A proporção de mulheres brasileiras com títulos acadêmicos
de nível superior é maior que a de homens – a parcela da população feminina
adulta com diploma é de 12%, ante 10% da masculina – mas esse dado sofre uma
inversão no mercado de trabalho. Quando se analisam as pessoas que atuam em
funções de nível superior, 91% dos homens estão empregados, contra 81% das
mulheres.
Os números fazem parte da mais recente edição do relatório
Education at a Glance , publicado pela Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico (OCDE). Embora o Brasil não seja membro da OCDE,
formada majoritariamente por nações europeias, os dados do País foram incluídos
no relatório para fins de comparação.
O descompasso brasileiro entre a proporção de mulheres
formadas e de mulheres empregadas acompanha a tendência registrada, também,
dentro da OCDE. Em média, 32% das mulheres adultas dos países-membros têm nível
superior, ante 29% dos homens, mas “as taxas de emprego das mulheres são
menores que as dos homens, sem exceção, em todos os países” da organização.
A diferença média é de nove pontos porcentuais, mas há casos
em que ela supera os 20 pontos. O país que mais se aproxima da igualdade é a
Noruega, com 91% dos homens adultos diplomados empregados, ante 89% das
mulheres.
Países como Canadá, Japão, Nova Zelândia e EUA têm mais
mulheres com nível superior do que a média da OCDE, mas a presença dessas
mulheres no mercado de trabalho fica abaixo da média da organização.
O relatório propõe medidas como um aumento da
disponibilidade de serviços de creche ou a subsídios para a educação infantil
como um benefício à trabalhadora. “A remoção de barreiras que impedem a
participação de mulheres altamente qualificadas no mercado de trabalho poderia
beneficiar o crescimento econômico”, diz o texto.
Renda
Dos países analisados pelo relatório, o Brasil ainda é, como
apontado no trabalho divulgado ano passado, aquele onde o diploma universitário
mais agrega renda: um brasileiro formado em curso superior pode esperar ganhar,
em média, 2,5 vezes mais que um brasileiro que tenha apenas completado o ensino
médio, e quase três vezes mais que um cidadão sem ensino médio completo. Na
OCDE, as taxas são de 1,6 (sobre ensino médio completo) e 1,9.
O relatório nota que o ganho de renda se mantém a despeito
no aumento no número de pessoas qualificadas por ensino superior: “A tendência
dos dados (...) sugere que a demanda por indivíduos com educação terciária
acompanhou o aumento da oferta na maioria dos países”.
Embora a formação superior aumente a renda em ambos os
sexos, os homens ganham mais com cada nível educacional alcançado: a renda de
um brasileiro com diploma universitário pode ser até 2,7 vezes superior à de um
que só tenha ensino médio, e 3,2 vezes maior que a de um homem sem diploma
colegial, mas a mulher ganha, 2,6 a mais que uma com ensino médio, e 3,1 a mais
que uma mulher sem esse grau de instrução.
As mulheres também demoram mais para atingir seu potencial
máximo de renda: a faixa etária mais bem remunerada, para as detentoras de
diploma, é a de 55 a 64 anos. No caso dos homens, a renda é maior entre 25 e 34
anos, declinando depois, a partir dos 55. A pior situação, no Brasil, é a da
mulher sem ensino médio: sua renda é de apenas 47% da de uma mulher com diploma
colegial (no caso dos homens, a renda é de 53%).
No geral, a mulher brasileira com nível superior ganha, em
média, apenas 61% do que ganha um homem com o mesmo nível de instrução. Na
média da OCDE, a renda da mulher com nível superior é 72% da do homem. Os
países mais próximos da igualdade são Reino Unido (82%) e Espanha (89%).
Escolha de carreira
No Brasil, 40% dos meninos e 50% das meninas de 15 anos
esperam ter uma carreira no campo da ciência ou da engenharia, de acordo com o
relatório da OCDE. Na média dos países da organização, as taxas são de 33% em
ambos os sexos. A discrepância é maior na área de saúde: apenas 14% dos meninos
brasileiros se veem atuando nesse setor, ante 32% das meninas. Na média da
OCDE, os números são 7,4% e 19,7%, respectivamente.
Em 2010, 63% de todos os títulos acadêmicos de nível
superior concedidos no Brasil foram recebidos por mulheres. Elas são maioria –
representando de 52% a 77% do total de títulos – nas áreas de Educação;
Humanidades e Artes; Saúde; Ciências Sociais, Direito e Administração; e
Serviços. Tornam-se minoria, no entanto, nos setores de Engenharia, Manufatura
e Construção (28%); Ciência (38%); e Agricultura (41%).
Fonte: Carlos Orsi, da revista Ensino Superior Unicamp
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