Situada no coração de Belo Horizonte, a Praça Raul Soares
tornou-se palco de uma espécie de footing dos tempos modernos. Seria um mero ponto de encontro, se a movimentação não servisse para encobrir práticas como prostituição de menores e a venda e o consumo de drogas.
Nas noites de
quinta e sexta-feira, o espaço e as ruas do entorno, rodeadas de bares, saunas
e boates com temática gay, recebem de 300 a 500 homossexuais e simpatizantes.
Por ali eles e elas desfilam com roupas coladas, flertam e trocam beijos e
carícias. Basta um olhar mais atento para perceber que adolescentes de 13 a 17 anos, que
à primeira vista parecem apenas passear pelo espaço, na verdade atuam como
garotos de programa. Oferecem o próprio corpo em troca de R$ 50, uma roupa de
grife, um celular novo.
“A Raul Soares é ponto para tudo – da paquera à prostituição
e venda de drogas”, denuncia uma fonte, que prefere o anonimato. Ele sabe do
que está falando. Já caiu na armadilha. Saiu “à caça” e foi caçado. Foi
molestado e sofreu humilhações ao se submeter a um programa, durante uma fase
em que estava descobrindo a própria sexualidade. “Achei que estava sendo
paquerado e entrei no carro de um homem mais velho. Até hoje tenho marcas de
facadas e de mordidas pelo corpo. Durante três anos, nenhum homem encostou a
mão em mim”, conta ele, que atualmente trabalha como chef de cozinha em um
restaurante chique da Zona Sul de BH.
Depois de passar quatro noites observando a rotina no point
gay do Centro de BH, a equipe do Estado de Minas confirmou as denúncias. Mas,
apesar do risco, garotos e garotas não parecem preocupados com atos de
violência ou com as consequências da promiscuidade, venda de álcool e drogas
para menores de idade. Querem mais é se divertir. A fachada de ilusão que mal
disfarça um mundo de crimes, abusos e degradação começa a ser armada cedo.
Chegamos em uma quinta-feira, às 20h30. Dois amigos acabam de descer do ônibus,
vindos da periferia de BH. Ao pisar no quarteirão fechado da Avenida Augusto de
Lima, opera-se uma notável transformação nos adolescentes. “Fora daqui sou
discriminado. Aqui eu me solto”, conta Olimar (os nomes da reportagem são
fictícios), de 16 anos. Ele dá o braço a Will,13 anos, que também se solta. Com
traços finos, cabelo liso de franja e voz afeminada, Will passa a desfilar com
o parceiro.
Praça tem strip,
abusos e batidas inúteis
Sandra Kiefer -
Dependendo do frio,
do chamariz das boates ou dos jogos daquela noite, a Raul Soares irá atrair um
tipo de público com maior ou menor poder aquisitivo, faixa etária e de bairros
bem distintos. No último fim de semana de julho, uma das casas de shows trazia
como atração “meninos malvados”, que se apresentariam como gogo boys e
prometiam “strip total”. Em 14 de agosto, véspera de feriado, haveria a
distribuição gratuita de vodca com energético (uma dose por pessoa), além de
shows com drag queens. A sinalização de que a noite vai dar ou não movimento,
porém, vem de um dos bares do entorno da praça, que poderá recolher as cadeiras
mais cedo de cima do passeio.
Nos bares e botecos nas imediações da praça são comuns as
batidas do Comissariado da Infância e da Juventude de Belo Horizonte, cuja sede
fica a poucos quarteirões dali, no número 600 da Avenida Olegário Maciel. As
inspeções se limitam, porém, a verificar a venda e o consumo de bebidas
alcoólicas por menores de idade nos estabelecimentos.
Ângela Maria Xavier Muniz, coordenadora do comissariado, diz
ser mais difícil detectar a exploração sexual de adolescentes em espaços
públicos. “Se não houver denúncia ou se a equipe não tiver certeza de que se
trata de menor de idade exposto à exploração, há o risco de causar
constrangimento na menina ou no menino, o que também seria crime. Ao ser
abordados, eles podem alegar que estão ali por livre e espontânea vontade”,
explica.
