Hoje o atual funk carioca nada mais é do que alienação e fuga da realidade em que vive a maioria dos jovens das camadas mais pobres da nossa sociedade. Este tipo de música não tem nada de contestador, fazem apologia às drogas, ao papel submisso da mulher, aos grupos milicianos e dos grupos dos soldados do comércio varejista de drogas. Sem falso moralismo ou hipocrisia, este tipo de música não contribui em nada para elevar a consciência das massas exploradas pelo capital.
Hoje no Brasil se faz muita confusão sobre o que é funk,
muitos ritmos surgem e desaparecem. A indústria cultural de acordo com o
interesse do mercado muda nomes e fórmulas de determinadas manifestações
artístico-culturais.
A origem do funk se deu nos Estados Unidos, assim com o
blues, gospel, jazz e soul surgiram nas comunidades negras. A palavra funk vem
do Inglês que quer dizer medo, embaraço pusilânime. James Brown é considerado
um dos pais do funk; alguns críticos musicais consideram Michael Jackson e
outros cantores negros estadunidenses como expressão deste gênero musical.
Entre nós o funk começa nos anos 1970 em plena ditadura
civil-militar durante o movimento da Black Music. Alguns consideram Tim Maia,
Jorge Benjor, Sandra de Sá, Gerson King kombo e outros. Dos precursores do
ritmo em terras brasileiras dos anos 1970 ao atual ritmo considerado funk,
muita coisa mudou da influência do Soul à batida de nossos dias cada vez mais o
atual chamado funk demonstra não ter nada haver com a sua origem.
Entre o fim da ditadura civil-militar à volta da democracia
burguesa durante os anos 1980 este ritmo musical não tinha ainda muita força e
espaço nos grandes veículos de comunicação de massas. Vivia-se o auge do
chamado rock Brasil, consolidava-se o rock brasileiro como expressão da
juventude que resistiu à ditadura civil-militar e denunciava as injustiças e os
anseios da jovem geração, onde rádios como a Fluminense FM 94,9 na cidade de
Niterói, estado do Rio de Janeiro divulgavam, bandas como Legião Urbana,
Paralamas do Sucesso, Pleber Rude, Garotos Podres, RPM, Ira, Ultraje a Rigor,
Barão Vermelho e outras bandas eram expressão deste momento histórico da
sociedade brasileira, e com o avanço do neoliberalismo na passagem dos anos
1980 para 1990 o rock começa a perder alguns espaços na mídia e passa a se
restringir a um determinado público específico e se consolida como um nicho de
mercado.
A partir do neoliberalismo, o período é marcado pelo pagode
mauricinho, pelo breganejo criticado por Lulu Santos por conta do apoio a
Collor nas eleições de 1989. Enquanto isso, o funk carioca se espalha pelas
comunidades pobres de todo o Rio atingindo até as academias de ginástica da
chamada classe média da zona sul do Rio.
As primeiras músicas falavam em amor, amizade e problemas
sociais. Quem não se lembra da música do Silva, hoje este ritmo assim como o
cenário da música brasileira apoiada pela grande mídia mudou para pior. Hoje
este ritmo do chamado funk carioca, assim como outros gêneros musicais como a
música baiana, passou a explorar a sexualidade e a pornografia, onde o sexo é
visto não na forma de prazer responsável e libertário, e sim como objeto a ser
consumido de forma irresponsável e vulgar onde o sexo é praticado na forma do salve-se
quem puder, refletindo uma sociedade alienada nas letras, nos bailes, nas
roupas das dançarinas e cantoras do funk, do axé etc. A situação, todos sabem:
meninas grávidas precocemente e abandonadas e os meninos pais sem emprego,
formação ou vítimas da violência urbana onde crianças crescem sem uma estrutura
familiar com todas as possibilidades de reproduzir o eterno ciclo de alienação
e miséria em que vegetam.
Hoje o atual funk carioca nada mais é do que alienação e
fuga da realidade em que vive a maioria dos jovens das camadas mais pobres da
nossa sociedade. Este tipo de música não tem nada de contestador, fazem
apologia às drogas, ao papel submisso da mulher, aos grupos milicianos e dos
grupos dos soldados do comércio varejista de drogas. Sem falso moralismo ou
hipocrisia, este tipo de música não contribui em nada para elevar a consciência
das massas exploradas pelo capital.
Estes ritmos são apoiados e incentivados até por lideranças
políticas ligadas a burguesia para incentivar a vulgaridade das mulheres que
através da exposição de seus corpos como mercadoria, sonhando como as
dançarinas do funk acender socialmente, talvez casar ou engravidar de algum
artista, jogador de futebol ou conseguir algum contrato para alguma revista
masculina. Na prática, é muito difícil
isso ocorrer porque nem todas poderão ter as mesmas chances como ocorre
na sociedade capitalista, nem todas vão poder dar o golpe do baú e se tornar
marias chuteiras ou amantes de empresários, artistas e etc.
A grande maioria vai se tornar amante de policiais corruptos
ou mulher de gerentes do comércio varejista de drogas, e gozar de um poder
ilusório até quando a burguesia não precisar mais e estas mulheres vão amargar
as prisões ou encontrar a morte.
Não existe uma política cultural voltada para os filhos das
classes trabalhadoras, assistir um bom show de música é muito caro e alguns
ritmos musicais antes considerados populares se elitizaram tornando-se
inacessíveis às grandes massas, e o poder público por outro lado não procura
criar condições para tornar acessível nem democratiza para as grandes massas
bens culturais criados pela humanidade. Qual a saída para esses jovens? Ir às
casas de shows baratas com seguranças autoritários em sua maioria policiais,
ser vitima da violência, ir ao baile funk e lá saudar os Mc’s totalmente
manipulados pelos soldadinhos do comércio varejista de drogas até porque o
grande traficante não estará lá, mas mora nos bairros elegantes da burguesia;
com isto causam a alienação nos nossos jovens tornando-os domesticados e
adaptados ao status quo.
É preciso fazer uma distinção, popular não é popularesco ou
lixo. Se fosse assim não teria surgido o chorinho, o samba, o maracatu, o bumba
meu boi, o Blues, o jazz, o rock, o sertanejo e etc. São incontáveis os artistas
populares como Cartola, Nelson Cavaquinho, Gonzaguinha, Luiz Gonzaga, Djavan,
Jovelina Pérola Negra, Beatles, Elvis Presley, Black Sabbath, Chuck Berry,
Jerry Lewis, The Who, Sex Pistols e tantos outros. Até um palavrão em uma
música deve ter um sentido como faziam os Titãs, Legião Urbana, Ultraje a
Rigor. Hoje o palavrão nas músicas do funk carioca não contesta nada, apenas
contribui para a alienação.
É necessário resgatar a autêntica cultura popular ligada às
massas trabalhadoras, cultura não só para entreter e sim levar à reflexão e
conscientização da população através das artes. Devemos buscar uma cultura
popular que promova a contra-hegemonia e que coloque as massas em movimento e
aponte a necessidade histórica da revolução socialista como a única saída capaz
de libertar a população e quebrar esse círculo vicioso em que vivem as massas
exploradas pelo capital .
Fonte: pcb.org.br (
José Renato André Rodrigues – Professor de Filosofia; membro do Comitê Central
do PCB)
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