quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Escutaremos o clamor de Meninas e Adolescentes abusadas sexualmente?


Usar, comprar, forçar sexualmente uma menina, menino ou adolescente viola seus direitos, estraga suas vidas e é um delito. Temos que dizer não à exploração sexual comercial!
E nunca temos que chamá-la de prostituição infantil, porque as meninas, meninos não se prostituem; eles são explorados.


Diante da indiferença ante o abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, um consórcio de organizações nicaraguenses, com o apoio econômico de ONGs da Itália, realizamos uma campanha na Nicarágua durante 2 anos, atingindo 29 Municípios
A Asociación Mary Barreda (de León), a Fundación Xochiquetzal (de Chinandega), o Proyecto Miriam (de Estelí) e a Fundación Amistad (de Matagalpa) elaboramos um folheto sobre ese trabalho de investigação. Na revisão, participamos as CEBs e Dos Gerações. Com isso, foi elaborado um folheto com os desenhos feitos pelas próprias meninas e adolescentes.
Aqui, somente lhes apresentamos o texto do folheto e, sinto não poder incluir os desenhos, que são muito significativos.
Como parte dessa campanha, publicamos o folheto com entrevistas feitas a adolescentes de Manágua, León e Chinandega. Nessas páginas, quero partilhar com vocês algumas das principais respostas das adolescentes entrevistadas, especialmente em uma zona de fronteira com Honduras, e em León, Estelí e Matagalpa.

Com simplicidade, partilhamos essas vozes, ou melhor, esse clamor com o desejo de que todos participemos de distintas maneiras em apoio a esse tipo de Campanhas que nos ajudam a crescer em consciência e que combatem a passividade e a indiferença diante de tão grave delito.
Arnaldo Zenteno
 CEBs, Nicarágua
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"Ninguém pode negociar com nosso corpo: As Adolescentes exigimos respeito aos nossos direitos”
O que nós, adolescentes, entendemos por Exploração Sexual Comercial?
 - É quando negociam nosso corpo para ser utilizado sexualmente;
 - É quando uma garota anda vendendo e um homem lhe diz: compro o que estás vendendo se me deixas que te toque;
 - Algumas mães batem em nós se não vendemos; então, algumas adolescentes oferecemos nosso corpo em troca da venda das tortilhas, dos chicletes, de outra coisa que estamos vendendo...;
 - Às vezes, os pais acreditam que podem tocar e ter domínio sobre as filhas, só porque levam dinheiro e comida para casa;
- Quando uma madrasta vende o corpo da enteada e o pai não diz nada porque a mulher o mantém; e prefere acreditar nela que em sua própria filha, além do que, por ser mulher, a filha não merece crédito;
- Quando um padrasto violenta sua enteada e ela conta à sua mãe; porém, a mãe não acredita nela. Ao contrario, acha que a filha quer tomar seu marido. Pergunta ao marido e este lhe diz que é mentira. A mãe acredita mais no marido do que em sua filha;
 
Na Nicarágua, as adolescentes queremos viver em paz, sem maltratos nem abuso sexual por parte dos adultos.
- Minha mãe batia em mim com uma correia de cavalos, ou com qualquer coisa que estava perto dela;
- Gritavam comigo por qualquer motivo e me diziam que eu não servia para nada. Cheguei a pensar que era inútil e que não valia à pena viver;
- Minha mãe já apanhou tanto de meu padrasto que, algumas vezes, teve que ser hospitalizada;
- Minha mãe nunca recebeu amor e não aprendeu a amar. Creio que em sua casa todos se tratavam aos gritos e aos golpes;
 - Meu pai chegava bêbado e batia em todo mundo; às vezes, até com um fio elétrico, até tirar sangue. Lembro de tudo isso e meu coração dói porque essa situação me fez muito mal;
- Lembro quando meu padrasto batia em mina mãe com qualquer coisa; atirava facas nela, sem se importar com minha presença;
- Meu primo, o filho mais velho de minha tia, puxava tanto minhas orelhas que eu caía no chão de tanta dor;
 - Meu padrasto me maltratava; me castigava usando as cordas que usava para puxar água do poço, que estavam sempre molhadas e pesavam; dessa forma doía muito mais;
- Em minha casa ninguém escuta ninguém;
- Quando eu tinha cinco anos, caminhava sempre atrás de meus pais; tinha vergonha porque os dois bebiam muito.
Temos direito a viver com respeito: não abusem de nosso corpo
- Às vezes, nos maltratam com as coisas que nos dizem: Quanto custa? Lá vai a puta…
- Uma tia me ofereceu casa, comida e escola… Vivi um inferno. O marido dela me obrigava a beijá-lo e tocava minhas pernas;
- Meu tio me beijava na boca; tocava em mim; depois me dava cinco reais. Eu acreditava que ele gostava de mim e que era bom comigo;
- Um homem conhecido de minha família me perseguia; ele me dizia: Estás gostosa, te quero;
- Fui violentada por um conhecido; senti que mina vida ia acabar;
- Algumas vezes, alguns policiais nos obrigam a ter relações sexuais com eles;
- Uns primos abusaram de mim e, desde essa época, em mina mente estão todas as más recordações, que não me deixam viver tranquila;
 - Quando eu tinha 9 anos, deitei na minha cama e quando despertei meu padrasto estava me tocando por baixo da roupa; eu queria correr; porém, ele me segurou forte; doía; eu queria gritar; tampou minha boca... Não contei para ninguém, porque todos me diziam que eu era uma mentirosa. Isso acontecia todas as noites;
- Quando estamos vendendo, os motoristas só deixam que entremos nos ônibus se deixamos que toquem em nosso corpo;
- Eu tinha sete anos. Uma tarde, um homem foi até o lugar onde vendíamos verduras e me disse: "tu vais ser minha”; e passou as mãos em meus seios... Ninguém disse nada; só achavam graça.

