacional.
Em média, 20 brasileiras são assassinadas anualmente no
exterior em consequência da exploração sexual. Somente em 2012, sete goianas
fizeram parte dessa estatística. E foi o ano com o menor número de vítimas no
século. O estado já chegou a perder 20 cidadãs assassinadas por conta da atividade
em um ano. Outras 18 desapareceram a cada 12 meses, em média. Os números são da
Secretaria de Assuntos Internacionais do Governo de Goiás, órgão encarregado de
dar assistência aos goianos no exterior e as suas famílias no Brasil.
O órgão estima que haja de 2,5 mil a 3 mil goianas vivendo
da prostituição na Europa, de forma voluntária ou forçada. A Espanha, onde
Letícia viveu sob o regime de escravidão, é o principal destino das prostitutas
goianas desde os anos de 1990. As organizações criminosas espanholas e
portuguesas se concentram nos estados do Centro-Oeste, segundo investigações da
Polícia Federal.
Brasília entrou na rota do tráfico internacional de seres
humanos, servindo de porta de saída de prostitutas para a Europa. Desde que o
Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek consolidou o oferecimento de voos
regulares para Lisboa, as goianas, principal alvo dos aliciadores, usam o
terminal candango como ponto de partida para o comércio do corpo em cidades de
Portugal, Espanha, Bélgica e Suíça. No entanto, a quantidade de goianas se
prostituindo no exterior e de vítimas de tráfico de pessoas vem caindo com a
crise econômica que assola o velho continente.
PREÇOS EM QUEDA
Fundador e chefe da Secretaria de Assuntos Internacionais do
Governo de Goiás, Elie Chidiac diz que levantamento realizado pela entidade
revelou que já houve 4,5 mil mulheres nascidas em Goiás vivendo da venda do
corpo fora do país, desde 2004. “Hoje, o número representa menos de 1% dos
goianos que vivem fora do país, pois eles são 350 mil”, ressalta Chidiac. “A
quantidade caiu por causa da crise econômica e porque ficou mais barato para as
máfias traficar pessoas do leste europeu, pois os preços das passagens são
menores”, conclui.
Chidiac esteve na Europa em 2010, com funcionários da sua
secretaria, do Ministério das Relações Exteriores, da Secretaria de Políticas
para as Mulheres (SPM) e do Ministério da Justiça. Durante duas semanas, os
representantes brasileiros estiveram em Holanda, Suíça, Portugal e Espanha.
Conversaram com autoridades locais e brasileiras prostitutas. “Há uma briga por
mercado entre brasileiras e mulheres do leste europeu. Brasileira que cobrava
até 200 euros por programa, agora pede 35 euros, devido à concorrência”, conta
Chidiac.
REGIME ESCRAVO
Uma operação da PF com a polícia da Espanha desmontou
quadrilha que aliciava mulheres para exploração sexual, em 30 de janeiro. Os
agentes prenderam quatro pessoas e libertaram seis mulheres confinadas em duas
boates. No Brasil, federais prenderam, em Salvador, o casal que aliciava as
jovens. Na Espanha, foram presos os gerentes dos dois bordéis, em Salamanca e
em Ávila.
As polícias do Brasil e da Espanha chegaram à quadrilha a
partir da denúncia da mãe de uma brasileira mantida como escrava em uma das
casas de prostituição. Ela percebeu a semelhança da situação de sua filha com a
retratada pela novela Salve Jorge, da TV Globo, e denunciou ao Ligue 180, da
SPM. O serviço, por sua vez, acionou a PF, em de 30 de outubro de 2012.
Com ajuda do adido da PF na Espanha e da polícia espanhola,
foram encontradas em situação de tráfico de pessoas duas brasileiras, três
romenas e uma mulher de Serra Leoa, nas boates Vênus e Marte. Elas saíam do
Brasil com uma dívida de mil euros e, quando chegavam à Espanha, já tinham adquirido
uma dívida de 4 mil . A operação ainda segue e poderá deter outros criminosos,
segundo o diretor-geral da PF, Leandro Daiello.
A Polícia Federal brasileira abriu 514 inquéritos de tráfico
de pessoas entre 2005 e 2011 — os números incluem o tráfico internacional de
pessoas, tráfico interno e trabalho escravo. Já o ligue 180 recebeu mais de 3
milhões de atendimentos diversos desde 2006. De janeiro a dezembro de 2012,
foram 80 ligações pelo Ligue 180 internacional, sendo 5% relacionadas ao
tráfico de pessoas. Do total, 30 vieram da Espanha, 25 da Itália, 18 de
Portugal e duas de El Salvador. Os atendimentos em maioria referem-se a
violência física contra mulheres (52%).
Fonte: Correio Braziliense
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