Uma peça publicitária da marca de preservativos Prudence
causou enorme polêmica no Facebook e foi excluída após permanecer cerca de três
semanas no ar. Em formato de tabela calórica, o viral intitulado "Dieta do
Sexo" dizia que tirar a roupa de uma mulher queima 10 calorias, enquanto
fazer o mesmo sem o consentimento da parceira consome 190 calorias.
A maior parte dos mais de 1.000 internautas que postaram
comentários na página da Prudence do Facebook interpretaram o viral como um
incentivo à violência sexual contra a mulher. Até a manhã da segunda-feira
(30), a peça publicitária já havia sido compartilhada por mais de 2.500
pessoas.
Após toda a polêmica,
a DKT Internacional, detentora da marca Prudence, retirou a peça publicitária
da página no Facebook e pediu desculpas aos consumidores. Apesar disso, o
Conselho Nacional de Autorregulação Publicitária (Conar) informou ao UOL que já
abriu um processo ético contra propaganda.
“Nunca mais compro,
nunca mais uso”, comentava uma das internautas enquanto a peça estava no ar.
“Me sinto enojado, mais que isso, enquanto homem que tem mãe, irmã e queridas
amigas e que sonha com uma sociedade mais igualitária”, dizia outra pessoa.
“Propaganda ridícula. Boicote a marca já. Sexo sem consentimento é estupro” era
outro comentário encontrado na página.
Para a minoria das pessoas que postaram opiniões, tudo não
passava de “brincadeira”. “Estuprador não usa camisinha”, afirmava um
internauta. Para outro, não se tratava de apologia, nem de brincadeira; apenas
publicidade: "Técnica manjada de criar polêmica para vender mais. E pior
que dá certo".
"Retrocesso"
Para a
superintendente de Direitos das Mulheres da Secretaria de Estado de Assistência
Social e Direitos Humanos (RJ), Ângela Fontes, a peça publicitária incentiva a
violência sexual contra a mulher. Para Fontes, a peça publicitária da Prudence
é um “retrocesso’.
"Certamente há
um incentivo explícito para o uso da violência contra a mulher no momento da
relação sexual. A peça publicitária é um retrocesso no que diz respeito ao
comportamento dos homens em suas relações afetivas.
Relação sexual sem o consentimento da mulher é estupro. A
associação de atos violentos ao suposto "benefício para a saúde
masculina" nos causa indignação. Desta forma, a Superintendência dos
Direitos das Mulheres se manifesta veementemente contra a indução de todas as
formas de violência, e neste caso, em especial, a violência sexual contra as
mulheres", disse Ângela Fontes, também presidenta do Conselho Estadual de
Direitos da Mulher (CEDIM).
Coordenadora da ONG
Cepia, que atua em defesa dos direitos humanos da mulher, a advogada Leila
Linhares achou a peça “lamentável”.
“Isso [a propaganda] é uma indução para que haja uma violência sexual. É
a mulher perdendo a autonomia se quer decidir sobre o ato sexual e o incentivo
à pratica de violência sexual. Uma fábrica de preservativos deveria fazer
propaganda mais instrutiva”, declarou.
A advogada declarou
ainda que espera atitude contra a peça publicitária. “É lamentável que no
momento em que as mulheres estão galgando sua cidadania, sendo reconhecidas
pela capacidade profissional, seja veiculada uma propaganda como essa”,
concluiu.
“Mau gosto”
Com atuação em casos
de violência contra a mulher, o promotor de Justiça Sauvei Lai acredita que os
criadores da campanha da Prudence não agiram com a intenção de fazer apologia ao
estupro, mas acabaram criando uma peça publicitária de mau gosto. “Esses publicitários menosprezaram um fato
gravíssimo na sociedade brasileira que é a violência sexual contra a mulher,
que muitas vezes acontece dentro da própria casa cometido por maridos, tios,
padrastos. Não dá para dizer que é um crime de apologia porque não foi essa a
intenção dos criadores da propaganda, mas foi sem dúvida uma brincadeira de
muito mau gosto”, declarou.
Outro lado
Procurada pela reportagem do UOL, a DKT Internacional,
detentora da marca Prudence, informou que o conteúdo da peça divulgada não é de
autoria da empresa e vem sendo publicado de forma viral desde 2007. Segundo a
nota, a companhia apenas utilizou o material propagado e desenvolveu a arte,
veiculando-a no Facebook.
"Apesar de não
ser a criadora do texto, a DKT afirma não se isentar da responsabilidade de
avaliar os conteúdos publicados em sua página na rede social, e por isso
lamenta a não percepção de possíveis ofensas originadas pelo material",
diz a empresa.
Ainda de acordo com a
nota, a intenção da peça era remeter a uma “brincadeira entre casais”,
retratando uma “insistência inofensiva do parceiro” sem qualquer alusão a
qualquer forma de violência. A DKT disse não ter percebido, “lamentavelmente”,
a dupla interpretação que o anúncio poderia conter.
Leia matéria
completa: Propaganda de camisinha que
incentiva violência contra mulher causa polêmica no Facebook (Uol notícias -
30/07/2012)
Fonte: uol
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