segunda-feira, 30 de julho de 2012

Religiosas refletem sobre como responder à severa repreensão vaticana


As irmãs dizem não ver contradição em abraçar a fé católica ao mesmo tempo em que se abrem a questionamentos de certos ensinamentos da Igreja baseadas em novas informações ou em novas experiências.

As religiosas norte-americanas estão se preparando para se reunir em assembleia em St. Louis na próxima semana para uma reunião crucial na qual tentarão decidir como responder a uma severa crítica à sua lealdade doutrinal emitida há alguns meses pelo Vaticano – um relatório que levou os católicos romanos de todo o país a se mobilizarem pela defesa das religiosas.
A reportagem é de Laurie Goodstein, publicada no jornal The New York Times, 28-07-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
As religiosas irão avaliar se devem cooperar com os três bispos nomeados pelo Vaticano para supervisionar a revisão da sua organização, a Leadership Conference of Women Religious, que representa cerca de 80% das ordens religiosas católicas femininas dos Estados Unidos.
A Leadership Conference diz que está considerando ao menos seis opções, que vão desde se submeter benevolentemente à intervenção até a formação de uma nova organização independente do controle vaticano, assim como outras possíveis ações que se encontram entre esses polos.
Essa que é, essencialmente, uma disputa de poder entre as religiosas e a hierarquia da Igreja tem sido construída há décadas, dizem os estudiosos da Igreja. Estão em xeque questões de obediência e de autonomia, do que significa ser um fiel católico e de entendimentos diferentes sobre o Concílio Vaticano II.
A irmã Pat Farrell, presidente da Leadership Conference, disse em uma entrevista que o Vaticano parece considerar o questionamento como um desafio, enquanto as irmãs o veem como uma forma de fidelidade.
"Nós temos uma perspectiva diferente sobre a obediência", disse a Ir. Farrell. "O nosso entendimento é de que precisamos continuar respondendo aos sinais dos tempos, e as novas questões e problemas que surgem nas complexidades da vida moderna não são algo que vemos como uma ameaça".
Esses mesmos conflitos perpassam a Igreja Católica em geral. Quase 50 anos depois do início do Vaticano II, que se destinava a abrir a Igreja ao mundo moderno e a responder aos "sinais dos tempos", a Igreja está gravemente polarizada entre uma ala progressista ainda ansiosa pela mudança e pela reforma, e um flanco tradicionalista focado no retorno do que veem como fundamentos doutrinais.
As irmãs foram pegas na correnteza. A maioria delas passou suas vidas servindo aos doentes, aos pobres, crianças e imigrantes – e não envolvidas em batalhas sobre teologia. Mas quando algumas irmãs depois do Vaticano II começaram a questionar as proibições eclesiais sobre o serviço das mulheres como sacerdotisas, o controle de natalidade artificial ou a aceitação das relações entre pessoas do mesmo sexo, suas ordens religiosas não encerraram essas discussão nem trataram-nas como apostasia. De fato, elas continuaram insistindo em seu direito de debater e de desafiar o ensino da Igreja, o que resultou na reprovação do Vaticano.
O ex-presidente do escritório doutrinal da Igreja, o cardeal William J. Levada, disse depois da sua última reunião com as lideranças das religiosas em junho, pouco antes de se aposentar, que elas deveriam considerar a dura avaliação do seu escritório como "um convite à obediência".
"Eu admiro os religiosos e as religiosas", disse o cardeal Levada em uma entrevista ao National Catholic Reporter. "Mas, se eles não são pessoas que acreditam e expressam a fé da Igreja, as doutrinas da Igreja, então eu acho que eles estão deturpando quem eles são e o que eles deveriam ser".
As irmãs dizem não ver contradição em abraçar a fé católica ao mesmo tempo em que se abrem a questionamentos de certos ensinamentos da Igreja baseadas em novas informações ou em novas experiências. A Leadership Conference não se posicionou em favor da ordenação de mulheres ou da aceitação de relações gays, mas discutiu tais assuntos em seus encontros. Seus membros insistem que a discussão aberta da doutrina da Igreja não é apenas um direito seu, mas também é algo saudável para a Igreja.
Eles afirmam que a sua abordagem não é diferente da de muitos padres e leigos católicos, não apenas nos Estados Unidos. Como prova, elas citam mensagens de apoio que receberam de ordens religiosas católicas masculinas e femininas de toda a Europa, Ásia e América Latina – assim como dos Estados Unidos.
"Nós fazemos os nossos votos, mas a nossa obediência não é cega", disse uma madre superiora, que, assim como outras, não quis se identificar enquanto o futuro da Leadership Conference está no limbo. "A obediência vem da escuta".
O Vaticano II levou a mudanças dramáticas agora dadas por óbvia por muitos católicos: a permissão do culto nas línguas locais, em vez só do latim, o incentivo à participação dos leigos e a cooperação com outras Igrejas e fés.
O Concílio também aprovou um documento, Perfectae Caritatis, que instruiu homens e mulheres das ordens religiosas a estudarem os fundadores e as fontes originais de suas ordens, e a usar essa inspiração para reavaliar e renovar a sua missão. As irmãs afirmam que abraçaram essa instrução em seu coração.
Fonte: Ihu

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