"As mulheres estão se tornando o motor de uma mudança
política, porque podem imaginar um outro modelo social depois que o masculino,
que já tem séculos de idade, entrou em crise". Alain Touraine está
convencido de que os casos, pequenos ou grandes, de liderança feminina nas
contestações estão destinados a se multiplicar. "Há casos marginais e
outros mais centrais, mas também observamos a aparição de novas vozes na cena
pública", diz o sociólogo francês que publicou há alguns anos O mundo das
mulheres (Vozes, 2006).
A reportagem é de Anais Ginori, publicada no jornal La
Repubblica, 30-07-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Mulheres também lideram os protestos?
Entretanto, é preciso enfatizar que não é um fenômeno
completamente novo. Uma das revoltas francesas mais famosas foi liderada por
Joana d'Arc. No passado, já existiram muitas personagens femininas de ruptura e
de desafio ao poder existente. Portanto, prestemos atenção para não cair em
preconceitos ou estereótipos fáceis.
No entanto, o senhor prevê um novo protagonismo.
Estamos em uma fase histórica propícia às mulheres. Nos
movimentos estudantis, por exemplo, no Irã como no Chile, as jovens estão na
vanguarda porque já são maioria nas universidades. As mulheres não só
participam, mas também trazem para dentro desses protestos o tema da paridade.
É um processo que avança há décadas no Ocidente, enquanto em outros lugares é
mais recente.
Há uma diferença com as reivindicações lideradas por vozes
masculinas?
Isso é bobagem. Não acredito em uma psicologia feminina predeterminada
que possa imprimir uma diferença "natural". As características, no
mínimo, são o fruto de uma construção social e como tais não deve ser
assimiladas ao sexo, mas sim ao contexto em que se produzem. A verdadeira
diversidade das mulheres vem da experiência da qual são portadoras.
De que experiência o senhor está falando?
As mulheres foram encerradas durante séculos no âmbito
privado. A sua irrupção no espaço político é o fim de uma vistosa ausência.
Elas são portadoras, não por características psicológicas, mas sim históricas,
de um novo interesse pela esfera pública, justamente por serem tradicionalmente
excluídas.
E em nome desse passado elas estariam hoje mais prontas para
levantar as barricadas?
Os homens esgotaram a sua capacidade de imaginar um mundo
novo, representam um modelo político velho. As mulheres são, por assim dizer,
avantajadas porque hoje fazer política significa reconciliar público e privado.
As reivindicações femininas são globais, têm um discurso mais inclusivo.
O mundo será mudado pelas mulheres?
É um processo longo e que não devemos avaliar com os olhos
do passado. Os homens são revolucionários, as mulheres são democráticas. Elas
são capazes de elaborar projetos de reforma da sociedade. Comprometem-se com a
defesa da liberdade, igualdade, solidariedade. Também são as primeiras vítimas
das ditaduras, dos abusos, das injustiças. E, como tais, têm mais interesse em
imaginar uma mudança. Não para si mesmas, mas para todos.
Fonte: IHU
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