quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Marca de camisinha retira do ar publicidade que faz apologia a estupro


Uma peça publicitária da marca de preservativos Prudence causou enorme polêmica no Facebook e foi excluída após permanecer cerca de três semanas no ar. Em formato de tabela calórica, o viral intitulado "Dieta do Sexo" dizia que tirar a roupa de uma mulher queima 10 calorias, enquanto fazer o mesmo sem o consentimento da parceira consome 190 calorias.


A maior parte dos mais de 1.000 internautas que postaram comentários na página da Prudence do Facebook interpretaram o viral como um incentivo à violência sexual contra a mulher. Até a manhã da segunda-feira (30), a peça publicitária já havia sido compartilhada por mais de 2.500 pessoas.
 Após toda a polêmica, a DKT Internacional, detentora da marca Prudence, retirou a peça publicitária da página no Facebook e pediu desculpas aos consumidores. Apesar disso, o Conselho Nacional de Autorregulação Publicitária (Conar) informou ao UOL que já abriu um processo ético contra propaganda.
 “Nunca mais compro, nunca mais uso”, comentava uma das internautas enquanto a peça estava no ar. “Me sinto enojado, mais que isso, enquanto homem que tem mãe, irmã e queridas amigas e que sonha com uma sociedade mais igualitária”, dizia outra pessoa. “Propaganda ridícula. Boicote a marca já. Sexo sem consentimento é estupro” era outro comentário encontrado na página.

Para a minoria das pessoas que postaram opiniões, tudo não passava de “brincadeira”. “Estuprador não usa camisinha”, afirmava um internauta. Para outro, não se tratava de apologia, nem de brincadeira; apenas publicidade: "Técnica manjada de criar polêmica para vender mais. E pior que dá certo".
 "Retrocesso"
 Para a superintendente de Direitos das Mulheres da Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos (RJ), Ângela Fontes, a peça publicitária incentiva a violência sexual contra a mulher. Para Fontes, a peça publicitária da Prudence é um “retrocesso’.
 "Certamente há um incentivo explícito para o uso da violência contra a mulher no momento da relação sexual. A peça publicitária é um retrocesso no que diz respeito ao comportamento dos homens em suas relações afetivas.
Relação sexual sem o consentimento da mulher é estupro. A associação de atos violentos ao suposto "benefício para a saúde masculina" nos causa indignação. Desta forma, a Superintendência dos Direitos das Mulheres se manifesta veementemente contra a indução de todas as formas de violência, e neste caso, em especial, a violência sexual contra as mulheres", disse Ângela Fontes, também presidenta do Conselho Estadual de Direitos da Mulher (CEDIM).
 Coordenadora da ONG Cepia, que atua em defesa dos direitos humanos da mulher, a advogada Leila Linhares achou a peça “lamentável”.  “Isso [a propaganda] é uma indução para que haja uma violência sexual. É a mulher perdendo a autonomia se quer decidir sobre o ato sexual e o incentivo à pratica de violência sexual. Uma fábrica de preservativos deveria fazer propaganda mais instrutiva”, declarou.
 A advogada declarou ainda que espera atitude contra a peça publicitária. “É lamentável que no momento em que as mulheres estão galgando sua cidadania, sendo reconhecidas pela capacidade profissional, seja veiculada uma propaganda como essa”, concluiu.

“Mau gosto”
 Com atuação em casos de violência contra a mulher, o promotor de Justiça Sauvei Lai acredita que os criadores da campanha da Prudence não agiram com a intenção de fazer apologia ao estupro, mas acabaram criando uma peça publicitária de mau gosto.  “Esses publicitários menosprezaram um fato gravíssimo na sociedade brasileira que é a violência sexual contra a mulher, que muitas vezes acontece dentro da própria casa cometido por maridos, tios, padrastos. Não dá para dizer que é um crime de apologia porque não foi essa a intenção dos criadores da propaganda, mas foi sem dúvida uma brincadeira de muito mau gosto”, declarou.

Outro lado

Procurada pela reportagem do UOL, a DKT Internacional, detentora da marca Prudence, informou que o conteúdo da peça divulgada não é de autoria da empresa e vem sendo publicado de forma viral desde 2007. Segundo a nota, a companhia apenas utilizou o material propagado e desenvolveu a arte, veiculando-a no Facebook.
 "Apesar de não ser a criadora do texto, a DKT afirma não se isentar da responsabilidade de avaliar os conteúdos publicados em sua página na rede social, e por isso lamenta a não percepção de possíveis ofensas originadas pelo material", diz a empresa.
 Ainda de acordo com a nota, a intenção da peça era remeter a uma “brincadeira entre casais”, retratando uma “insistência inofensiva do parceiro” sem qualquer alusão a qualquer forma de violência. A DKT disse não ter percebido, “lamentavelmente”, a dupla interpretação que o anúncio poderia conter.
 Leia matéria completa:  Propaganda de camisinha que incentiva violência contra mulher causa polêmica no Facebook (Uol notícias - 30/07/2012)



Fonte: uol

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