As irmãs dizem não ver contradição em abraçar a fé católica ao mesmo tempo em que se abrem a questionamentos de certos ensinamentos da Igreja baseadas em novas informações ou em novas experiências.
As religiosas norte-americanas estão se preparando para se
reunir em assembleia em St. Louis na próxima semana para uma reunião crucial na
qual tentarão decidir como responder a uma severa crítica à sua lealdade
doutrinal emitida há alguns meses pelo Vaticano – um relatório que levou os
católicos romanos de todo o país a se mobilizarem pela defesa das religiosas.
A reportagem é de Laurie Goodstein, publicada no jornal The
New York Times, 28-07-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
As religiosas irão avaliar se devem cooperar com os três
bispos nomeados pelo Vaticano para supervisionar a revisão da sua organização,
a Leadership Conference of Women Religious, que representa cerca de 80% das
ordens religiosas católicas femininas dos Estados Unidos.
A Leadership Conference diz que está considerando ao menos
seis opções, que vão desde se submeter benevolentemente à intervenção até a
formação de uma nova organização independente do controle vaticano, assim como
outras possíveis ações que se encontram entre esses polos.
Essa que é, essencialmente, uma disputa de poder entre as
religiosas e a hierarquia da Igreja tem sido construída há décadas, dizem os
estudiosos da Igreja. Estão em xeque questões de obediência e de autonomia, do
que significa ser um fiel católico e de entendimentos diferentes sobre o
Concílio Vaticano II.
A irmã Pat Farrell, presidente da Leadership Conference,
disse em uma entrevista que o Vaticano parece considerar o questionamento como
um desafio, enquanto as irmãs o veem como uma forma de fidelidade.
"Nós temos uma perspectiva diferente sobre a
obediência", disse a Ir. Farrell. "O nosso entendimento é de que
precisamos continuar respondendo aos sinais dos tempos, e as novas questões e
problemas que surgem nas complexidades da vida moderna não são algo que vemos
como uma ameaça".
Esses mesmos conflitos perpassam a Igreja Católica em geral.
Quase 50 anos depois do início do Vaticano II, que se destinava a abrir a
Igreja ao mundo moderno e a responder aos "sinais dos tempos", a
Igreja está gravemente polarizada entre uma ala progressista ainda ansiosa pela
mudança e pela reforma, e um flanco tradicionalista focado no retorno do que
veem como fundamentos doutrinais.
As irmãs foram pegas na correnteza. A maioria delas passou
suas vidas servindo aos doentes, aos pobres, crianças e imigrantes – e não
envolvidas em batalhas sobre teologia. Mas quando algumas irmãs depois do
Vaticano II começaram a questionar as proibições eclesiais sobre o serviço das
mulheres como sacerdotisas, o controle de natalidade artificial ou a aceitação
das relações entre pessoas do mesmo sexo, suas ordens religiosas não encerraram
essas discussão nem trataram-nas como apostasia. De fato, elas continuaram
insistindo em seu direito de debater e de desafiar o ensino da Igreja, o que
resultou na reprovação do Vaticano.
O ex-presidente do escritório doutrinal da Igreja, o cardeal
William J. Levada, disse depois da sua última reunião com as lideranças das
religiosas em junho, pouco antes de se aposentar, que elas deveriam considerar
a dura avaliação do seu escritório como "um convite à obediência".
"Eu admiro os religiosos e as religiosas", disse o
cardeal Levada em uma entrevista ao National Catholic Reporter. "Mas, se
eles não são pessoas que acreditam e expressam a fé da Igreja, as doutrinas da
Igreja, então eu acho que eles estão deturpando quem eles são e o que eles
deveriam ser".
As irmãs dizem não ver contradição em abraçar a fé católica
ao mesmo tempo em que se abrem a questionamentos de certos ensinamentos da
Igreja baseadas em novas informações ou em novas experiências. A Leadership
Conference não se posicionou em favor da ordenação de mulheres ou da aceitação
de relações gays, mas discutiu tais assuntos em seus encontros. Seus membros
insistem que a discussão aberta da doutrina da Igreja não é apenas um direito
seu, mas também é algo saudável para a Igreja.
Eles afirmam que a sua abordagem não é diferente da de
muitos padres e leigos católicos, não apenas nos Estados Unidos. Como prova,
elas citam mensagens de apoio que receberam de ordens religiosas católicas
masculinas e femininas de toda a Europa, Ásia e América Latina – assim como dos
Estados Unidos.
"Nós fazemos os nossos votos, mas a nossa obediência
não é cega", disse uma madre superiora, que, assim como outras, não quis
se identificar enquanto o futuro da Leadership Conference está no limbo.
"A obediência vem da escuta".
O Vaticano II levou a mudanças dramáticas agora dadas por
óbvia por muitos católicos: a permissão do culto nas línguas locais, em vez só
do latim, o incentivo à participação dos leigos e a cooperação com outras
Igrejas e fés.
O Concílio também aprovou um documento, Perfectae Caritatis,
que instruiu homens e mulheres das ordens religiosas a estudarem os fundadores
e as fontes originais de suas ordens, e a usar essa inspiração para reavaliar e
renovar a sua missão. As irmãs afirmam que abraçaram essa instrução em seu
coração.
Fonte: Ihu
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