Quando não encontramos apoio, carinho ou confiança para falar com alguém, buscamos isso muitas vezes em pessoas que se aproveitam dessa situação e violentam nossos corpos.
- Quando não me dão permissão para ir a uma festa, fujo e nem sempre encontro boas amizades;
- Busco companhias e afetos que nem sempre são os mais adequados;
- Minha mãe e meu pai foram trabalhar na Costa Rica e me deixaram sozinha com meus três irmãos e sem nenhum dinheiro para a comida;
- Gostaria de falar sobre coisas que acontecem comigo: que fiquei menstruada; que estou gostando de um garoto... Mas, meus pais não gostam de falar sobre isso;
- Fiquei grávida aos 14 anos; tinha que trabalhar para dar de comer ao meu filho e me manter.
A verdade é que vivemos rejeições, humilhações, insultos por estar nessa situação e isso nos faz sentir muito triste; às vezes nossa vida não tem sentido...
- Estou cansada de tantas coisas que acontecem em minha casa; decidi fugir. Um homem me ofereceu ajuda em troca de tocar meus seios;
- Devido à situação que eu vivia, saía muito de mina casa e bebia; minha família tinha vergonha de mim;
 - Me sentava nas suas pernas; me beijava… Eu sentia muito medo; porém, essa era a única maneira que eu tinha para sobreviver;
- Um dia, um homem abusou de mim; cheguei em casa com dores. Depois, tive que voltar lá, pois em minha casa não tinha nada o que comer;
- Eu perguntei a uma garota vendedora, amiga minha, se eu era má; ela me dizia que não. Porém, eu acreditava que sim, porque meu padrasto dormia comigo escondido de minha mãe.

Alguns homens acreditam que nós, quando nos tornamos adolescentes, somos sua propriedade e se aproveitam da situação
- Os homens acreditam que por ser mais velhos e ter dinheiro têm mais poder e que nós, vendedoras; temos que fazer o que eles nos falam;
 - Me sinto como alguém que não vale nada; em mina vida senti que as pessoas mais velhas sempre me chantagearam;
 - Tenho que estar disposta a fazer o que os clientes querem;
 - Um dia, uma mulher nos maquiou; nos vestiu com roupas apertadas e curtas; disse que ia cobrar e nos daria uma parte. Mas, não foi assim; tivemos que ficar com seu chefe sem ganhar nada...;
- Eu estava sozinha com minha dor depois que esse homem me usou;
- Me sinto como uma marionete, movida para todos os lados… E todos riem;
- Muitas vezes, mesmo depois de me manusear, se eu não fizesse o que ele queria, não me pagava e me dizia que não sirvo para nada;
 - Me tornei uma escrava desse homem. Ele não me deixa sair; tenho que fazer tudo o que ele diz;
  -É muito difícil sentir-se usada. Na escola, alguns professores nos reprovam para aproveitar-se de nós.
 Sentimos nojo, vergonha e, às vezes, acreditamos que é por nossa culpa que os homens nos desrespeitam
- Tentei matar-me em varias ocasiões, porque não me sinto bem assim…;
- Já não me sinto a mesma; me sinto suja e não me dá vontade de sair; porém, tenho que ir às ruas vender...;
 - Já não posso continuar no colégio; fico sozinha com minhas quatro letras;
 - Na rua, riem de mim. Me dizem: "Lá vai a raposa…”, "Quanto? Quanto?”. E isso me dá tanta vergonha, que, depois, choro sozinha;
- Cheguei a pensar que tudo havia acontecido por minha culpa.
 Também temos sonhos... Com o teu apoio, podemos avançar.
 - Minha meta é ser uma profissional para ajudar as crianças e adolescentes que, da mesma forma que eu, são maltratadas;
 - Minha vida mudou; conheci outras garotas que viviam a mesma situação que eu... Fomos escutadas, apoiadas e pudemos sair dessa situação;
 - Pude superar meus medos; aprendi a valorizar-me como mulher; estou estudando e espero seguir adiante com meus sonhos e metas;
 - Aprendi a ser forte; a não me calar diante do abuso ou do maltrato; a não ter medo dos homens;
- Hoje em dia sou uma pessoa com espírito de superação, com vontade de superar tudo e ir avante com mina vida;
 - Agora, terminei meus estudos técnicos em computação e quero estudar mais;
- Gostaria de transmitir nossa experiência para que outras não sejam exploradas;
- Hoje, me sinto mais segura daquilo que quero e desejo; conheço mais meus direitos;
- Me sinto orgulhosa porque aprendi a proteger-me com meus próprios meios. Tenho uma vida nova. Estou estudando.
 USAR, COMPRAR, FORÇAR SEXUALMENTE UMA MENINA, MENINO OU ADOLESCENTE VIOLA SEUS DIREITOS, ESTRAGA SUAS VIDAS E É UM DELITO.
TEMOS QUE DIZER NÃO À EXPLORAÇÃO SEXUAL COMERCIAL!
E NUNCA TEMOS QUE CHAMÁ-LA DE PROSTITUIÇÃO INFANTIL, PORQUE AS MENINAS, MENINOS NÃO SE PROSTITUEM; ELES SÃO EXPLORADOS.

Fonte: Adital

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