Aos seguidores de Jesus, custa-nos aceitar a Sua dimensão
profética. Esquecemos quase por completo algo que tem a sua importância. Deus
não se encarnou num sacerdote, consagrado a cuidar da religião do templo.
Tampouco é um letrado ocupado em defender a ordem estabelecida pela lei.
Encarnou-se e revelou-se num Profeta enviado pelo Espírito, a anunciar aos
pobres a Boa Nova e aos oprimidos a libertação.
Por José Antonio Pagola
Lc 4, 21-30
Sabemos que historicamente a oposição a Jesus foi-se gerando
pouco a pouco: o receio dos escribas, a irritação dos mestres da lei e a recusa
dos dirigentes do templo foram crescendo até acabar na Sua execução na cruz.
Também o sabe o evangelista Lucas. Mas, intencionalmente,
forçando inclusive o seu próprio relato, fala da rejeição frontal a Jesus na
Sua primeira atuação pública que descreve. Desde o inicio hão de tomar
consciência, os leitores de que a rejeição é a primeira reação que encontra
Jesus entre os Seus ao apresentar-se como Profeta.
O sucedido em Nazaré não é um acontecimento isolado. Algo
que sucedeu no passado. A rejeição a Jesus quando se apresenta como Profeta dos
pobres, libertador dos oprimidos e que perdoa os pecadores, pode-se ir
produzindo entre os seus ao longo dos séculos.
Aos seguidores de Jesus, custa-nos aceitar a Sua dimensão
profética. Esquecemos quase por completo algo que tem a sua importância. Deus
não se encarnou num sacerdote, consagrado a cuidar da religião do templo.
Tampouco é um letrado ocupado em defender a ordem estabelecida pela lei.
Encarnou-se e revelou-se num Profeta enviado pelo Espírito, a anunciar aos
pobres a Boa Nova e aos oprimidos a libertação.
Esquecemos que a religião cristã não é mais uma religião,
nascida para proporcionar aos seguidores de Jesus as crenças, ritos e preceitos
adequados para viver a sua relação com Deus. É uma religião profética,
impulsionada pelo Profeta Jesus para promover um mundo mais humano, orientado
para a sua salvação definitiva em Deus.
Os cristãos, temos o risco de nos distrairmos uma e outra
vez a dimensão profética que nos há de animar aos seguidores de Jesus. Apesar
das grandes manifestações proféticas que se foram dando na história cristã, não
deixa de ser verdade o que afirma o reconhecido teólogo H. von Balthasar: Nos
finais do segundo século "cai sobre o espírito (profético) da Igreja uma
geada que não voltou a sair de todo".
Hoje, de novo, preocupados por restaurar "o
religioso" frente à secularização moderna, os cristãos corremos o perigo
de caminhar para ol futuro privados de espírito profético. Se é assim, pode-nos
suceder o mesmo que aos vizinhos de Nazaré: Jesus abrirá caminho entre nós e
"afastar-se-á" para prosseguir o Seu caminho. Nada o impedirá de
continuar a Sua tarefa libertadora. Outros, vidos de fora, reconhecerão a Sua
força profética e acolherão a Sua ação salvadora.
Fonte: www.feadulta.com
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