"O título do livro de Hanna Rosin (The End of Men,
Editora: Riverhead. 320 págs., US$ 27,95) provocou risadas descontroladas entre
homens que o viram em jantar de que participei. Riam quanto quiserem, há
evidências de sobra do declínio masculino em todos os cantos da vida, poderia
rebater Rosin.
Jornalista e escritora talentosa, Rosin explorou a ideia
primeiramente em reportagem de capa da revista "The Atlantic"; os
argumentos parecem programados para causar furor entre comentaristas da
internet e especialistas", escreve Sheelah Kolhatkar, em artigo publicado
no Bloomberg Businessweek e reproduzido no jornal Valor, 18-09-2012.
Em 29 de agosto, um protesto irrompeu na convenção
republicana, em Tampa, nos Estados Unidos, durante o discurso do candidato a
vice-presidente Paul Ryan. Duas mulheres se levantaram e começaram a gritar:
"Um corpo, minha escolha!" Foi um momento breve, mas intenso, que
parecia saído dos comícios "Take Back the Night" (reconquiste a
noite), em defesa dos direitos das mulheres, nos anos 70. O protesto foi
rapidamente abafado pela resposta da multidão de republicanos presentes:
"USA! USA!" - e as mulheres, retiradas do estádio.
É uma cena que vale a pena recordar quando se lêem artigos
sobre uma suposta "mancession" (mistura das palavras homem e
recessão, em inglês). Um paraíso dominado pelas mulheres - ou mesmo um em que
qualquer mulher tenha acesso a ambientes de trabalho livres de assédio ou a
licença-maternidade paga - ainda parece algo remoto. Um dos dois grandes
partidos políticos apresenta uma plataforma que retiraria direitos pelos quais
as mulheres lutaram há décadas. Paul Ryan opõe-se publicamente ao projeto de
lei que trata da diferença salarial entre homens e mulheres - elas ganham US$
0,77 para cada US$ 1 dos homens. De acordo com Hanna Rosin, no entanto, "o
fim" dos homens está próximo.
O título do livro de Rosin provocou risadas descontroladas
entre homens que o viram em jantar de que participei. Riam quanto quiserem, há
evidências de sobra do declínio masculino em todos os cantos da vida, poderia
rebater Rosin. Jornalista e escritora talentosa, Rosin explorou a ideia
primeiramente em reportagem de capa da revista "The Atlantic"; os
argumentos parecem programados para causar furor entre comentaristas da
internet e especialistas. Seja a partir dos vários casais observados por Rosin em
todo país, nos quais o marido não paga as contas da casa e a mulher tem um
trabalho estável, ou das enxurradas de mulheres em profissões de altos salários
antigamente dominadas por homens ou, ainda, do número cada vez maior de
empresas do Vale do Silício que oferecem flexibilidade no trabalho para
executivos com filhos, Rosin acredita que a atual economia em transformação
favorece as mulheres e os talentos e habilidades que podem oferecer.
Já foi bem documentado que a recente recessão atingiu com
mais força áreas de trabalho tradicionalmente masculinas. A construção civil, a
indústria e, por certo tempo, o setor financeiro encolheram, encabeçando a
perda de 7,5 milhões de empregos, 75% dos quais pertenciam a homens. O
persistente desemprego no longo prazo deixou muitas famílias de ponta-cabeça: o
marido sem emprego e caindo em desânimo, enquanto a mulher veste sua meia-calça
e paga as contas. As mulheres, hoje, representam 60% dos formados em
faculdades; e a maioria das profissões com previsão de maior expansão nos próximos
dez anos tem predominância de mulheres, como enfermagem, contabilidade, ensino
e atendimento a crianças.
"O que é valorizado na nova economia da informação e de
serviços é a inteligência social, comunicação aberta e habilidade de
concentrar-se o tempo suficiente para conseguir as qualificações necessárias -
áreas em que as mulheres são pelo menos iguais aos homens e, de várias formas,
se sobressaem", escreve Rosin.
São observações respeitáveis e muitas vezes fascinantes, que
Rosin explora profundamente, ainda que às vezes com certa dose de exagero.
Ainda assim, na maioria das áreas que realmente contam - nas quais dinheiro e
poder estão concentrados - os homens continuam com predominância avassaladora.
As mulheres ocupam pouco menos de 17% dos assentos no Congresso. Apenas 3,8%
das empresas da lista "Fortune 500" têm mulheres como
executivas-chefes, proporção que mal variou nos últimos anos. Em Wall Street,
onde estão os salários realmente altos, o que se continua a ver é um mar de
homens.
Fonte: jornal Valor
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