O que necessitamos hoje, na Igreja, não é só introduzir
pequenas reformas, promover o “aggiornamento” ou cuidar da adaptação aos nossos
tempos. Necessitamos de uma conversão em nível mais profundo, um “coração
novo”, uma resposta responsável e decidida à chamada de Jesus a entrar na
dinâmica do Reino de Deus.
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de
Jesus Cristo segundo Lucas 13, 1-9 que corresponde ao 3º Domingo de Quaresma,
ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o
texto.
Eis o texto
Tinha passado já bastante tempo desde que Jesus se
apresentara na sua terra de Nazaré como Profeta, enviado pelo Espírito de Deus
para anunciar aos pobres a Boa Nova. Continua a repetir incansavelmente a Sua
mensagem: Deus está já próximo, abrindo-se caminho para fazer um mundo mais
humano para todos.
Mas Jesus é realista. Sabe bem que Deus não pode mudar o
mundo sem que nós mudemos. Por isso se esforça em despertar nas pessoas a
conversão: “Convertei-vos e acreditai nesta Boa Nova”. Esse empenho de Deus em
fazer um mundo mais humano será possível se respondemos acolhendo o seu
projeto.
Vai passando o tempo e Jesus vê que as pessoas não reagem à
chamada como seria o seu desejo. São muitos os que vêm escutá-Lo, mas não
chegam a abrir-se ao “Reino de Deus”. Jesus vai insistir. É urgente mudar antes
que seja tarde.
Em certa ocasião, Jesus conta uma pequena parábola. Um
proprietário de um terreno tem plantado uma figueira no meio da sua vinha. Ano
após ano, vem à procura de fruto e nela não o encontra. A sua decisão parece a
mais sensata: a figueira não dá fruto e está a ocupar inutilmente um terreno, o
mais razoável é cortá-la.
Mas o encarregado da vinha reage de forma inesperada. Por
que, afinal, não deixá-la? Ele conhece aquela figueira, viu-a crescer, cuidou-a,
não a quer ver morrer. Ele mesmo lhe dedicará mais tempo e mais cuidados, a ver
se dá fruto.
O relato interrompe-se bruscamente. A parábola fica aberta.
O dono da vinha e o seu encarregado desaparecem de cena. É a figueira quem
decidirá a sua sorte final. Entretanto, receberá mais cuidados que nunca desse
vinhador o qual nos faz pensar em Jesus: “O que veio procurar e salvar o que
estava perdido”.
O que necessitamos hoje, na Igreja, não é só introduzir
pequenas reformas, promover o “aggiornamento” ou cuidar da adaptação aos nossos
tempos. Necessitamos de uma conversão em nível mais profundo, um “coração
novo”, uma resposta responsável e decidida à chamada de Jesus a entrar na
dinâmica do Reino de Deus.
Temos de reagir antes que seja tarde. Jesus está vivo no
meio de nós. Como o encarregado da vinha, Ele cuida das nossas comunidades
cristãs, cada vez mais frágeis e vulneráveis.Ele alimenta-nos com o seu
Evangelho, sustenta-nos com o seu Espírito.
Temos de olhar o futuro com esperança, ao mesmo tempo em que
vamos criando esse clima novo de conversão e renovação de que necessitamos
tanto e que os decretos do Concílio Vaticano II não puderam até agora
consolidar na Igreja.
Fonte: Ihu
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