Segundo a coordenadora, a equipe está pronta para agir, caso
haja denúncias concretas de pedofilia ou exploração, mas precisa ter cautela em
relação aos movimentos da causa gay. “As pessoas têm o direito constitucional
de ir e vir, de estar em logradouros públicos. Temos de ser cuidadosos, porque
os movimentos podem levar pelo lado da discriminação, da homofobia”, afirma.
Flagrante
Nas questões de ordem sexual, o comissariado prefere centrar
fogo em motéis, hotéis, casas de massagem e saunas, onde podem fazer flagrantes
com mais facilidade. O artigo 250 do Estatuto da Criança e do Adolescente
proíbe a entrada ou permanência de menores de 18 nesses estabelecimentos. Se o
limite de idade for inferior a 14 anos, o acompanhante é imediatamente preso e
poderá responder a processo criminal. Já os adolescentes entre 14 e 16 anos são
detidos e encaminhados à delegacia.
Nesse caso, os documentos são apreendidos e os pais são
chamados a retirá-los. “Normalmente ocorre um chororô danado, pois os pais nem
desconfiavam da vida dupla do filho”, revela Ângela Muniz, lembrando que a
maior parte deles se apresenta com a identidade do irmão mais velho ou de
colegas de escola. “É fácil descobrir a verdade. Basta perguntar o nome do pai
ou da mãe e a data de nascimento. Eles nunca sabem. Aí damos uma bronca,
ameaçamos abrir processo por falsidade ideológica”, resume a coordenadora.
Entrevista
R., ex-frequentador da praça raul soares
Depois de ser espancado ao tentar se aventurar em um
programa quando jovem, R. faz questão de denunciar os absurdos que já
presenciou entre os garotos de programa e como morador de um dos edifícios no
entorno da Raul Soares. “O medo de rejeição é tão grande que a gente acaba se
machucando por dentro e por fora”, resume.
Qual é a sua visão sobre a Raul Soares?
É um mundo de fantasias. As pessoas que vêm para cá acham
que tudo aqui é bonito, que aqui é legal de viver, que todo mundo aqui é seu
amigo, mas no fundo é uma enganação. Atrás disso, há pessoas querendo vender
drogas e injetar menores dentro das boates para fazer programas. Já vi meninos
espancados, caídos no chão sem receber um centavo.
Como você percebeu isso?
Comecei a me descobrir mais tarde, com 16, 17 anos. Um dia,
estávamos eu e um menino que conheci. Parou um carro e entramos. Eles nos
molestaram. Eu ainda consegui fugir, mas já estava todo arrebentado. Quando
voltei para casa, não tive coragem de contar o que tinha acontecido. Inventei que
tinha sofrido um assalto. Até hoje, tenho marcas de facadas e de mordidas pelo
corpo.
A violência é geral?
A iniciação dos homossexuais começa cada vez mais cedo, aos
11, 12 anos, e a violência pode ser vista nas praças, saunas gays, banheiros de
shoppings da Zona Sul. A PM vê as abordagens acontecerem e não faz nada, nem a
Guarda Municipal, o Juizado de Menores, a Defensoria. Conheço um rapaz de 11
anos que começou a fazer programas por ordem da própria mãe. Ela disse a ele:
“Já que você quer ser veado, então vai arrumar dinheiro para pôr em casa”.
Fonte: Estado de Minas
Um comentário:
É triste ver isso tudo de dentro do seu apartamento... Isto vem acontecendo nos últimos 2,5 anos e tem se expandido assustadoramente. Sou uma senhora e fico abismada ao ver que a Praça em que meus filhos e netos brincavam, passeavam e onde ouvíamos música clássica (2010) assistindo as luzes refletidindo na fonte, acabou. Fico constrangida só de passar e ver casais gays, entrando literalmente, uns nos outros. E se vc falar, é homofóbico... Até onde irá isso...Também tenho meus direitos, concorda?
Postar um comentário